Sectores de atividade capazes de provocar mudanças importantes rumo ao desenvolvimento do País
Especialistas já identificaram os sectores de atividade capazes de provocar mudanças importantes rumo ao desenvolvimento do País. Unânimes, apontam para grandes possibilidades de sucesso dos negócios ao nível dos Transporte e Logística, Energia, Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), Mercado de Capitais, Agro-negócio, Banca, Seguros e Têxtil.
Se formos pelo número de vezes que estes temas são mencionados na imprensa ao longo do ano, o que nos permite identificar desde logo as notícias que vão dando conta de investimentos (potenciais ou presentes), sobressaem as notícias que apontam a banca, os seguros e o sector energético, especialmente as renováveis, segundo Pedro Correia, Country Manager da Flying Submarine, empresa líder do seu segmento em Moçambique, na área da monitorização dos media (televisão, rádio e imprensa escrita).
Com um crónico défice de produção alimentar – o País importar tudo o que consome –, e com uma população a crescer a um ritmo próximo dos 2,5% ao ano, o agro-negócio tem se notabilizado entre as áreas mais promissoras, seja para os pequenos ou para os grandes empreendedores.
O destaque vai para a produção do frango, por exemplo, que foi multiplicada de 6000 unidades, há uma década, para os atuais 100 000 por ano, nível muito próximo de cobrir o consumo interno e que já faz os produtores sonharem com excedentes para a exportação num futuro próximo.
O investimento na produção da banana é também uma grande mais-valia da atualidade. Nos anos passados, chegou a assegurar 40 milhões de dólares só em exportações de apenas 22 empresas da cadeia Bananalândia, que empregam cerca de 2500 pessoas. Relativamente nova, a produção da macadâmia é também tão rentável e exposta aos mercados internacionais que vê aumentar consideravelmente o interesse dos investidores nacionais e estrangeiros (principalmente holandeses e sul-africanos), espalhados por vários pontos de produção do norte ao sul do País.
Ao mesmo tempo, Moçambique assiste ao aumento de iniciativas que visam dar força ao potencial do sector do agro-negócio, com destaque para a GAPI-SI que, só em 2017, investiu cerca de 500 milhões de meticais financiando, em 80 distritos, mais de 300 negócios de pequenas empresas, tendo outras beneficiado de assistência técnica em vários domínios.
Ainda nesta área, há espaço para investir com sucesso na cadeia de processamento (basta olhar para a projeção do investimento português Sumol+Compal), que está atualmente em défice.
Energia
O défice de acesso a energia em Moçambique, estimado em cerca de 70%, abre um mercado que desperta cada vez maior interesse dos investidores nas renováveis. O contexto é oportuno, por ser dominado pelo processo de transição energética imposto pela comunidade internacional em nome do equilíbrio ambiental. Hoje assiste-se a uma espécie do fim do monopólio da empresa pública Eletricidade de Moçambique (EDM), com a entrada de muitos provedores privados, parte dos quais parceiros da própria EDM.
A E&M tem contado a história das empresas do ramo das renováveis no caderno Especial Energias Renováveis e a experiência mostra que, mesmo sendo empresas de pequena dimensão, com 10 a 50 funcionários, apostam em investimentos que variam entre 500 mil e 1 milhão de dólares (conforme a dimensão do projeto). E porque são fornecedores de energia (sobretudo solar) às populações mais pobres, criam facilidades de pagamento faseadas que variam entre 300 e 700 meticais mensais por períodos que vão até dois anos e meio. Ainda assim, relatam benefícios financeiros substanciais, porque o mercado ainda é virgem.
Banca e Mercado de Capitais
Um dos sinais de que o mercado de capitais cresce a olhos vistos e constitui uma oportunidade de investimento a tomar em consideração na atualidade é o rápido crescimento da capitalização bolsista da Bolsa de Valores de Moçambique (BVM), que cresceu de 61,8 mil milhões de meticais para 126 mil milhões de meticais em 2021.
