Pluralismo de opinião não deve levar à violência

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A PLURALIDADE de ideias e de opiniões deve ser encarada como um processo natural da evolução do espaço político que se desenvolveu ao longo dos 42 anos de independência nacional e não como pretexto para o recurso à violência.

A tese foi defendida pelo major-general na reserva Mariano Matsinhe, num depoimento sobre a luta de libertação nacional feito semana passada aos oficiais da Polícia de Guarda Fronteira, inserida nas comemorações do 42º aniversário da independência nacional, assinalado a 25 de Junho.

O orador do tema “A unidade nacional”, Mariano Matsinhe afirmou que o desenvolvimento económico, social e cultural do país está alicerçado na paz. Disse que em Moçambique existem fóruns e instituições, tais como a Assembleia da República, onde as ideias podem ser debatidas de forma aberta. 

“Não há necessidade de guerra para fazer valer as nossas ideias. Há espaço para o debate de reflexões em instituições e fóruns próprios, como é o caso da Assembleia da República. Se os pensamentos forem bons, serão aceites por todos. É natural que num país como o nosso, onde ainda prevalece o analfabetismo e interferências externas, ainda haja contradições”, disse.

Matsinhe fez uma apreciação positiva às principais conquistas do país nos 42 anos de independência, destacando a paz, a democracia e a massificação da educação, que levou a uma redução drástica da taxa de analfabetismo, estimada em 93 por cento, em 1975.

“O atraso de Moçambique era de tal ordem que só sete por cento da população é que sabia ler e escrever, num universo de 11 milhões de habitantes”, exemplificou o orador, para quem a liberdade só é plena através da educação.

Por outro lado, o investimento em grandes infra-estruturas, tais como a ponte Maputo/KaTembe, a ponte sobre o rio Zambeze, entre outros empreendimentos importantes, evidencia o crescimento do país, que ainda enfrenta desafios para se transformar numa potência na África Austral, segundo o palestrante.

Mariano Matsinhe referiu-se ao alcance da prosperidade almejada pelos moçambicanos, afirmando que ela estará mais próxima com uma mudança radical das mentalidades e na entrega ao trabalho.

“O desenvolvimento económico depende da mentalidade. A educação faz com que o nosso horizonte se amplie mais, contudo isso só é possível num ambiente de paz. Sem ela, dificilmente sairemos do subdesenvolvimento”, afirmou.

ADD// Irreverência da juventude

           foi crucial na luta armada

Ao revisitar a epopeia da luta de libertação nacional, Mariano Matsinhe recordou que a juventude sempre pautou por uma atitude irreverente, o que permitiu influenciar os processos marcantes da construção da nação moçambicana.

Para o membro do Comité Central do partido Frelimo, depois de terem estado na vanguarda da luta contra o domínio colonial português, os jovens são hoje os condutores do desenvolvimento do país.

Matsinhe tomou como exemplo a unificação dos três movimentos, Mozambique African National Union (MANU), União Democrática Nacional de Moçambique (UDENAMO) e a União Nacional Africana de Moçambique Independente (UNAMI), que levou ao surgimento da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), em 1962.

“Foi a juventude que jogou um papel decisivo na unificação dos três movimentos. Foi preciso exercer pressão para que as lideranças destas três formações assumissem uma consciência nacional, que até então não havia. O facto de sermos jovens fez com que nos entregássemos, de forma abnegada, à causa da luta”, sublinhou.

O orador, que tinha 25 anos quando ingressou na Frelimo, em 1962, acrescentou que a ausência de uma visão nacionalista fez com que os três movimentos defendessem, somente, uma independência das regiões onde exerciam influência.

Por esse motivo, os ideais dos camaradas mais jovens, de ter uma frente unida, colidiam com as lideranças dos três movimentos, que pretendiam manter a sua identidade”, disse.

Desde os primórdios da luta contra o colonialismo, afirmou Matsinhe, o tribalismo e o divisionismo foram identificados como elementos nocivos à unidade nacional, tendo o respeito à diversidade cultural e religiosa sido factor determinante para a coesão da Frelimo.

“Foi Eduardo Mondlane que nos despertou para a necessidade de pensar no Moçambique com uma visão ampla pois, mesmo que tivéssemos armamento sofisticado, sem a unidade não poderíamos libertar o nosso país”, assumiu o combatente da luta de libertação nacional.

Nascido na província de Tete, terra natal da sua mãe, e de pai natural de Inhambane, Mariano Matsinhe afirmou que casamentos entre pessoas de culturas diferentes não eram comuns, antes da independência nacional, mas o facto de ter nascido numa família multicultural lhe tornou mais sensível às diferenças.

No seu entender, os aspectos positivos das estruturas tribais, nomeadamente os valores morais, devem ser preservados até aos dias de hoje. Porém, no contexto da guerrilha, a divisão na base da tribo e do regionalismo era combatida, diariamente, para o triunfo da revolução.

Ainda na luta armada, o papel da juventude voltou a ser determinante para a emancipação da mulher e da sua inclusão no teatro da guerra colonial, pois houve resistência por parte de quadros destacados no movimento de libertação.

“Durante a luta armada, quando quisemos integrar a mulher houve oposição de quadros nossos, que diziam que o lugar da mulher era na cozinha. Mas, depois de várias insistências, as mulheres, que também eram jovens, com apoio dos homens progressistas, começaram a receber treino militar e a operar no campo de batalha”, referiu.

No panorama actual, segundo Matsinhe, a participação da mulher na vida política, económica e social é um sinal evidente da desconstrução dos tabus e crenças herdados das sociedades tradicional e feudal.

Diante de uma plateia constituída por quadros da Polícia da República de Moçambique (PRM), Mariano Matsinhe, que também foi Ministro do Interior, afirmou que houve mudanças estruturais no seio da corporação. A Polícia, segundo afirmou, foi constituída num contexto em que havia pouca experiência de governação.

“Os primeiros quadros da Polícia eram guerrilheiros que vieram da luta armada e havia pouca formação nessa altura. Cometeram-se alguns erros, naturalmente, mas hoje há maior preparação do capital humano”, concluiu.

 

Fonte:http://www.jornalnoticias.co.mz/index.php/politica/69026-pluralismo-de-opiniao-nao-deve-levar-a-violencia.html

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