PME-Export: O desafio de capacitar tecnicamente as empresas em sintonia com as exigências do mercado internacional

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O PME-Export apresenta-se como a principal resposta do IPEME para minimizar os desafios enfrentados pelas micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) em Moçambique em matéria de exportações. O objectivo é claro: capacitar essas empresas para exportar e competir internacionalmente. No entanto, à medida que o projecto avança, surgem dúvidas sobre a sua real capacidade de preparar as empresas para enfrentar os mercados globais.

A entrevista de Joaquina Daniel Gumeta, Directora-Geral do IPEME, sublinha os esforços em áreas como certificação de qualidade, literacia tecnológica, e logística internacional. Contudo, o próprio processo de certificação pode ser uma barreira para muitas PMEs. Embora Gumeta defenda que a certificação é essencial para a competitividade internacional, a realidade é que o processo pode ser dispendioso e complexo. Para pequenas empresas que ainda lutam para formalizar as suas operações, essa exigência parece ser um obstáculo mais do que uma vantagem.

A dependência das incubadoras tecnológicas também merece uma análise mais crítica. Embora programas como a incubadora de Chimoio ofereçam um suporte significativo, a questão central é: até que ponto estas empresas conseguem tornar-se independentes?  A formação técnica é essencial, mas muitas empresas continuam a depender de apoios externos para manter a produção e atender às exigências dos mercados internacionais. Esta dependência pode limitar a capacidade de inovação e crescimento sustentável, deixando as empresas à mercê de um apoio institucional que nem sempre será garantido.

Além disso, as incubadoras têm produzido resultados limitados fora de áreas específicas, como o agronegócio. Apesar de produtos como oleaginosas e plantas medicinais demonstrarem potencial, a maioria das PMEs ainda está longe de alcançar a consistência de produção e a escala necessária para competir globalmente. Gumeta enfatiza a importância de mercados preferenciais como o AGOA, mas será que as empresas estão a tirar pleno proveito destas oportunidades? A preparação para exportar vai além de apenas aceder ao mercado – exige uma logística eficiente e a capacidade de fornecer quantidades exportáveis de forma consistente, algo que muitas empresas ainda não conseguem garantir.

No campo do financiamento, o PME-Export também enfrenta desafios significativos. Apesar das parcerias com instituições financeiras e linhas de crédito, o acesso ao capital continua a ser uma barreira para muitas PMEs. O problema é que os fundos disponíveis nem sempre se adequam às necessidades das empresas que, frequentemente, necessitam de apoio contínuo e personalizado. Mais preocupante ainda é o facto de que, em alguns casos, as empresas nem sequer conseguem reunir os requisitos necessários para aceder ao financiamento, criando uma situação em que apenas uma pequena parte do setor beneficia dos apoios oferecidos.

Portanto, o PME-Export ainda tem muito a fazer para garantir que as MPMEs moçambicanas estejam realmente preparadas para enfrentar os mercados internacionais. O foco em capacitação técnica é fundamental, mas será necessário um maior esforço para garantir que as empresas consigam não apenas competir, mas também crescer de forma autónoma e sustentável. Sem uma estratégia de longo prazo que vá além da dependência de incubadoras e financiamento pontual, o programa corre o risco de ser mais uma solução parcial para um problema estrutural profundo.

Fonte: O Económico

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