Sobre as opções de investimento neste mercado, o Presidente do Conselho de Administração da Bolsa de Valores de Moçambique (BVM), Salim Valá, fez menção à possibilidade de realizar empreendimentos de sucesso nos diversos produtos negociados em bolsa, nomeadamente acções, obrigações e papel comercial.
Valá referiu-se também à possibilidade de diversificação dos investimentos, vantagens fiscais e prestígio pessoal de ser acionista de grandes empresas e/ou grandes projetos. Ou seja, qualquer pessoa pode tornar-se empreendedora e investir em empresas rentáveis que garantam retornos importantes.
Por exemplo, hoje, quem pretender investir no capital da Cervejas de Moçambique, onde cada ação está avaliada em 2 meticais, se comprar 5000 ações vai gastar 10 000 meticais. Mas se o valor das ações, por hipótese, duplicar em resposta ao aumento das vendas, no fim do exercício este investidor recebe, em dividendos, 20 000 meticais. Apesar de rentável, este mercado tem riscos associados, obviamente.
“Trata-se de uma possibilidade real que o mercado moçambicano já oferece, apesar de a BVM ser de reduzida dimensão, com pouca liquidez e profundidade. Mas não podemos perder de vista que tem, por isso, muito espaço para crescer, inovar e expandir-se nos próximos 20 anos”, argumentou o PCA da BVM.
Em relação aos riscos, Valá aconselha os potenciais investidores do mercado de capitais a informarem-se, antes de avançar, sobre aspetos como o comportamento dos mercados acionista e obrigacionista, compra de ações cotadas na bolsa, monitoramento da execução da sua ordem, penalizações no caso de desinvestimentos, principais tendências das empresas cotadas na bolsa, etc.
“Há empresas que estão em franco crescimento num contexto de crise económica, como as ligadas à saúde, tecnologia, produção alimentar, logística de produção e distribuição e serviços financeiros”, enfatizou Salim Valá, elucidando as grandes oportunidades de investimento que há neste mercado.
Entre as grandes empresas cotadas na BVM, além da Cervejas de Moçambique (CDM), destaca-se a Hidroelétrica de Cahora Bassa (HCB), a Companhia Moçambicana de Hidrocarbonetos (CMH) e a Empresa Moçambicana de Seguros (EMOSE).
À semelhança do mercado de capitais, a banca é tida como canal de financiamento, mas é, também, uma oportunidade de negócio rentável em Moçambique.
Prova disso é o facto de os bancos apresentarem balanços estáveis mesmo em tempo de crise. Por exemplo, em junho do ano passado, em pleno tempo de pandemia, o ativo total do sector bancário moçambicano ascendeu a 797,9 mil milhões de meticais, um crescimento de 1,48% e 11,43%, em relação a dezembro e junho de 2020. Será também por isso que se assiste, nos últimos anos, à entrada de novos operadores bancários no mercado, como aconteceu com o antigo Banco Único (agora NedBank) e o Acess Bank que comprou o BancABC.
Transportes e Logística, e as TIC
Investir em Transporte e Logística é oneroso, mas com muito espaço para crescer graças à cadeia da indústria do gás que já dá sinais de avanço em Cabo Delgado, segundo o Partner Advisory da consultora Ernst & Young, Bruno Dias. Estando também relacionada com o eventual aumento da produção alimentar, o grande obstáculo aqui é, no entanto, a disponibilidade de infraestruturas de mobilidade, nomeadamente estradas, pelo que o Governo é chamado a fazer a sua parte para o crescimento deste sector.
Já as TIC são o futuro, basta olhar para o suporte que dão à eficiência dos serviços em todas as áreas, incluindo os novos investimentos em startups que revolucionam a forma de estar das empresas e da sociedade, cuja aposta já move o Parque da Ciência e Tecnologia da Maluana a ambicionar tornar-se no novo Pólo de investimentos num futuro breve.
Ainda na área das TIC, e de olho na nova dinâmica da atividade empresarial, a consultora Ernst & Young (EY) está a capacitar jovens informáticos que já trabalham em projetos de peso dentro e fora do País.
