Sem Alternativas: A urgência da expansão e modernização do Porto da Beira

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O Porto da Beira, em Moçambique, enfrenta um momento decisivo. Crescendo em importância como um dos principais centros logísticos da África Austral, o porto tornou-se indispensável para os países da região sem acesso directo ao mar. No entanto, o aumento exponencial no volume de cargas processadas nos últimos anos tem exercido uma enorme pressão sobre a infraestrutura existente, evidenciando a necessidade urgente de expansão e modernização.

Efectivamente, o Porto da Beira tem sido um pilar crucial para o comércio regional da África Austral, servindo como uma importante via de exportação e importação para países sem litoral, como Zimbábue, Zâmbia, Malawi, e até partes da República Democrática do Congo. Nos últimos anos, o porto experimentou um crescimento exponencial no volume de carga, impulsionado pelas demandas comerciais da região e pela necessidade de um centro logístico eficiente e acessível. No entanto, esse crescimento também trouxe à tona problemas críticos de congestionamento, insuficiência infraestrutural e desafios logísticos que ameaçam a competitividade do Porto. 

A incapacidade do porto para lidar com o aumento da demanda tem resultado em congestionamento significativo, tanto no acesso marítimo quanto terrestre. Navios aguardam dias para atracar, e camiões formam filas de quilómetros, aumentando os custos logísticos e causando atrasos nas entregas de mercadorias, com impacto diretco na competitividade regional. Várias têm sido as queixas crescentes nos últimos tempos por parte dos utentes do Porto da Beira. O tom de frustração tem estado a aumentar, o que pode levar os utentes a considerar outras alternativas, Dar-Es-Salaam, por exemplo, não obstante incorrerem em custos maiores devido a distância.  

Crescimento acelerado e pressão Infraestrutural

O volume de cargas movimentadas no Porto da Beira atingiu níveis recorde em 2024, especialmente nas exportações de minérios e produtos agrícolas. Contudo, este crescimento acentuado também destacou a fragilidade infraestrutural do porto, incapaz de sustentar o aumento da demanda sem uma intervenção rápida e substancial.

Nos últimos anos, o Porto da Beira viu um aumento considerável no volume de cargas movimentadas. Em Julho de 2024, o Porto registou um aumento de 122% no manuseamento de mercadorias, totalizando 442.000 toneladas em um único mês. Este crescimento foi impulsionado principalmente pela exportação de minerais, como o carvão de Moçambique e o cobre e lítio de Zimbábue, além de produtos agrícolas como o chá e tabaco de Malawi. Esse aumento exponencial coloca o Porto da Beira como uma das infraestruturas portuárias mais movimentadas da região, tornando-se um ponto estratégico para o comércio intra-regional e global.

No entanto, a expansão acelerada das operações gerou congestionamentos significativos, tanto no acesso marítimo quanto terrestre. Navios aguardam dias para atracar, enquanto camiões formam filas de quilómetros, esperando para acessar o porto e descarregar ou carregar mercadorias. A situação tem causado atrasos nas operações logísticas e aumentado os custos para os países vizinhos que dependem do porto.

Investimentos para garantir o futuro

Com um investimento de US$ 290 milhões de dólares anunciado pelo Governo moçambicano, a expansão do Porto da Beira prevê aumentar a capacidade de movimentação de contentores dos actuais 300.000 para 700.000 por ano, ao longo dos próximos 15 anos. Esta modernização incluirá a construção de novos terminais e a introdução de novas tecnologias para melhorar a eficiência das operações portuárias.

Além disso, a operadora Cornelder de Moçambique, que gere o porto através de uma parceria público-privada, tem investido fortemente na implementação de novas tecnologias. Entre elas está o sistema C-GATE, que utiliza inteligência artificial para melhorar a gesta de contentores e reduzir o tempo de espera nas operações logísticas. Essas iniciativas tecnológicas, juntamente com a reabilitação de infraestruturas e a introdução de novos equipamentos de movimentação, estão a melhorar a eficiência geral do porto e a torná-lo mais competitivo na região. Mas é preciso fazer muito mais e, mais rápido para se obter ganhos de competitividade. 

Zimbábue, um dos principais utilizadores do porto, manifestou interesse directo no apoio a esses projectos de expansão, com a construção de dois novos terminais, numa colaboração com a empresa chinesa Tsingshan Holding. Para Zimbábue e outros países vizinhos, a expansão do Porto é essencial para reduzir os custos de transporte e garantir a competitividade dos seus produtos nos mercados internacionais.

Zimbábue, em particular, é um dos maiores utilizadores do Porto da Beira. O país depende desta infraestrutura para o escoamento de minerais, como cromo, lítio e tabaco, e para a importação de produtos essenciais, como combustíveis e fertilizantes. A proximidade do porto oferece uma alternativa mais económica em comparação ao porto de Durban, na África do Sul, cujo custo de transporte é até três vezes mais elevado.

Desafios persistentes e a necessidade de modernização rápida

Apesar dos investimentos já anunciados, o congestionamento rodoviário e os desafios na dragagem do canal de acesso marítimo permanecem obstáculos críticos para o funcionamento eficiente do Porto da Beira. Melhorar a infraestrutura terrestre e garantir a cooperação regional são medidas fundamentais para superar esses desafios e permitir que o porto atinja todo o seu potencial.

É que, apesar dos investimentos significativos, o Porto da Beira ainda enfrenta desafios críticos em termos de infraestrutura de acesso. O assoreamento do canal de navegação exige dragagens frequentes, o que limita a entrada de navios de grande porte. Além disso, as infraestruturas rodoviárias e ferroviárias que ligam o porto aos países vizinhos continuam a ser um grande obstáculo. As estradas em mau estado e as ferrovias subutilizadas aumentam os custos logísticos e atrasam a entrega de mercadorias.

A reabilitação da linha ferroviária Machipanda, que liga o porto ao Zimbábue, é uma prioridade para garantir uma operação logística mais eficiente e integrada. Este projecto está em andamento, mas a sua conclusão é crucial para o desenvolvimento do corredor logístico e para facilitar o fluxo de mercadorias entre os dois países.

A expansão e modernização do Porto da Beira não são apenas desejáveis — são indispensáveis. Sem alternativas, o futuro do porto depende de uma intervenção rápida e coordenada, que possa garantir a continuidade do seu papel central no comércio regional e no desenvolvimento económico da África Austral.

Fonte: O Económico

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