Tranquilidade de volta à serra da Gorongosa

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UM grupo de mais de vinte jornalistas de diferentes órgãos de comunicação social, incluindo o Notícias, deslocou-se, semana passada, ao distrito de Gorongosa, província de Sofala, para testemunhar a desactivação das oito posições ocupadas pelas Forças de Defesa e Segurança (FDS) que cercavam o local onde se encontra o líder da Renamo, Afonso Dhlakama.

Na sua deslocação, organizada pelo Ministério da Defesa, os jornalistas escalaram cinco, das oito posições, e o quartel de Santungira, para onde foi levada parte dos efectivos das FDS, no quadro dos entendimentos alcançados entre o Presidente da República, Filipe Nyusi, e Afonso Dhlakama.

Foi possível testemunhar, na região, os ganhos resultantes da trégua, que se traduzem no envolvimento da população na produção e a retoma dos serviços de educação, saúde e comércio nas zonas outrora em conflito militar.

As próprias Forças de Defesa e Segurança, que tomaram a base da Renamo de Santungira, em 2013, também se envolveram na produção agrícola, lavrando uma área de seis hectares, e no fomento pecuário de animais como cabritos e galinhas, uma das bandeiras da região.

A viagem rumo à Gorongosa iniciou nas primeiras horas de quarta-feira, a partir da base aérea, em Maputo, a bordo de uma aeronave militar que os transportou, acompanhados de altas patentes do exército, até à cidade de Chimoio, província de Manica.

Foi uma viagem que se tornou longa demais, de tanta ansiedade que alimentava os jornalistas. E justificava-se, pois queriam chegar o mais rápido possível ao terreno, para constatar e confrontar os dados que constituíam o mote para as acusações levantadas pela liderança da Renamo, ao mais alto nível.

Os profissionais da comunicação social estavam convencidos de que, desta maneira, estariam a fazer a sua parte, contribuindo com o seu trabalho para a construção da confiança de que as partes precisam para dar os passos necessários, definitivos e irreversíveis que irão permitir a conquista da paz efectiva que os moçambicanos tanto merecem.

Tratou-se duma missão patriótica que encheu de orgulho a cada jornalista que fez parte dela, pois permitiu ver “in loco” os benefícios da trégua e sobretudo o rápido crescimento do embrião de convivência política e social, testemunhada pela proliferação de bandeiras de diferentes partidos políticos, em todos os locais visitados.

Da cidade de Chimoio até à serra da Gorongosa, a viagem foi feita de carro, o que permitiu apreciar o grande movimento de camiões ao longo da EN-6 e EN-1, não só de transportadores moçambicanos, mas também do Malawi, Zâmbia e Zimbábwè, que demandam o corredor da Beira.

As obras de reabilitação e ampliação da EN-6 condicionam o trânsito, e foi tendo isso em conta que uma viatura da Polícia seguia em frente da comitiva, para desobstruí-lo e permitir uma rápida passagem da equipa.

Em algum momento, os militares foram obrigados a descer dos carros, para ajudar a desimpedir a via.

Foi embaraçoso passar por aquela situação, mas agradável contemplar que, de facto, Moçambique está de volta ao seu ritmo normal de desenvolvimento económico e social.

ADD// De “Ranger” à blindados

Em Gondola, cerca de 22 quilómetros da cidade de Chimoio, esperavam os jornalistas, no posto policial local, três viaturas militares de assalto, vulgo blindados, que os levariam até à serra da Gorongosa. Aqui, foram informados que teriam que abandonar o conforto dos “Ranger” e seguir naqueles “monstros”.

A odisseia começou no posto administrativo de Kanda. Foi preciso percorrer os cerca de 16 quilómetros até atingir a primeira posição visitada, a de Nharirodza. Esta distância foi percorrida em mais de uma hora, devido aos pedregulhos e subidas acentuadas.

Aqui, os blindados tiveram que “engolir” toda a comitiva, pois os “Ford Ranger” já não podiam continuar. Só foi possível chegar ao destino por volta das 16 horas. Aqui, os jornalistas testemunharam, de facto, a retirada das Forças de Defesa e Segurança, e receberam explicações, confirmando o facto, do Comandante Windi Bedford.

Este oficial superior do Exército disse que, a partir deste ponto, era possível controlar a montanha onde se encontra Afonso Dhlakama e, deste modo, diminuir a movimentação dos seus homens.

Ainda preocupados em tirar o máximo de informações e registo fotográfico, os jornalistas não percebiam que o tempo não estava a seu favor. Foi necessária a voz de comando de Windi Bedford, para todos entrarem nos blindados.

