O Banco Central Europeu (BCE) decidiu cortar as taxas de juro pela terceira vez este ano, reduzindo a taxa de depósito para 3,25%, uma queda de 0,25 pontos percentuais. Esta decisão era amplamente esperada pelos analistas, especialmente após a inflação ter recuado para abaixo de 2% em Setembro, o menor nível desde 2021. O BCE indicou que espera completar o processo de controle dos preços “no decorrer do próximo ano”, ajustando uma previsão anterior que colocava esse marco apenas no segundo semestre de 2025.
Inflação em desaceleração e impacto nas políticas monetárias
A recente queda da inflação para 1,7% reflecte o progresso no processo de desinflação, um dos principais objetivos da política do BCE. No entanto, os riscos para o crescimento permanecem significativos. Christine Lagarde, Presidente do BCE, declarou que, apesar de os riscos estarem mais inclinados para o lado negativo, a Europa ainda está numa trajetória de “aterragem suave”, descartando, por enquanto, uma recessão. Contudo, a confiança dos consumidores e investidores permanece frágil, e isso poderá atrasar a recuperação do consumo e do investimento.
A diminuição das taxas de juro pretende aliviar as pressões sobre a economia da zona euro, que tem mostrado sinais de enfraquecimento, especialmente com a desaceleração da actividade do sector privado e sinais de fragilidade no mercado de trabalho. Estes factores contribuíram para que o BCE optasse por reduzir as taxas num esforço de manter as condições de crédito favoráveis.
Perspectivas futuras: cortes contínuos e desafios geopolíticos
Os mercados preveem mais cortes nas próximas reuniões do BCE, possivelmente já em Dezembro, para continuar a apoiar a recuperação económica. No entanto, os analistas indicam que a trajectória de cortes poderá abrandar em 2025, com a taxa de depósito a atingir cerca de 2% até ao final desse ano. Esta meta está dentro do intervalo estimado pelos analistas como uma taxa neutra, ou seja, uma taxa que não estimula nem restringe a atividade económica.
Paralelamente, o BCE está atento a vários riscos geopolíticos e económicos globais. A instabilidade no Oriente Médio e a potencial implementação de tarifas comerciais adicionais em caso de reeleição de Donald Trump nos Estados Unidos representam ameaças ao otimismo do mercado europeu. Além disso, a economia alemã, a maior da zona euro, continua a enfrentar desafios, com uma procura externa mais fraca, especialmente da China, e o risco de uma nova desaceleração.
Reacções dos mercados financeiros
A reacção inicial dos mercados foi relativamente contida. As obrigações alemãs a 10 anos mantiveram-se estáveis, com rendimentos ligeiramente superiores a 2,20%. Os mercados de swaps indicam que os investidores já tinham precificado outro corte de 0,25 pontos em Dezembro, o que reforça a expectativa de uma política monetária acomodatícia ao longo do próximo ano.
No geral, a terceira redução de taxas pelo BCE é percebida como abordagem contínua da instituição para mitigar os riscos de uma desaceleração económica mais acentuada. Embora o BCE aponte para uma recuperação suave, permanecem incertezas significativas, tanto a nível económico como geopolítico. Com a inflação a desacelerar mais rapidamente do que o esperado, os próximos meses serão cruciais para determinar se o BCE continuará a reduzir as taxas ou se adotará uma abordagem mais cautelosa à medida que a recuperação económica se desenrola.
Fonte: O Económico