A E&M conversou com Lázaro Júnior, jovem formado em engenharia informática e que integra o quadro técnico da EY nessa área. Explicou que ele e os seus oito colegas moçambicanos fornecem serviços de análise de dados, ciber-segurança e robótica, sendo que, neste momento, um dos seus maiores clientes de peso é o Governo de Portugal, para o qual estão a desenvolver meios que ajudam a gerir os fundos relacionados com o combate à pandemia do covid-19. Garante que a sua prestação tem merecido uma apreciação positiva do Executivo português.
Patrícia Marques, da EY, esclareceu que, em Moçambique, “ainda não há muito mercado para serviços desta natureza, mas vai começar a haver. E é por isso que a equipa de novos técnicos de tecnologias está a crescer e estamos preparados para atender à crescente demanda do mercado”.
Porque a economia não é feita apenas na perspetiva dos grandes empreendimentos, existem estudos que, baseando-se nas características dos mercados de consumo em Moçambique, publicam ideias de investimento que podem ser transformadoras ao nível dos negócios de pequena dimensão. As áreas mais consensuais, em todas as publicações disponíveis, aconselham os potenciais pequenos empreendedores a olharem para atividades como serviços de beleza, serviços gráficos (empresa de design gráfico para fornecer panfletos, anúncios digitais, pósteres e outros materiais visuais para pequenas e médias empresas), serviços de criação de empresas (muito procurados por pessoas que as querem abrir, mas não têm tempo nem paciência para tratar da burocracia), serviços de contabilidade, de limpeza, catering, escola de línguas, etc.
Mas há também que destacar uma tendência recente dos jovens moçambicanos. Começam a manifestar interesse e até a investir em mercados financeiros novos e com retornos elevadíssimos, como o Forex e o cripto moedas, uma área controversa por razões relacionadas com riscos de segurança e falta de regulação e, por isso, desaconselhada pelo Banco de Moçambique.
Apostar, sim! Mas Fazer Bem o ˈTrabalho de Casa’
Estruturalmente, como País, é preciso adicionar na equação do desenvolvimento outros elementos que vão fazer dos negócios a chave da mudança, defende João Gomes, líder da Jason Moçambique.
O especialista introduz este debate questionando: porque é que em concursos como o das 100 Maiores Empresas de Moçambique, da KPMG, são sempre as mesmas empresas no TOP 10 em termos de rentabilidade? Que tipo de investimento os países ricos estão a desenvolver, mas que os pobres não?
O responsável explica que, eventualmente, se vai concluir que os países ricos (com o PIB per capita acima de 15 mil dólares) falharam muito até lá chegar e percorreram um caminho em que aprenderam muito com os erros. Mas, do lado oposto, os países pobres não têm demonstrado capacidade de aprender com os erros.
Enquanto os países ricos disseminam, guardam e partilham a informação sobre os processos bem e malsucedidos do seu percurso, os menos desenvolvidos não têm instituições que o façam. Tudo isto quer dizer que o papel do conhecimento é relevante no mundo do investimento em negócios, ao criar condições para que gerações seguintes de investidores minimizem os riscos de falhar, esclareceu. Entretanto, é errado pensar que se deve enveredar pelo caminho do Copy Paste. O correto é escolher bem quem imitar.
“Se há projetos de sucesso em Moçambique ou na África Austral, é preciso identificá-los, olhar para eles com atenção e tirar lições, mesmo que isso signifique a espionagem industrial, o que implica ser agressivo e buscar a informação a todo o custo. É por isso que os investimentos, sejam a título individual ou institucional, devem ser feitos a longo prazo e não para amanhã. É por isso que os empresários mais bem-sucedidos no mundo são os que investiram depois de estudarem muito e de acompanharem, durante muitos anos, a performance das companhias na cadeia de valor, tal como fizeram os chineses”.
Para João Gomes, o segredo está em conseguir relacionar os três pilares do grande negócio, nomeadamente a atividade agrícola, a transformação e exportação. Como? Buscando a vantagem comparativa natural, acrescentar-lhe conhecimento e depois exportar, como fez, por exemplo, a Etiópia, uma referência de produção e exportação de um produto natural “completamente fora de caixa: flores”. No caso de Moçambique, a matriz de oportunidades vai muito além da agricultura.