Para lá das palavras politicamente corretas e das demonstrações públicas de urbanidade, como classificar a transição no FC Porto?
Há coisas que não são fáceis de entender; outras que são mesmo muito difíceis de compreender; e, finalmente, existe um terceiro nível, que engloba o que é impossível de assimilar, independentemente do prisma por que seja observado. A decisão da SAD cessante do FC Porto de se agarrar à letra da lei, mantendo-se em funções até ao último dia, prejudicando a preparação da nova temporada por quem irá suceder-lhes, entra, claramente, neste último compartimento. Por um lado porque a equipa de André Villas-Boas não tem, até assumir a SAD, legitimidade formal para fazer ou desfazer contratos; por outro, sem acesso às contas, sem saber exatamente com que poderá contar, torna-se impossível estabelecer metas e objetivos, que podem cair por falta de meios para executá-los.
Numa altura do ano futebolístico em que o tempo corre a velocidade da luz, o mês que os novos dirigentes do FC Porto vão perder em função da colagem às cadeiras dos administradores que estão de saída, poderá causar danos irreparáveis à execução dos planos que têm para o clube. Dito tudo isto, que parece absolutamente óbvio, resta a pergunta fundamental, decisiva e dramática: porquê? Nenhuma das respostas que podem ser encontradas é satisfatória, muito menos abonatória para a equipa de Pinto da Costa, e qualquer uma delas abre as portas a especulações, todas elas desaguando no estuário do prejuízo imediato e mediato do FC Porto. Depois do ato eleitoral de 27 de abril, concluído com a demonstração esmagadora do desejo de mudança dos sócios portistas, esta transição, por mais palavras politicamente corretas e demonstrações públicas de urbanidade que possam acontecer, mais do que tumultuosa está a ser simplesmente vergonhosa.
O jornalismo, como o conhecemos ao longo de décadas, acabou, dando lugar a uma nova forma de comunicar, mais distante dos acontecimentos e dos protagonistas, mas de consumo mais alargado e imediato. Num mundo em mudança, há que não tentar parar o vento com as mãos, e aceitar, com um esforço de adaptação, a nova realidade. Com o desaparecimento de Fernando Emílio foi-se uma peça importante do antigo edifício da comunicação social, repórter excelentíssimo e self made man, que teria muito para ensinar sobre jornalismo às novas gerações.
Fonte: A Bola