África deve encontra…o seu próprio caminho para a transição energética – AOW

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O Africa Oil Week (AOW) 2024, realizado na Cidade do Cabo, reafirmou o papel central de África no panorama energético global, reunindo líderes de governo, executivos de empresas petrolíferas, investidores e especialistas do sector para debater o futuro dos hidrocarbonetos e o desenvolvimento de energias renováveis no continente. Durante o evento, foram destacadas as oportunidades para o crescimento da indústria de petróleo e gás, as questões da transição energética, a necessidade de investimentos estratégicos e o compromisso com o desenvolvimento sustentável.

O Papel de África na Transição Energética

Uma das mensagens mais repetidas durante o AOW foi a necessidade de África encontrar o seu próprio caminho para a transição energética. Rashid Ali Abdallah, Director Executivo da Comissão Africana de Energia (AFREC), sublinhou que o continente não pode simplesmente replicar os modelos de transição dos países desenvolvidos. África deve passar de uma posição de ‘sem energia’ para uma em que o acesso à energia seja universal, afirmou Abdallah. Ele defendeu que, enquanto a transição global é inevitável, o foco em África deve estar no crescimento económico e na erradicação da pobreza energética.

Outros líderes do sector reforçaram este ponto, argumentando que o desenvolvimento dos vastos recursos de petróleo e gás da região ainda é crucial para o crescimento económico. O gás natural, em particular, foi apresentado como uma solução intermediária que pode ajudar na transição energética de África, proporcionando energia mais limpa do que o carvão, ao mesmo tempo que assegura o crescimento industrial.

Segurança energética e oportunidades de exploração

A questão da “segurança energética” foi amplamente debatida, especialmente à luz da guerra na Ucrânia, que tem pressionado os mercados globais de energia. Haitham Al Ghais, Secretário-Geral da OPEC, enfatizou que a África desempenha um papel vital na segurança energética global, à medida que os países importadores procuram diversificar as suas fontes de energia. Ele mencionou que a demanda por Gás Natural Liquefeito (LNG) de países africanos, como Moçambique e Nigéria, continuará a crescer, principalmente por parte da Europa, que busca reduzir sua dependência do gás russo.

Sebastião Gaspar Martins, CEO da Sonangol (Angola), apresentou os planos ambiciosos de Angola para aumentar a sua produção de petróleo, ao mesmo tempo que trabalha para diversificar sua economia. Angola, com novos campos de petróleo offshore, continua a ser um dos maiores produtores da África subsaariana e está a atrair atenção de grandes empresas petrolíferas internacionais.

Desafios de financiamento e investimentos

Outro tema-chave durante o evento foi o financiamento de novos projectos de petróleo e gás, num momento em que muitas instituições financeiras internacionais estão a afastar-se do financiamento de combustíveis fósseis, em favor de investimentos em energias renováveis. Paul Sinclair, Vice-Presidente de Energia e Director de Relações Governamentais do AOW, destacou que o continente precisa de atrair investimentos estratégicos para continuar a desenvolver os seus recursos energéticos, ao mesmo tempo que promove a sustentabilidade. Ele observou que as parcerias público-privadas e a inovação em modelos de financiamento serão essenciais para superar os desafios colocados pela transição energética.

A presença de grandes bancos de desenvolvimento e instituições financeiras africanas no evento destacou que, embora o financiamento global de combustíveis fósseis esteja a diminuir, ainda há apetite por projectos de petróleo e gás que possam apoiar o desenvolvimento socioeconómico e fornecer receitas necessárias para financiar a transição para fontes de energia mais limpas.

Tecnologia, sustentabilidade e inclusão social

A adopção de tecnologias inovadoras para optimizar a exploração de petróleo e gás e reduzir as emissões de carbono foi outro ponto de destaque. A automação, o uso de inteligência artificial e novas abordagens para melhorar a eficiência das operações no setor foram apresentadas como cruciais para a competitividade de África no mercado energético global. Além disso, as discussões também abordaram a necessidade de responsabilidade social corporativa, garantindo que os projetos de energia beneficiem diretamente as comunidades locais, criando empregos e melhorando a infraestrutura.

Egbert Faibille Jr, Director Executivo da Petroleum Commission do Gana, destacou que, além de atrair investimentos, é vital que os países africanos assegurem que as suas populações colham os benefícios dos projetos energéticos. A inclusão de comunidades locais nas cadeias de valor de petróleo e gás, através de programas de desenvolvimento e transferência de tecnologia, foi vista como fundamental para garantir o desenvolvimento sustentável e equitativo.

O Africa Oil Week 2024 deixou claro que, enquanto África ainda depende fortemente de hidrocarbonetos para o crescimento económico, há um movimento crescente em direcção à diversificação e à transição energética. O gás natural, em particular, foi identificado como uma energia de transição essencial, fornecendo uma ponte entre as energias fósseis e renováveis.

Os desafios de financiamento e de investimento foram amplamente debatidos, mas a mensagem final do evento foi de optimismo cauteloso. África continua a oferecer enormes oportunidades para investidores no sector energético, desde que os projectos sejam sustentáveis e equitativos. A necessidade de parcerias internacionais, de adopção de novas tecnologias e de uma abordagem equilibrada para a transição energética são os principais takeaways do evento.

Realizado pela primeira vez em 1994, o Africa Oil Week consolidou-se como o principal evento do sector de petróleo e gás em África, atraindo decisores políticos, empresas petrolíferas e investidores globais. Com quase três décadas de história, o AOW tem sido uma plataforma essencial para a assinatura de acordos estratégicos, promovendo parcerias e investimentos cruciais para o desenvolvimento energético do continente. A sua importância reside na capacidade de reunir líderes globais e regionais para discutir não apenas o presente, mas o futuro do sector, equilibrando as necessidades de desenvolvimento com os desafios da transição energética.

Fonte: O Económico

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