EDITORIAL Quando o jornalismo perde

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No Desporto, são eles – nós jornalistas – que interpretam o drama e que são muitas vezes a voz do adepto comum. Há quem não entenda bem esta última parte e outros há que não entendem isto a bem.

Uso muito uma frase que não é minha. «Em Portugal, parece que só os jornalistas é que não percebem de jornalismo.» Normalmente, acrescento-lhe que, em Portugal, também os treinadores de futebol parece que são os únicos que não sabem de futebol.

Felizmente, tivemos pessoas como o Fernando Emílio para explicar a primeira, o que nos deixa tempo livre para debater a segunda. E como temos tempo, deixemos para outro dia essa frase que, creio (não tenho a certeza se não colocava-lhe nome) pertence a um meu conterrâneo de uma vila, agora cidade, da Beira Alta.

Não vou ousar falar do Fernando Emílio como pessoa, pura e simplesmente porque o tempo que passei com ele foi através da sua escrita e não na sua presença.

Para esse efeito há, no passado, diretores de A BOLA mais capazes de abordar o homem. Eu fico-me pelo Jornalista.

Quando nos desaparece alguém tão conhecedor e apaixonado perdemos de forma coletiva. Não se perde apenas uma assinatura, um mero contribuinte para o noticiário, perde-se memória, nalguns casos o único registo histórico de algo. E, sobretudo, uma consciência. Os grandes jornalistas não são apenas aqueles que dão grandes notícias, são também aqueles que relatam com exatidão e a emoção apropriada – ou com a ausência dela – o que acabaram de ver.

São os que analisam os factos, mas não têm medo de dar a conhecer as suas interpretações.

No Desporto, são eles – nós jornalistas – que interpretam o drama de uma vitória ao sprint, de uma corrida épica ao cume do Alpe d’Huez ou de um golo da vitória no último minuto; e que são muitas vezes a voz do adepto comum. Há quem não entenda bem esta última parte e outros há que não entendem isto a bem.

Os últimos textos que me vêm à cabeça do Fernando Emílio são, infelizmente, de um ciclismo português doente, cheio de um vírus chamado doping e que o Fernando Emílio, numa das últimas opiniões que publicou, fez questão de fazer ver de que lado da história estava. E que, claro, não aceitava a batota. Esse é o seu legado como jornalista e, já agora, um legado que a modalidade deve fazer por respeitar e que A BOLA tem obrigação de lembrar.

Em agosto do ano passado, um jornalista foi (muito justamente) homenageado na principal prova nacional da modalidade que cobriu ao longo de uma carreira.

Como disse, falarei apenas do jornalista, mas aposto que isso também dirá muito do homem em causa.

O Fernando Emílio morreu hoje, 10 de maio. A mesma data de Joaquim Agostinho, o outro grande nome do nosso ciclismo.

Não pense que foi erro aquele ‘J’ maiúsculo, a terminar o quarto parágrafo.

Fonte: A Bola

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