A economia global continua notavelmente resiliente, com crescimento estável e inflação desacelerando quase tão rapidamente quanto cresceu. A avaliação é do conselheiro econômico e diretor de pesquisa do Fundo Monetário Internacional, FMI. Pierre-Olivier Gourinchas avalia que a economia mundial deve continuar crescendo a 3,2% em 2024 e 2025, no mesmo ritmo de 2023.
Após o lançamento do relatório Perspectivas Econômicas Mundiais, nesta terça-feira, ele listou as questões que impactaram as finanças globais, desde as interrupções na cadeia de suprimentos após a pandemia e a crise de energia e alimentos causada pela guerra na Ucrânia, até o aumento na inflação, seguido por um aperto da política monetária.
Outros resultados
No Brasil, espera-se que o crescimento se modere para 2,2% em 2024 devido à consolidação fiscal, aos efeitos defasados da política monetária e a uma menor contribuição da agricultura. Para Portugal, a estimativa é um crescimento de 1,5% este ano e de 1,9% em 2025.
O estudo do FMI sugere uma ligeira aceleração nas economias avançadas, onde se espera que o crescimento aumente de 1,6% em 2023 para 1,7% em 2024 e 1,8% em 2025.
Estima-se uma modesta desaceleração nos mercados emergentes e nas economias em desenvolvimento, de 4,3% em 2023 para 4,2% em 2024 e 2025. A previsão de crescimento global daqui a cinco anos, de 3,1%, é a mais baixa em décadas.
O levantamento ainda prevê que a inflação global diminua constantemente, de 6,8% em 2023 para 5,9% em 2024 e 4,5% em 2025, com as economias avançadas retornando às suas metas de inflação mais cedo do que os mercados emergentes e as economias em desenvolvimento. De modo geral, a projeção é de que o núcleo da inflação diminua mais gradualmente.
Tensões globais
Sobre outro estudo divulgado pelo FMI, o relatório sobre Estabilidade Financeira Global, o diretor do departamento de Mercados Monetários e de Capitais do FMI, Tobias Adrian, avaliou que um sentimento de otimismo permeou os mercados financeiros nos últimos meses, em meio à confiança dos investidores de que a luta contra a inflação está entrando em sua “última milha” e que os bancos centrais flexibilizarão a política monetária nos próximos meses.
O FMI prevê desafios, com tensões geopolíticas podendo se intensificar e pesar sobre o sentimento dos investidores. O setor imobiliário comercial também poderia aumentar a pressão sobre alguns credores. Os mercados financeiros da China continuaram a ser afetados por problemas contínuos no setor imobiliário.
Recomendações
Para Tobias Adrian, os bancos centrais devem garantir que a inflação diminua, não flexibilizando as políticas prematuramente nem as adiando por muito tempo. Ele avalia que as economias emergentes e de fronteira devem intensificar os esforços para conter as vulnerabilidades da dívida.
Segundo o representante do FMI, os supervisores e os órgãos reguladores devem monitorar e gerenciar o risco de crédito, especialmente no mercado imobiliário, a fim de mitigar o impacto sobre os bancos e outras instituições financeiras.
Por fim, as ameaças cibernéticas podem ter um impacto sobre a economia em geral. Os supervisores, reguladores e empresas financeiras devem fortalecer a resiliência cibernética do setor financeiro”, explicou Adrian.
Reforma do sistema financeiro global
Ainda sobre o sistema financeiro global, na segunda-feira, o secretário-geral da ONU, António Guterres, voltou a defender uma reforma urgente do sistema financeiro global. As medidas incluem lidar com o alívio da dívida em nome dos bilhões de cidadãos que vivem nos países em desenvolvimento.
Ao discursar em uma reunião de alto nível da Assembleia Geral sobre a sustentabilidade da dívida, Guterres destacou o impacto da dívida nas economias em desenvolvimento. Ele ressaltou que o ônus do serviço da dívida externa deixa muitos países com poucos recursos para investir em serviços que beneficiem sua própria população.
De acordo com os números das Nações Unidas, em 2023 a dívida pública mundial atingirá US$ 313 bilhões, sendo a situação particularmente alarmante nas economias em desenvolvimento.
Mais de um quinto das receitas fiscais de 25 países em desenvolvimento foi destinado ao serviço da dívida externa, enquanto os custos extremamente altos dos empréstimos levaram países com uma população combinada de cerca de 3,3 bilhões, cerca de 40% da população mundial – a gastar mais em pagamentos de juros do que em iniciativas de saúde ou educação.
Fonte: ONU