A mais recente Análise do Transporte Marítimo, publicada em 22 de Outubro, destaca vários pontos positivos no sector do transporte marítimo em África.
Entre o primeiro semestre de 2018 e o primeiro semestre de 2023, as escalas de navios porta-contentores aumentaram 20% em África, enquanto as escalas de navios-tanque cresceram 38% – ambos os aumentos recorde para o continente.
No que diz respeito ao registo de navios, a Libéria tornou-se, em 2022, o maior registo de navios do mundo em termos de tonelagem de porte bruto, ultrapassando o Panamá, que liderava há três décadas.
A nação africana continuou a liderar a lista em 2023, registando uma quota de 17,3 % da frota mundial, em comparação com os 16,1 % do Panamá.
Outros países africanos com melhor desempenho incluem os Camarões, que ocupam o 27.º lugar em termos de tonelagem de porte bruto e número de navios, enquanto a Nigéria ocupa o 33.º lugar, depois de aumentar 16,2 % o porte bruto registado.
De um modo mais geral, as vias navegáveis Sul-Sul, que ligam a África Subsariana a outras partes do mundo em desenvolvimento, registaram o maior aumento (9%) no seu volume de comércio globalizado de contentores em 2023.
Crise do Mar Vermelho: O que está em jogo para África
Os ataques a navios comerciais no Mar Vermelho, que começaram em Novembro de 2023, levaram um grande número de navios a afastar-se do Canal do Suez e a contornar o Cabo da Boa Esperança.
O desvio de rota, que aumentou o congestionamento nos portos sul-africanos, criou oportunidades para países como Madagáscar, Maurícia, Namíbia ou Tanzânia, que estão estrategicamente localizados nas rotas marítimas que ligam a Ásia à Europa.
Vários países da África Oriental, cujo comércio externo é altamente dependente do Canal do Suez – em volume, cerca de 31% e 34%, respectivamente, para o Djibuti e o Sudão – estão, por conseguinte, sujeitos às perturbações.
Por exemplo, a África Oriental registou uma escassez de produtos perecíveis e de contentores normalizados devido ao aumento dos prazos de entrega da carga, com impacto nas cadeias de abastecimento de abacate, chá e café.
Além disso, o impacto sobre os contentores vazios, impulsionado pelas transportadoras que dão prioridade aos envios para mercados altamente remunerados, como a Europa e os Estados Unidos, ocorreu à custa de regiões como a África – uma reminiscência do padrão observado durante a pandemia da COVID-19.
África aproveita as oportunidades na cadeia de abastecimento das energias renováveis
A transição global para as fontes de energia renováveis também é promissora para África.
Alguns países africanos já estão a utilizar o hidrogénio verde para satisfazer as suas necessidades energéticas, enquanto outros procuram tornar-se centros portuários para a produção, armazenamento e transporte de hidrogénio verde.
A Parceria Africana para o Hidrogénio identificou o Djibuti, o Egipto, a Etiópia, o Gana, o Quénia, a Mauritânia, Marrocos, a Nigéria, a Tanzânia, o Ruanda e a África do Sul como potenciais zonas de desembarque ou centros de armazenamento e distribuição de hidrogénio verde.
África em acção para facilitar o comércio e aumentar a resiliência
No meio das incertezas geopolíticas e dos riscos climáticos, África está a tomar medidas para aumentar a capacidade de transporte marítimo e a conectividade comercial.
A Maurícia, por exemplo, tem vindo a desenvolver a sua capacidade de resistência a uma série de ameaças através do reforço das políticas de desenvolvimento nacional e da cooperação com parceiros dentro e fora de África para reforçar a segurança marítima.
As suas várias iniciativas incluem o reforço das capacidades, a formação regional e a partilha de informações para combater os riscos de pirataria e garantir a segurança das rotas marítimas, juntamente com medidas para aumentar a resiliência através de reformas portuárias centradas na conectividade e na sustentabilidade.
O continente também reforça a facilitação do comércio para reduzir os tempos e os custos de trânsito, através de iniciativas como o Território Aduaneiro Único da Comunidade da África Oriental e os postos fronteiriços de balcão único.
Fonte: O Económico