A economia mundial atravessa um período de grandes desafios e incertezas. Desde o impacto devastador da pandemia de COVID-19 até a guerra na Ucrânia e a crise energética, o cenário global tem sido marcado por uma sucessão de choques. No Relatório Anual do FMI de 2024, destaca-se que, embora a inflação tenha começado a recuar e algumas economias mostrem resiliência, a recuperação ainda está longe de ser garantida. O capítulo “Sustentar a Recuperação” traz à tona questões cruciais que moldarão o futuro do crescimento global.
O FMI projecta um crescimento mundial de apenas 3,1% até 2029, uma das menores previsões de crescimento quinquenais das últimas décadas. Essa desaceleração levanta preocupações sobre a capacidade das economias, especialmente as de baixa renda, de se recuperarem de forma sólida. O relatório ressalta que “o fraco crescimento de médio prazo coloca em risco a criação de empregos e a redução da pobreza”, e os países vulneráveis correm o risco de ficarem ainda mais para trás.
Outro ponto de alerta é o crescimento vertiginoso da dívida pública, que poderá ultrapassar 100% do PIB global até o final da década. A pandemia forçou muitos países a aumentarem substancialmente seus gastos públicos para enfrentar a crise sanitária e apoiar suas economias, mas agora os governos enfrentam o difícil desafio de reconstruir o espaço fiscal necessário para lidar com futuras crises e investimentos de longo prazo. O FMI adverte que, sem políticas fiscais adequadas, muitos países, principalmente os de baixa renda, podem enfrentar um cenário de dívida insustentável, comprometendo ainda mais o crescimento e a estabilidade.
Neste contexto de recuperação, o FMI destaca a importância da transição para uma economia de baixo carbono. A precificação do carbono surge como uma das ferramentas centrais para ajudar as nações a atingir as suas metas climáticas. O relatório sugere que essa política, combinada com inovações tecnológicas, pode gerar oportunidades de crescimento e criação de empregos, especialmente em economias emergentes. Investimentos verdes podem ajudar a impulsionar a produtividade e a mitigar os efeitos das mudanças climáticas, tornando as economias mais resilientes a longo prazo.
Além disso, o relatório enfatiza a necessidade de reformas estruturais para sustentar a recuperação global. Entre as medidas recomendadas estão o fortalecimento da governança, o aumento da participação feminina no mercado de trabalho e o apoio à digitalização, que se apresenta como uma ferramenta crucial para impulsionar o crescimento. O FMI sublinha que a cooperação internacional será vital para que o mundo possa lidar com os desafios impostos pelas mudanças climáticas, pela inteligência artificial e pela crescente fragmentação geopolítica. Segundo o Fundo, o multilateralismo é uma ferramenta indispensável para garantir uma recuperação inclusiva e sustentável.
O relatório sublinha que, apesar de alguns sinais de estabilização, o caminho para a plena recuperação económica global ainda está repleto de obstáculos. O crescimento fraco, o aumento das desigualdades e os riscos associados à dívida pública colocam muitos países, sobretudo os mais vulneráveis, em uma posição delicada. A necessidade de políticas fiscais robustas, de reformas estruturais e de uma cooperação internacional efectiva são considerados elementos fundamentais para garantir que a recuperação não apenas se consolide, mas também beneficie todas as economias, criando um ambiente mais justo e próspero.
Fonte: O Económico