«Vão com Deus» mas venham com algo mais…

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Eu, juro, não sou supersticioso, mas o certo é que Marcoussis e Marienfeld começam com as letras «mar»… Só pode dar sorte… E, pelo sim, pelo não, empresto à Seleção que hoje parte para a Alemanha o manto protetor da minha mãe…

Há precisamente 40 anos, os Heróis do Mar lançavam o tema Supersticioso. Só me lembro dos dois primeiros versos do refrão: «Eu cá não sou supersticioso / mas o pai dela dá-me azar». E ainda hoje dou por mim a cantarolar esses versos. O equivalente ao « Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay» dos nossos vizinhos espanhóis, mas com mais sentido de humor e irreverência.

Eu, por exemplo, juro que não sou supersticioso, mas se a minha mãe não se despede de mim, cada vez que saio de casa para ir trabalhar, com um «vai com Deus», até parece que o dia já não me vai correr tão bem… No fundo, não acredito em superstições que causam azar, mas acabo por não ser indiferente a rituais que, cumpridos, me dão o estado de espírito certo para que as coisas me corram bem, ou tenha sorte. E quando a discussão da superstição me leva a becos sem saída, lembro a posição do filósofo inglês Francis Bacon (1561-1606), para quem «fugir de todas as superstições é, em si mesmo, uma forma de superstição.»

Não sei se Roberto Martínez é supersticioso, mas foi o selecionador quem fez questão de lembrar que a Seleção que venceu o Europeu de 2016 fez três jogos de preparação antes de partir para França… Tal como esta, antes do Europeu da Alemanha… Dará sorte? Procurando ler os sinais, dei por mim a pensar que em 2016 a Seleção montou o quartel-general em Marcoussis; já em 2024, a sede escolhida é Marienfeld. E eu que, juro, não sou supersticioso, não deixei de reparar que Marcoussis e Marienfeld têm em comum as três primeiras letras: Mar. Haverá palavra mais identitária da alma portuguesa? Só pode ser bom prenúncio… 

Sei que esta quinta-feira, à partida da Seleção para a Alemanha, haverá Velhos do Restelo a antecipar desgraças por ser dia 13… Mas lembro que é um 13 especial, sacralizado por Santo António, casamentei ro que abençoará a boda marcada para 14 de julho, em Berlim. Por isso, tragam de lá o manjerico, perdão, o troféu, tal como em 2016. Puxem as barbas ao Adamastor, que o monstro só ladra sem morder, nesse rebatizar do Cabo da Boa Esperança. Podem até cantar, como em 2016, «Não importa, não importa / Se jogamos bem ou mal / queremos é levar a Taça / Para o nosso Portugal», mas esta geração tem condições de mudar a letra para «Nós somos conquistadores / Hoje demos festival / E vamos levar a Taça / Para o nosso Portugal.»

Eu, juro, não sou supersticioso, mas o certo é que em 2016 estive em França como enviado especial de A BOLA ao Europeu…. Só para lembrar, não estou a insinuar nada… Vim tão cheio de experiências vividas que, quando aterrei em Lisboa no regresso a Portugal, senti que a minha carreira de jornalista poderia acabar ali para me dar por feliz e realizado. Foram 35 dias de trabalho intenso, apaixonante, recompensador.A experiência de uma grande competição como esta é única e abarca muito mais do que a questão desportiva, dos treinos, conferências e jogos. Como uma esponja, absorvemos tudo o que se passa à nossa volta, dos costumes dos locais à cor e festa dos forasteiros, na certeza de que o adepto de seleção é um adepto diferente. Enriquecemos em termos humanos, conhecemos mundo num só lugar e crescemos na dimensão da verdadeira natureza humana. Num contexto de, salvo as exceções, partilha, alegria e solidariedade entre pessoas que se juntam pela mesma paixão ao futebol. Logo, só posso desejar sorte à vasta equipa de A BOLA que vai estar na Alemanha. Que sejam tão felizes e enriqueçam tanto quanto me aconteceu em 2016.

Eu, juro, não sou supersticioso, mas, pelo sim pelo não, partilho com a Seleção, na hora da partida para a Alemanha, o manto protetor da minha mãe: «Vão com Deus»… Mas venham com algo mais…

Fonte: A Bola

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