Moçambique está a reforçar a sua posição como um dos maiores produtores de gás natural da África Austral, com a produção a atingir níveis recordes nos últimos anos. De acordo com um estudo recente do Instituto Nacional de Estatística (INE), a produção de gás natural no país aumentou significativamente, passando de 4.596 milhões de metros cúbicos em 2019 para 11.751 milhões de metros cúbicos em 2023, impulsionada pelos novos projectos em desenvolvimento na Bacia do Rovuma.
Este crescimento impressionante, que representa um aumento superior a 100%entre 2022 e 2023, reflecte os esforços do país em maximizar o potencial dos seus vastos recursos naturais, especialmente no sector de gás. Empresas como a Eni e a TotalEnergies têm desempenhado um papel fundamental neste processo, liderando operações nas vastas reservas de gás da Bacia do Rovuma, considerada uma das maiores do mundo.
Um dos desafios que Moçambique enfrenta é o equilíbrio entre o aproveitamento dos seus recursos energéticos e as metas globais de sustentabilidade. O gás natural, embora considerado uma fonte de energia menos poluente comparado com o petróleo e o carvão, ainda contribui para a emissão de gases de efeito estufa. A necessidade de equilibrar os ganhos económicos com a redução das emissões é uma questão crítica, especialmente num contexto global de transição energética.
No entanto, apesar dos desafios, as perspectivas futuras para o sector de gás em Moçambique são positivas. O país está a expandir as suas exportações de gás natural para novos mercados internacionais, o que poderá gerar receitas significativas e contribuir para o desenvolvimento económico do país. Para além das exportações, o governo tem vindo a sublinhar a necessidade de diversificar a economia, reduzindo a dependência dos recursos naturais e fomentando o desenvolvimento de outros sectores-chave, como a agricultura, turismo e industrialização.
A Bacia do Rovuma continua a ser uma das joias da coroa do setor energético moçambicano, e, com os planos de desenvolvimento em andamento, espera-se que a produção continue a crescer nos próximos anos. A médio e longo prazo, a aposta passa por criar uma economia mais robusta e diversificada, tirando partido das receitas do gás para investimentos estratégicos em infraestruturas, educação e saúde.
Vendas de derivados de petróleo aumentam, mas levantam preocupações ambientais
Paralelamente ao crescimento na produção de gás natural, Moçambique também tem registado um aumento considerável nas vendas de derivados de petróleo, o que tem gerado preocupações sobre a sustentabilidade energética do país. De acordo com o relatório “Indicadores Básicos de Energia, Gás e Petróleo”, as vendas de gás de petróleo liquefeito (GPL) aumentaram 40,1% em 2023, enquanto as vendas de gasolina registaram um crescimento de 14,3%.
Este aumento na procura por combustíveis fósseis reflecte a crescente necessidade de energia no mercado interno, à medida que a economia moçambicana continua a expandir-se. No entanto, o crescimento no consumo de combustíveis fósseis contraria as tendências globais de transição para fontes de energia renováveis, colocando em destaque a necessidade urgente de políticas mais sustentáveis.
O governo está, assim, pressionado a conciliar o crescimento do sector energético com os compromissos ambientais internacionais, ao mesmo tempo que responde às necessidades de uma população em crescimento. Moçambique, ao se posicionar como um dos maiores produtores de gás da região, enfrenta o desafio de garantir que o desenvolvimento económico a longo prazo seja sustentável e inclusivo.
Com a Bacia do Rovuma a liderar a produção de gás e as vendas de combustíveis fósseis a aumentar, Moçambique encontra-se num ponto crucial da sua trajectória energética, tendo de equilibrar crescimento com a responsabilidade ambiental e as necessidades de desenvolvimento socioeconómico.
Fonte: O Económico