Os responsáveis da Reserva Federal reduziram as suas expectativas de cortes nas taxas de juro este ano, embora o Presidente Jerome Powell tenha mantido a porta aberta para mais, ao sublinhar que as novas previsões representavam uma abordagem conservadora.
As projecções económicas actualizadas dos decisores políticos, publicadas após uma reunião de dois dias em Washington, na quarta-feira, 12 de Junho, mostraram que esperavam reduzir os custos dos empréstimos apenas uma vez em 2024, em vez das três reduções previstas anteriormente, de acordo com a sua estimativa média.
Também aumentaram as suas previsões para a inflação, mesmo depois de melhores dados sobre os preços no consumidor, publicados no início do dia, terem sido motivo de optimismo.
“Ainda existe a possibilidade de dois cortes nas taxas este ano, a começar já em Setembro, mas eles precisam que os dados sejam cumpridos e reforcem a sua confiança”, disse Kathy Bostjancic, Economista-Chefe da Nationwide Mutual Insurance Co. Eles estão a errar pelo lado do conservadorismo. Acho que a porta ainda está aberta”.
O Comité Federal de Mercado Aberto do banco central dos EUA, que define as políticas, decidiu manter a sua taxa de referência num intervalo de 5,25% a 5,5%, o nível mais elevado em mais de duas décadas, pela sétima reunião consecutiva. Actualmente, os investidores prevêem duas reduções das taxas este ano, com probabilidades superiores a zero de uma primeira redução em Setembro, de acordo com os contratos de futuros.
No início do dia, o Bureau of Labor Statistics publicou números que mostram que uma medida fundamental da inflação subjacente arrefeceu pelo segundo mês consecutivo em Maio, após leituras elevadas no início do ano.
Powell considerou os números “encorajadores” e deu a entender que os novos valores do índice de preços no consumidor poderão não estar totalmente reflectidos nas últimas projecções trimestrais dos decisores políticos.
Embora o comité tenha sido informado sobre esses números, disse que “a maioria das pessoas geralmente não” actualiza as suas projecções quando esses dados chegam a meio das reuniões de política. As autoridades aumentaram a sua previsão para a inflação, excluindo alimentos e energia, de 2,6% para 2,8% em 2024, o que implica poucos progressos adicionais ao longo do ano em relação aos níveis actuais.
O Presidente Powell utilizou a conferência de imprensa para diminuir a importância destas projecções e fez questão de indicar que a “maioria” dos funcionários provavelmente não incorporou a leitura da inflação de hoje, mais suave do que o esperado, nas suas projecções económicas e “pontos”, tornando-os obsoletos”, disseram os economistas do Citigroup Inc., liderados por Andrew Hollenhorst, numa nota aos clientes, referindo-se ao “gráfico de pontos” das projecções das taxas.
Ao tentar determinar o momento adequado para a redução das taxas, a Fed debate-se com a incerteza quanto ao impacto que a política monetária restritiva está a ter na economia. O crescimento do emprego e os gastos dos consumidores têm sido surpreendentemente resistentes, apesar dos elevados custos dos empréstimos. A inflação, entretanto, arrefeceu substancialmente após uma forte aceleração durante a pandemia, embora ainda permaneça acima do objectivo de 2% da Fed.
Divisão apertada
O Presidente da Fed disse que os responsáveis estão a considerar cuidadosamente os riscos ascendentes e descendentes. Também sublinhou a existência de uma divisão no seio do comité: O “gráfico de pontos” mostrou que sete funcionários esperavam um corte nas taxas este ano, enquanto oito viram dois e quatro não esperavam nenhum.
“Powell apoiou-se realmente na divisão estreita entre a mediana de um corte e o modo de dois cortes, ao passo que, da última vez, quando a mediana de março implicava três cortes – com muitos para menos – ele estava bastante satisfeito por não fazer nada”, disse Derek Tang, economista da LH Meyer/Monetary Policy Analytics.
As autoridades também elevaram as suas estimativas quanto à fixação das taxas a longo prazo para 2,8%, face a 2,6% na reunião de Março, de acordo com a mediana das projecções. O aumento, após uma ligeira subida em Março, foi alimentado em parte pela recente resistência da economia.
“As pessoas têm vindo a aumentar gradualmente a taxa de juro, porque penso que as pessoas estão a chegar à conclusão de que é menos provável que as taxas desçam para os níveis anteriores à pandemia”, afirmou Powell.
Alguns responsáveis, incluindo a Presidente da Fed de Dallas, Lorie Logan, afirmaram que os custos mais elevados dos empréstimos podem não estar a abrandar a economia tanto quanto se pensava anteriormente. Outros, como o Presidente da Fed de Nova Iorque, John Williams, afirmam que a política está bem posicionada para fazer descer a inflação para o objectivo da Fed.
“A questão de saber se é suficientemente restritiva será conhecida com o tempo”, disse Powell. “As provas são bastante claras de que a política é restritiva e está a ter os efeitos que esperamos”.
Fonte: O Económico
