As 26 economias mais pobres do mundo, que são o lar de cerca de 40% das pessoas que vivem com menos de 2,15 dólares por dia, estão a enfrentar a pior crise fiscal em quase duas décadas. Segundo uma nova análise do Banco Mundial, esses países estão cada vez mais endividados e vulneráveis a crises como desastres naturais e recessões globais, enquanto o apoio internacional em forma de financiamento e assistência tem diminuído drasticamente.
O relatório destaca que, apesar do aumento das necessidades económicas, a ajuda internacional como parcela do Produto Interno Bruto (PIB) dessas economias caiu para o nível mais baixo em 21 anos, forçando muitos países a procurar financiamentos em condições punitivas. Isso agravou ainda mais a fragilidade fiscal dessas nações, cujo endividamento médio do governo atingiu 72% do PIB, o nível mais alto em 18 anos. Cerca de metade dessas economias estão agora classificadas como em risco elevado de insolvência ou endividamento insustentável, o dobro do que era registado em 2015.
Vulnerabilidade económica e ameaças estruturais
A análise revela ainda que essas economias estão particularmente vulneráveis a desastres naturais. Entre 2011 e 2023, tais eventos causaram perdas anuais médias de 2% do PIB nesses países, uma taxa cinco vezes superior à de economias de renda média-baixa. Além disso, as economias de baixa renda são desproporcionalmente afetadas pelos impactos das mudanças climáticas, com custos de adaptação equivalentes a 3,5% do PIB anualmente, também cinco vezes mais elevados do que em economias de maior renda.
Outro factor que contribui para o agravamento da situação fiscal é a crescente dependência de exportações de commodities, o que torna essas economias especialmente vulneráveis às flutuações dos preços globais. Muitas dessas economias ainda enfrentam conflitos e fragilidade institucional, com dois terços delas a lutarem para manter a estabilidade social e governamental.
Apoio da Associação Internacional de Desenvolvimento
Embora a ajuda global tenha diminuído, a Associação Internacional de Desenvolvimento (IDA) do Banco Mundial permanece como uma das poucas fontes de financiamento de baixo custo para essas economias. Em 2022, a IDA forneceu quase metade de toda a ajuda ao desenvolvimento que essas economias receberam de organizações multilaterais. Segundo Indermit Gill, Economista-Chefe do Banco Mundial, “a IDA tem sido a principal tábua de salvação” para essas economias, fornecendo apoio financeiro crítico para manter os sistemas de saúde, educação e infraestruturas básicas.
Desafios e oportunidades
A pandemia de COVID-19 exacerbou as necessidades fiscais das economias de baixa renda, triplicando seus déficits primários para 3,4% do PIB em 2020. Apesar de uma ligeira recuperação, esses países ainda não conseguiram liquidar os défices acumulados, que continuam quase três vezes maiores que a média de outras economias em desenvolvimento. Muitos governos tiveram de redirecionar gastos cruciais de longo prazo, como educação e saúde, para necessidades imediatas, como salários e subsídios governamentais.
Porém, nem tudo é negativo. O relatório sugere que essas economias possuem potencial significativo para crescimento futuro, particularmente devido a suas populações jovens e recursos naturais abundantes. Para aproveitar essas oportunidades, será necessário aumentar significativamente os investimentos e melhorar a gestão económica, tanto através de reformas internas, como a ampliação da base tributária, quanto através de maior apoio internacional.
As economias de baixa renda enfrentam uma encruzilhada crítica. A menos que consigam acelerar o investimento em áreas-chave como infraestruturas, saúde e educação, elas continuarão presas num ciclo de pobreza e vulnerabilidade. O apoio internacional será crucial, especialmente em momentos de crise global, para permitir que essas economias alcancem as metas de desenvolvimento até.
Essas nações precisam de um esforço concertado por parte da comunidade internacional, não apenas em termos de financiamento, mas também de cooperação nas áreas de comércio, investimento e apoio à capacitação económica.
Fontes: Relatório do Banco Mundial
Fonte: O Económico