Foi necessário voltar à EN1 e tornar a entrar num outro terreno difícil, para alcançar a segunda posição, de Nhandar, também conhecida por Lourenço, nome de um comerciante da zona. Chegou-se a este local depois das 18 horas. As entrevistas, aqui, foram feitas com recurso à iluminação dos carros e lanternas de celulares, bem como para visualizar algo que fosse.

Nhandar era uma importante posição dos homens da Renamo, antes de ser tomada pelas FDS, e servia, segundo explicação do Comandante Bedford, de sua base logística, constituindo-se numa ponte para o reabastecimento em víveres.

Funcionava no local a Escola Primária do Primeiro Grau de Nhandar, construída com material convencional, antes de ser transformada numa base da Renamo, deixando centenas de crianças sem estudar.

A comitiva foi pernoitar em Nhamadjiwa, onde chegou por volta das 20 horas do mesmo dia. Era a terceira posição visitada pelos jornalistas, que também foi desactivada por ordens do Presidente da República.

Informações obtidas no local indicam que Nhamadjiwa foi uma importante base da Renamo, depois de perder Santungira. Era a partir deste ponto que Afonso Dhlakama dirigia as operações levadas a cabo pelos seus homens armados na região centro do país.

Segundo Windi Uani Bedford, a espinha dorsal da Renamo foi “esmagada” neste local e com a sua tomada pelas FDS, a 26 de Maio de 2016, Dhlakama perdeu a capacidade de dirigir e controlar as operações. A ocupação desta posição, trouxe de volta a tranquilidade à região, tendo sido abertos acessos e instalada energia eléctrica.

Trata-se de uma das posições que comportava a força conjunta de militares e polícias, desactivada a 26 de Junho último, depois da ordem dada por Filipe Nyusi, no dia 25 de Junho, e foi transformada em uma esquadra. É na mesma área, a 1500 metros desta posição, onde se encontra instalado o acampamento da equipa conjunta de monitoria da trégua, composta por oito elementos de altas patentes militares, quatro em representação do Governo e quatro da Renamo, com a missão de verificar o cumprimento do acordado.

ADD// Mapangapanga e Nhautxenda

Na manhã seguinte, quinta-feira, a missão seguiu para mais duas posições desactivadas, nomeadamente Mapangapanga e Nhautxenda, em Vunduzi, bases da Renamo ocupadas pelas FDS durante a perseguição dos seus homens armados.

Mapangapanga é nome de uma árvore que abunda na região e é bastante usada para fazer madeira, enquanto Nhautxenda está relacionado com a abundância de muché na zona.

Esta última base da Renamo era também conhecida por Nhatxepa, nome que se dá a um dos pontos do cume da montanha que se vê pela frente e está constantemente nublado, por se encontrar a uma altitude bastante elevada.

Para além de confirmar a desactivação das posições das FDS, foi possível constatar os benefícios da trégua em curso, que está a espevitar a retoma das actividades produtivas, facilitadas pela abertura das vias de acesso, que decorre, neste momento, empregando a massa juvenil local, envolvida também na colocação de postes de energia eléctrica.

Foi reaberta a Escola Primária de Mapangapanga, que lecciona de 1ª a 5ª classe. Neste estabelecimento de ensino, que funciona debaixo de uma árvore, estão matriculados, no presente ano lectivo, 350 crianças, assistidas por dois professores.

O serviço de saúde está a ser assegurado por uma brigada móvel de técnicos, que garantem assistência sanitária da população. O Governo já está a trabalhar para a instalação de um posto de saúde.

O comércio está a ganhar forma e espaço, com a instalação de pequenas bancas de venda de produtos de higiene e outras quinquilharias, para além de géneros alimentícios.

As necessidades em termos alimentares estão superadas, com a abundância de milho, mapira, mandioca e gergelim, produtos que também estão a ser comercializados a preços aceitáveis, o mesmo acontecendo com cabritos e galinhas que abundantes na região.

Um dos responsáveis locais disse que, no princípio da trégua, foi necessário fazer a distribuição de milho e feijão, para assistir às famílias, porque não haviam produzido nada, por conta do conflito armado. Neste momento, a própria população é que disponibiliza produtos ao mercado.

Foi uma deslocação que não deixou margem para dúvidas, sobre as boas intenções que movem o Presidente da República, Filipe Nyusi, e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, que buscam, a todo custo, uma paz sólida e sem rancores.

A convivência social harmoniosa, testemunhada no seio da população, é também motivo para acreditar que há condições para esquecer o passado triste e enfadonho, praticar o perdão e, juntos, construirmos Moçambique.

ISAIAS MUTHIMBA

Fonte:http://www.jornalnoticias.co.mz/index.php/politica/69347-tranquilidade-de-volta-a-serra-da-gorongosa.html

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