Exclusão de financiamento de projectos de Gás em África pelo G7 ameaça transição energética – CEO da TotalEnergies

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O CEO da TotalEnergies, Patrick Pouyanne, lançou uma dura crítica às políticas energéticas do G7 durante sua participação no evento ONS 2024, realizado nesta semana. 

O ONS 2024, também conhecido como Offshore Northern Seas 2024, é um evento internacional de energia que ocorre em Stavanger, na Noruega. Tradicionalmente, o evento é realizado bienalmente, no final de agosto. Em 2024, o evento decorre em Stavanger, Noruega, de 26 a 29 de Agosto.

Este evento reúne líderes da indústria de energia, especialistas e formuladores de políticas para discutir questões críticas relacionadas ao sector, incluindo a transição energética, novas tecnologias e desafios globais de energia. As declarações de Patrick Pouyanne, CEO da TotalEnergies, sobre as políticas de financiamento de projectos de gás na África, foram feitas durante uma das sessões desse evento.

Num painel de debates, Pouyanne destacou que a decisão dos países do G7 de não financiar projectos de gás natural em África representa um risco significativo para a transição energética global e pode prejudicar o desenvolvimento económico do continente.

Um combustível crucial para a África

De acordo com Pouyanne, o gás natural é um elemento vital na matriz energética de África, sendo essencial para a industrialização e para o fornecimento de energia acessível e confiável à população. “Quando vi que os países do G7 decidiram não financiar o gás em África… não entendo o que estamos a fazer no mundo ocidental”, disse ele aos participantes do evento. “Sinceramente, precisamos revisitar essa política de exclusão. Nunca conseguiremos gerir a transição pela exclusão. Só será possível com cooperação e soluções pragmáticas.”

A crítica de Pouyanne foi apoiada por Amani Abou-Zeid, Comissária de Infraestruturas e Energia da União Africana, que reforçou que o gás natural é um combustível de transição indispensável para o continente. “Continuaremos a aumentar a participação das energias renováveis na nossa matriz energética, mas não podemos prescindir do gás natural — isso é certo”, afirmou Abou-Zeid.

 

Contradições nas políticas de Investimento

A decisão do G7 de excluir o financiamento de projectos de gás natural em África contrasta com seus compromissos de investir em outras infraestruturas no continente, como o corredor ferroviário destinado à extração de minerais da República Democrática do Congo e da Zâmbia. Essa postura foi vista como contraditória por Pouyanne, que argumenta que a transição energética deve ser inclusiva e adaptada às realidades regionais.

 

O Papel do GLP na Transição Energética

Durante o painel, Pouyanne também destacou o papel fundamental do gás liquefeito de petróleo (GLP) como uma solução para substituir o uso, em África,  de lenha e carvão para cozinhar, uma prática que causa aproximadamente 500.000 mortes anuais devido à poluição doméstica. A TotalEnergies está a investir 400 milhões de dólares no projecto Tilenga, no Uganda, que visa fornecer GLP para 50 milhões de pessoas em Ruanda, Tanzânia e Uganda.

Fatih Birol, Chefe da Agência Internacional de Energia (IEA), que também participou do painel, reconheceu a importância do GLP, mas ressaltou que ele é apenas uma das tecnologias necessárias para enfrentar o desafio da transição energética. Ainda assim, Birol concordou que o uso de GLP em toda a África poderia reduzir significativamente as emissões de gases de efeito estufa, contribuindo para o combate às mudanças climáticas.

 

Impacto socioeconómico

Amani Abou-Zeid enfatizou o impacto social positivo do GLP, especialmente para as mulheres e meninas, que tradicionalmente passam horas coletando lenha para cozinhar. “Em média, uma menina leva cerca de cinco horas todos os dias para recolher lenha ou o combustível necessário para cozinhar”, destacou Abou-Zeid. “Isso cria ‘pobreza de tempo’ e falta de educação para as mulheres. É inacreditável.”

As declarações de Patrick Pouyanne no ONS 2024 são interpretadas como inseridas numa uma crescente preocupação com as políticas de financiamento energético do Ocidente em relação à África. A exclusão de projectos de gás natural, um recurso considerado vital para o desenvolvimento do continente, pode minar os esforços globais de transição energética, especialmente em regiões onde o gás é uma solução pragmática e necessária. A discussão sugere que uma revisão dessas políticas será essencial para garantir uma transição justa e inclusiva, que atenda tanto às necessidades econômicas quanto às metas ambientais.

Recorde-se que em Moçambique, o projecto de GNL da TotalEnergies na Bacia do Rovuma, em Moçambique, é um dos maiores investimentos em energia em África, com potencial para transformar o país em um dos principais exportadores de gás natural liquefeito do mundo. Avaliado em cerca de 20 bilhões de dólares, o projecto já enfrentou vários desafios, incluindo questões de segurança devido à insurgência armada na província de Cabo Delgado. Actualmente, o projecto está suspenso desde 2021, com previsões de retoma dependendo da estabilização da situação de segurança.

Com efeito,    as declarações de Patrick Pouyanne sobre a importância do gás natural como um combustível de transição são directamente aplicáveis ao contexto do projecto de GNL em Moçambique. Assim como ele defende o papel crucial do gás natural para o desenvolvimento económico e energético em outras partes de África, o projecto na Bacia do Rovuma exemplifica essa necessidade. Para Moçambique, o desenvolvimento deste projecto não só atenderá às necessidades internas de energia, mas também fornecerá uma fonte significativa de receitas através das exportações.

Potencialmente a decisão dos países do G7 de não financiar projectos de gás natural em África pode ter implicações indirectas para projectos como o da Bacia do Rovuma. Embora o financiamento inicial do projecto tenha sido garantido, a postura do Ocidente pode influenciar futuros investimentos e a expansão de infraestruturas associadas, bem como a confiança de parceiros financeiros e operacionais. A continuidade e a viabilidade do projecto podem depender de uma política mais inclusiva e pragmática, como defende Pouyanne.

 

Segurança Energética e Desenvolvimento Regional

O projecto da Bacia do Rovuma não é apenas uma iniciativa de exportação, mas também um motor potencial para o desenvolvimento de Moçambique. As críticas de Pouyanne à exclusão de financiamento de gás natural sublinham a importância de tais projectos para garantir segurança energética em toda a África, criando empregos, desenvolvendo infraestruturas e fornecendo energia acessível.

As críticas de Patrick Pouyanne à exclusão de financiamento para o gás natural na África têm relevância directa para o projecto de GNL na Bacia do Rovuma. A retoma e o sucesso deste projecto são cruciais não apenas para Moçambique, mas para toda a região, representando um exemplo do potencial que o gás natural tem para contribuir para o desenvolvimento econômico e para a transição energética global. No entanto, a continuidade desses esforços dependerá de uma mudança nas políticas de financiamento ocidentais, que devem reconhecer o papel vital que o gás natural ainda desempenha em muitas partes do mundo.

Fonte: O Económico

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