A crescente escassez de divisas estrangeiras em Moçambique está a provocar sérias dificuldades no sector de distribuição de combustíveis líquidos, com grandes players do mercado, como a Puma Energy e a Vivo Energy, a enfrentarem constrangimentos significativos nas suas operações. A situação, que já afecta a capacidade das empresas de garantir o pagamento das importações, pode levar a uma redução no volume de vendas, aumentando o risco de escassez de combustíveis no país, se não forem encontradas soluções a curto prazo.
A falta de moeda estrangeira para realizar pagamentos internacionais tem sido uma preocupação crescente para as empresas que dependem da importação de bens, e o sector de combustíveis não é excepção. Recentemente, a Puma Energy emitiu um comunicado lamentando as dificuldades no pagamento de fornecedores devido à “grave escassez de moeda estrangeira disponível nos bancos comerciais”. A empresa alertou que, sem um avanço rápido, poderá ser forçada a reavaliar as suas operações, o que inclui a redução do volume de vendas no país.
De forma similar, a Vivo Energy, através de uma nota assinada pelo seu administrador executivo, recomendou aos seus parceiros que procurem outros distribuidores para garantir o abastecimento, reconhecendo a sua incapacidade de cumprir integralmente com a importação de combustíveis devido à falta de divisas.
Apesar dos comunicados alarmantes das distribuidoras, o porta-voz da IMOPETRO (Importadora Moçambicana de Petróleos), Celso Banze, assegurou que o País mantém um stock suficiente de combustíveis para o mercado. No entanto, ele destacou que o verdadeiro problema reside no processo de pagamento das facturas aos fornecedores internacionais, que, desde a liberalização da componente financeira, passaram a ser feitos directamente pelas empresas e não pela IMOPETRO. Este modelo de pagamento directo está a criar um “estrangulamento” na cadeia de importação, já que as empresas lutam para obter divisas suficientes para cumprir com as suas obrigações financeiras internacionais.
Factores estruturais por detrás da crise de divisas
O debate sobre a escassez de divisas em Moçambique não é novo. Nos últimos anos, o sector privado tem levantado a questão repetidamente, apontando que a disponibilidade limitada de moeda estrangeira nos bancos comerciais afeta diretamente a capacidade de importar bens essenciais. A Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) discorda da posição do Banco de Moçambique, cujo governador, Rogério Zandamela, afirmou que a escassez de divisas não é um problema generalizado, mas sim restrito a algumas instituições financeiras.
No entanto, a CTA argumenta que a falta de divisas é, em parte, consequência das decisões políticas do próprio banco central, que aumentou a taxa de juros de reservas obrigatórias para os bancos comerciais de 11,5% para 39,5% entre 2022 e 2023. Esta medida, que visa controlar a inflação e estabilizar a economia, acabou por restringir a liquidez em moeda estrangeira, dificultando o acesso das empresas às divisas necessárias para as suas operações internacionais.
Impactos para a economia e possíveis soluções
A escassez de divisas afecta directamente a capacidade do País de importar combustíveis, mas as consequências podem ser muito mais amplas. Se as empresas distribuidoras, como a Puma e a Vivo, forem forçadas a reduzir o volume de vendas ou interromper temporariamente o abastecimento, o impacto poderá ser devastador para a economia moçambicana. A inflação nos preços dos combustíveis afectaria o custo de vida, o preço dos transportes e a produção industrial, exacerbando uma situação já delicada de recuperação económica pós-pandemia.
Por outro lado, uma solução estrutural para a escassez de divisas passa por uma combinação de reformas macroeconómicas e políticas financeiras mais flexíveis. A CTA tem pressionado para que o Banco de Moçambique reduza as taxas de reservas obrigatórias, permitindo maior liquidez de moeda estrangeira no mercado. Além disso, seria necessário fortalecer os mecanismos de financiamento externo e atrair investimentos estrangeiros diretos, o que poderia ajudar a melhorar a balança de pagamentos e aliviar a pressão sobre a disponibilidade de divisas.
A crise actual da escassez de divisas reflete desafios profundos no sistema financeiro de Moçambique, amplificados por um ambiente económico global adverso. No entanto, com reformas e medidas de cooperação entre o governo, o Banco de Moçambique e o sector privado, há espaço para mitigar os efeitos desta crise. A recuperação dependerá da capacidade de Moçambique em estabilizar o fornecimento de divisas, garantir o abastecimento de combustíveis e sustentar o crescimento económico num contexto global volátil.
Fonte: O Económico