De acordo com a Associação Comercial da Beira (ACB), o Porto da Beira continua a registar perdas sucessivas de cargas a favor do Porto de Dar-es-Salam, devido à ineficiência dos corredores nacionais. A agremiação estima que 500 mil toneladas foram desviadas este ano para o porto da capital tanzaniana.
“Dizem que as nossas estatísticas melhoraram em relação ao ano passado em 2, 3 ou 5%, mas eu digo que sim, podia ter sido 20%. Então, as pessoas pegam esses números como se fosse um desempenho positivo dos nossos corredores, está errado, nós estamos a perder cargas em relação ao Dar Es Salam. Este ano só já foram desviadas para Dar Es Salam mais de 500 mil toneladas. “Até adubo para Zimbabwe está a ser descarregado em Dar es Salam. Então, há ineficiências do nosso corredor que (liga a Beira ao Zimbabwe) que não podemos esconder”, disse.
A informação foi partilhada pelo Presidente da Associação Comercial da Beira, Félix Machado, durante um evento organizado pelo First National Bank (FNB), com o tema “Transporte e Logística em Moçambique”
Félix Machado acrescentou que dentre os vários factores que contribuem para afastar cargas do Porto da Beira para Dar-es-Salam, na Tanzânia, destacam-se as deficientes vias de acesso, tanto rodoviária bem como ferroviária, burocracias aduaneiras, corrupção e existências de várias empresas incluindo as do Estado, que prestam serviços duvidosos, aumentando assim os custos de transacção.
No entanto, Machado entende que a complexidade burocrática e aduaneira, por conta da existência de várias “empresinhas” que propiciam a corrupção no desembaraço de cargas e aumento do custo das mesmas, afugentam cargas do Porto da Beira.
“Se essas instituições são importantes, vamos rever a sua estrutura. Mas nos outros corredores, esses serviços e essas “empresinhas” não existem. Ou o dinheiro vai para o Governo ou não se cobra. Mas nós, aquilo que é da responsabilidade do Governo, acabamos criando “empresinhas”, argumentou
Na mesma abordagem, o presidente da ACB avançou que a solução para alavancar o sector de logística e transporte é a união de esforços entre o Governo e o Sector Privado na perspectiva de serem claramente definidas que o país pretende desde custos, benefícios, eliminação da burocracia e corrupção.
“Parece que há ideias diferentes por causa da existência de vários intervenientes, cada um quer puxar para o seu lado e no fim ninguém entende a ninguém, e depois surgem esses problemas”, acrescentou
Por seu turno, os caminhos de Ferro de Moçambique dizem que esforços continuam no sentido de aumentar cada vez mais a capacidade de transporte de mercadorias, a segurança e fluidez de cargas, principalmente na linha de Machipanda em coordenação com a sua congénere do Zimbabué.
“Moçambique já fez a sua parte até à estação de Machipanda. Do lado do Zimbabué há alguns desafios. E por conta das boas relações existentes entre as duas ferroviárias, temos estado a fazer melhoramentos do lado do Zimbabué, onde é necessário a fluidez de carga”, disse Hedie Soberano, representante dos Caminhos de Ferro de Moçambique
No ano transacto, durante a abertura do fórum de negócios para o Corredor da Beira, o Ministro dos Transportes e Comunicações, Mateus Magala disse que o Governo está apostado em maximizar o potencial do Porto da Beira e tem previsto investir 290 milhões de dólares norte-americanos na expansão e modernização do da infra-estrutura, um dos mais importantes de Moçambique e que serve outros países da região.
O Ministro, avançou igualmente que os estudos já realizados apontam para um incremento exponencial do volume de contentores manuseados neste porto, em torno de 300%, nas próximas duas décadas.
Assim, como resultado destes investimentos, a capacidade de manuseamento de contentores passará dos atuais 300 mil para 700 mil contentores por ano, entre outras melhorias, como o aumento da capacidade de manuseamento de carga geral, armazenamento, acessos e outros.
Os portos moçambicanos movimentaram em 2023 mais de 63 mil toneladas de mercadorias, um aumento de 12,3% face a 2022, praticamente metade a partir de Maputo, segundo dados da execução orçamental
Este desempenho contrasta com o movimento portuário de 56,1 mil toneladas de Janeiro a Dezembro de 2022, mas alguns portos até registaram quebras no ano passado.
No porto de Maputo, o maior do país, foram movimentadas mais de 31,2 mil toneladas de mercadorias, um aumento de 16,7% face a 2022, seguido do porto de Nacala-Velha, com 13,8 mil toneladas (+20,3%), do porto da Beira, com 13,6 mil toneladas (-1,3%) e do porto de Nacala, com três mil toneladas (+14,9%).
Por outro lado, a “redução da produção de manuseio de combustível e magnetite” influenciou o movimento no porto de Beira.
Com efeito foi aprovado o Plano de Negócios do Porto da Beira, no qual está o montante em referência que deverá ser aplicado nos próximos 15 anos em intervenções de expansão e modernização do Porto, dependendo das condições do mercado.
De ressaltar que o Porto da Beira desempenha um papel vital no Corredor da Beira, conectando-se às linhas ferroviárias Beira-Bulavaio (ou Machipanda) e Sena, que transportam produtos do Malawi e Zimbabué. Recentemente, o porto recebeu um dos maiores navios de carga já registados.
Recorde-se que os pronunciamentos da ACB contrastam com as avaliações internacionais que tem abonado a favor do Porto da Beira. Em Maio do ano passado o Terminal de Contentores do Porto da Beira, concessionado à Cornelder de Moçambique (CdM), registou uma subida de 47 pontos no CPPI-Índice de Desempenho dos Portos Gestores de Terminais de Contentores referente ao ano 2022, tendo saído do 270˚ para o 223˚ lugar (num total de 348 portos avaliados, a nível mundial), consolidando a sua posição como o porto de contentores mais eficaz da África Austral.
Os factores do progresso foram atribuídos às diversas medidas estratégicas adoptadas pela concessionária do Porto da Beira, a Cornelder de Moçambique, com destaque para investimentos em infraestruturas e equipamentos, assim como na melhoria da eficiência e produtividade.
Sendo o segundo maior porto de Moçambique, o Porto da Beira é um motor relevante da economia do País e uma importante porta de entrada para o comércio com os países da região, movimentando uma grande variedade de carga contentorizada e a granel.
Fonte: O Económico