Dimensão e dinamismo do mercado, expectativas exacerbadas e déficit de conhecimento sobre mercado de capitais

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A admissão das acções da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) à Bolsa de Valores de Moçambique (BVM) em 2019 constituiu um marco histórico para o mercado financeiro moçambicano, particularmente o mercado de capitais.

No entanto, o entusiasmo inicial deu lugar a uma certa frustração entre os investidores, devido aos retornos iniciais.

Para entender melhor o impacto dessa admissão na percepção dos investidores, é essencial analisar determinados momentos cruciais.

Quando as acções da HCB foram cotadas na BVM em 2019, a reacção dos investidores e analistas foi mista. Com efeito, havia dúvidas sobre a eficácia da Oferta Pública de Venda (OPV) em promover a inclusão financeira entre os moçambicanos, devido aos baixos níveis de poupança per capita e à alta desigualdade económica no País.

A primeira distribuição de dividendos da HCB em 2020 viria a sinalizar o primeiro desencontro de expectativas. A empresa distribuiu 0,064 Mts brutos por acção, correspondente a 28% dos lucros líquidos. Foram muitos os que manifestaram que os dividendos eram irrisórios em comparação com o preço de compra das acções, fixado em 3,00 Mts por acção.

A HCB vem apresentando resultados que confirmam uma tendência crescente ao longo do tempo, a receita líquida aumentou de 27,13 mil milhões de meticais em 2022 para 34,94 mil milhões de

meticais, um aumento de aproximadamente 28,78%, por sua vez o lucro líquido também apresentou um incremento de aproximadamente 41.37% de 2022 para 2023, saindo o lucro de 9,21 mil milhões de meticais para 13,02 mil milhões de meticais mostrando assim que o lucro está a crescer mais que a receita, o que revela a capacidade da empresa em gerir os seus custos operacionais e financeiros.

Entre 2021 e 2023, a HCB trabalhou para melhorar seus resultados financeiros, e isso se reflectiu em uma distribuição de lucros mais generosa. Em 22024 por exemplo, a empresa distribuiu 55% dos seus lucros líquidos de 2023, elevando o dividendo por acção para 0,27 Mts brutos por acção. Mas a dimensão de mercado, o mercado secundário é uma condicionante significativa, nesta altura.

Em entrevista sobre o assunto, concedida ao “Semanário Economico”, o especialista em mercados financeiros Vasco José, advertiu que os pequenos investidores, “ao tomar a decisão de investirem nas acções da HCB, tomaram em conta apenas para os dividendos como o principal ganho deste tipo de investimentos”. E acrescentou que, entretanto, ao tomar uma acção deve-se ter em conta que o seu retorno é uma grandeza múltipla. “Temos que olhar para os dividendos, mas também existe o ganho que decorre, da variação do preço das acções. Porque esperamos que, ao longo do tempo, o preço da acção possa variar, baixar ou aumentar”, acrescentou.

 

Considerando-se os dados acima evidenciados, pode-se depreender que a “frustração” inicial dos investidores se deve fundamentalmente, a falta de uma compreensão clara sobre o que eles poderiam esperar ao investir na empresa, aliada, a falta da literacia financeira básica sobre investimentos no mercado de capitais.

Olhando de perto para essas duas razões e igualmente fonte de desencontro de expectativas,  fica perceptível que persistem desafios, designadamente, a pertinência de a BVM prosseguir com a comunicação efectiva sobre os planos por detrás das OPVs, considerando-se que muitos investidores (principalmente os de pequena dimensão) não estão familiarizados com o funcionamento do mercado de acções e não entenderam os riscos e as expectativas realistas de retorno (mercado de médio e logo prazo), o que resultou em exacerbação de expectativas, cujas consequências são a desilusão quanto os dividendos, por estes  não estarem a atender às suas expectativas. 

O quadro acima remete, portanto, para a pertinência da continuidade de um programa de educação e literacia financeira. É crucial que a BVM e as empresas cotadas invistam em programas de educação financeira. Isso significa ensinar aos investidores como funcionam os mercados de acções, quais são os riscos e o que podem esperar em termos de retornos. Com mais conhecimento, os investidores podem tomar decisões mais informadas e realistas.

Há também a dimensão de “engajamento com investidores. Neste domínio específico é importante que as empresas cotadas criem canais directos de comunicação com seus investidores. Isso pode ser feito através de reuniões, webinars, e-mails e outros meios. Esses canais permitem que os investidores façam perguntas, obtenham respostas e se mantenham actualizados sobre as decisões e mudanças na empresa.

Um terceira perspectiva resultante tem que ver com a definição de uma “Política de Dividendos Coerente”. As políticas de dividendos das empresas cotadas devem ser claras e previsíveis. Isso significa explicar como e quando os dividendos serão pagos, e quais critérios são usados para determinar esses pagamentos.

Em conclusão, relativamente ao sentimento gerado na sequência dos dividendos que os investidores possam receber é mais uma expressão de frustração do que uma análise financeira precisa.

Fonte: O Económico

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