O foco actual da economia de Moçambique deve ser a produção – Fernando Lichucha

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Moçambique deve centrar-se em acções que impulsionem, a produção e a produtividade, que dinamizem os sectores produtivos e o tecido empresarial, caso queira alcançar níveis satisfatórios de crescimento económico abrangente e sustentável e reduzir a dependência da ajuda externa

“A produção é que vai ditar a qualidade da política fiscal, porque é onde a fonte da tributação”, afirmou o economista Fernando Lichucha, Director da Faculdade de Economia da Universidade Eduardo Mondlane (FEUEM), a maior e mais antiga universidade de Moçambique.

O Director da FEUEM, em entrevista ao “Semanário Económico”, afirmou que sem um tecido empresarial satisfatório, sem olhar para questão da produção, o caminho para o desenvolvimento vai ser sinuoso e com resultados frágeis e desapontantes.

“Eu acho que vamos levar muito mais tempo e para ter muito pouco, face aquilo que se espera e se deseja”. Disse Lichucha.

Reflectindo sobre os 49 anos da independência de Moçambique, disse que   o período de quase meio século, “significa o fim de uma geração e o início de uma nova geração.”, e que é preciso potenciar as capacidades da geração emergente, muito mais informada e melhor formada.

“E nós temos assistido isso, capacidade de leitura, capacidade de reflexão dos problemas que nos são apresentados”, disse o Director da FEUEM.

Para ele, os 49 anos de independência tiveram o mérito de proporcionar aprendizado, e que é chegado o momento de “utilizar esse conhecimento acumulado, os erros cometidos, para que não voltemos a cometer as mesmas coisas, as mesmas falhas, e pensemos em coisas melhores e ponderadas”.

Fernando Lichucha destacou a formação do capital humano como um dos maiores ganhos conseguidos com a Independência Nacional, a 25 de Junho de 1975.

Fernando Lichucha acredita que se houver acerto nas decisões Moçambique não precisará de outros 49 anos para se desenvolver. Pode cortar etapas do processo sem comprometer a consistência do resultado final. 

“Não vamos precisar dos 49 anos para resolver os problemas que nós estamos a ter. Eu até posso dizer que dentro de 10 anos, estaremos muito melhor do que antes de 2014 ou 2015”. Frisou na sua reflexão.

Apontou que uma das prioridades dever ser dada a atracção do capital. O Pais deve se estruturar para ter condições de atrair o capital, oferecer condições de mercado para que os agentes económicos, o tecido empresarial, invista na economia.

“O capitalismo é um mundo de concorrência, de competição, em que todos concorrem para recursos. Todos os países. E nós temos que nos enquadrar, temos que nos posicionar nessa concorrência por investimentos”. Frisou.

 

É preciso poupança

 O economista sublinhou que o Pais precisa de ter poupança e essa poupança advirá da produção.

“A produção é que vai melhorar o rendimento das pessoas. O rendimento das pessoas. É esse rendimento que se vai repartir em consumo e poupança”. Realçou 

“Sem esses elementos, essas premissas básicas, produção, rendimento, não temos como”. Alertou.

Instado a reflectir sobre a existência dos fundamentos para criação da poupança, dadas as circunstâncias do País, Fernando Lichucha, tem o entendimento que, a experiência dos 49 anos de independência deve ser colocada ao propósito desse presságio, e voltou a frisar a pertinência da aposta na produção. Para ele o País deve produzir.  Deve se empenhar na produção.

“Falando honestamente, eu acho que estamos enfraquecidos na área da produção, no tecido empresarial. Estamos extremamente enfraquecidos. Somos fortes, portanto, na área administrativa, na área de gestão de processos”. Disse.

Lichucha critica o pendor que se tem dados a área dos processos, da burocracia, em detrimento da produção, e foi peremptório: 

“Esses processos não têm expressão nenhuma, enquanto não forem sustentados por actividades concretas, produtivas. Nós temos que sair dos gabinetes, da burocracia, dar mais prioridade à área produtiva.”.

O Director da FEUEM desafiou os actuais candidatos a presidência da República a indicarem nos seus manifestos eleitorais, quantas fabricas e empregos serão criados com as políticas que pretendem implementar durante os seus mandatos. Para ele essa é uma questão premente.

“Os manifestos dos candidatos à presidência da República, que incluam o número de fábricas que vão facilitar a sua construção durante o seu mandato, a sua localização e o número de pessoas que serão empregues nessas fábricas”. Afirmou, sublinhando que “sem produção não vamos a sítio nenhum”.

Lichucha recordou a situação actual do parco sector produtivo existente, depauperado em termos de capital e indicou que acções concretas que precisam ser encetadas para capitalização do sector produtivo através de instituições especializadas para o efeito, como bancos e fundos de desenvolvimento, desde que voltados para os sectores produtivos, resumindo, tal como diz, “dinheiro para fomentar a produção”.

“Tem que haver dinheiro aqui, meu irmão. Dinheiro para ser investido. Investido em actividades produtivas”

“E com a responsabilidade de devolução deste dinheiro. Não há caridade aqui”.

Lichucha critica ainda a eficácia do capital humano, com muitas especialidades a não exercerem funções ligadas à sua área de formação. Para ele essa discrepância deve acabar. 

“Nós temos que trabalhar com as mentes das pessoas e dizer às pessoas não é só no gabinete onde se ganha dinheiro. Fora do gabinete, ganha-se mais dinheiro do que no gabinete”. 

“Qualquer pessoa que está a estudar não pensa em pegar a enxada, não pensa em fazer uma fábrica, mas sim pensa em ter um emprego”. Apontou

“Um veterinário está no banco. Está no caixa. Está a receber depósitos. Descontar cheques, Um veterinário. É o exemplo. E isso é verdade, e é triste.

Fonte: O Económico

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