O Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou, na última semana, de Outubro de 2024, um panorama misto sobre a economia global, projectando um crescimento modesto de 3,2% para 2024 e 2025, reflectindo uma recuperação mais lenta do que a média pré-pandémica. O relatório World Economic Outlook (WEO) enfatiza que a economia mundial enfrenta uma combinação de desafios estruturais e conjunturais, como a desaceleração das economias avançadas e a volatilidade nos mercados emergentes. As economias dos Estados Unidos e da Ásia emergente são as excepções notáveis, apresentando tendências de crescimento que superaram as projeções iniciais. Enquanto isso, a Europa tem revisões para baixo, refletindo condições econômicas enfraquecidas e incertezas.
Desafios e vulnerabilidades regionais
De acordo com o FMI, o desempenho das economias avançadas foi desigual. A economia dos Estados Unidos teve suas projecções levemente ajustadas para cima, com o sector de serviços e a criação de empregos a sustentar o crescimento. No entanto, a Europa está a enfrentar uma retracção nas projecções devido ao impacto de políticas monetárias restritivas e à desaceleração da actividade económica industrial.
Para os mercados emergentes, as condições são ainda mais complexas. Regiões como o Médio Oriente e África Subsahariana estão a lidar com conflitos e distúrbios sociais que dificultam a produção e a exportação de commodities. A volatilidade climática também acrescenta uma camada de imprevisibilidade, especialmente para países dependentes da agricultura e da mineração. Por outro lado, a Ásia emergente, especialmente o Sudeste Asiático, mantém um crescimento robusto, em parte impulsionado pela demanda global de semicondutores e componentes eletrônicos, setores que se beneficiam dos avanços em inteligência artificial.
Inflação e políticas monetárias: A Caminho para a desinflação
O FMI projecta uma tendência de queda gradual da inflação global, passando de 6,7% em 2023 para 5,8% em 2024 e 4,3% em 2025. No entanto, essa trajectória não é uniforme. As economias avançadas estão a aproximar-se das metas de inflação dos bancos centrais, mas as economias emergentes ainda enfrentam dificuldades significativas para estabilizar os preços. O relatório adverte que a desinflação global permanece vulnerável, especialmente devido à volatilidade dos preços de commodities e às tensões geopolíticas persistentes, que podem impactar negativamente a trajetória de preços.
Os bancos centrais das economias avançadas, como o Federal Reserve e o Banco Central Europeu, continuam a adoptar uma postura cautelosa em relação aos ajustes nas taxas de juros. As economias emergentes, por sua vez, enfrentam a complexa tarefa de combater a inflação sem sufocar o crescimento económico, o que exige uma calibragem cuidadosa das políticas monetárias.
Riscos sistémicos e incertezas globais
O FMI alerta para a possibilidade de volatilidade financeira elevada, um risco que poderia dificultar ainda mais o investimento em economias vulneráveis, sobretudo as que dependem de financiamento externo de curto prazo. Entre os principais factores de risco, o relatório aponta a desaceleração do sector imobiliário na China, que pode ter repercussões globais significativas. O aumento das políticas proteccionistas também contribui para as incertezas no comércio internacional, comprometendo a confiança de consumidores e investidores.
A situação geopolítica também permanece crítica, com conflitos regionais e tensões comerciais que afectam directamente o mercado de commodities e o preço de bens essenciais. Em regiões como o Médio Oriente e a África Central, as interrupções no fornecimento de petróleo e gás são um exemplo claro de como a geopolítica e a economia global estão intrinsecamente ligadas, gerando efeitos em cadeia nos mercados financeiros.
Estratégias do FMI e recomendações para uma economia sustentável
Para enfrentar os desafios identificados, o FMI recomenda que cada país ajuste as suas políticas fiscais e estruturais de acordo com as suas necessidades específicas, priorizando a redução da dívida pública e a implementação de reformas para impulsionar o crescimento a médio prazo. O relatório destaca ainda a importância da cooperação multilateral, especialmente no apoio à reestruturação de dívidas e na aceleração da transição para uma economia verde.
Em resumo, o cenário global exige uma combinação de disciplina fiscal, políticas monetárias prudentes e inovação estrutural para responder aos desafios do mercado. O FMI sugere que um foco renovado em reformas e colaborações internacionais é essencial para mitigar os impactos das incertezas globais e construir uma economia mais resiliente para o futuro.
Fonte: O Económico