A Nova Era das Energias Renováveis: O Caminho da superação do carvão e os desafios para um futuro sustentável

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O mais recente relatório da Agência Internacional de Energia (IEA) projecta um marco histórico na transição energética global: a geração de electricidade a partir de fontes renováveis deve ultrapassar pela primeira vez a produção de energia a partir de carvão em 2025. Este avanço é, em grande parte, impulsionado pela rápida expansão da energia solar e eólica. No entanto, apesar desse progresso, a IEA adverte que o ritmo de crescimento das renováveis ainda não é suficiente para atingir o objectivo de Emissões Líquidas Zero até 2050, que estipula que 60% da eletricidade global deve vir de fontes renováveis.

Este cenário coloca em evidência a necessidade de intensificar as acções para enfrentar uma demanda global de electricidade maior do que o previsto, o que tem dificultado a eliminação gradual do carvão. O relatório da IEA destaca que a demanda por electricidade deve continuar a crescer, e que o declínio da geração de energia a carvão, inicialmente projectado para acontecer de forma mais rápida, será mais lento, com impactos que podem ser sentidos até 2035.

O Crescimento das Energias Renováveis no Sul Global

Enquanto isso, outro relatório recente oferece uma visão mais otimista ao destacar o rápido crescimento das energias renováveis no Sul Global, regiões da Ásia, África e América Latina. A energia solar e eólica já são, em muitos casos, mais baratas ou competitivas em termos de custo em relação ao carvão, especialmente na China. Este crescimento pode ser visto como um motor essencial para a transição energética, especialmente em países onde as necessidades de eletrificação e expansão da rede elétrica são elevadas.

A China, um dos maiores emissores de CO e líder mundial na produção de energia a partir de carvão, apresenta um cenário contraditório. Desde que o presidente Xi Jinping, em Setembro de 2021, comprometeu-se a parar de financiar novos projectos de carvão no exterior, vários projectos foram cancelados ou suspensos. No entanto, outros projectos continuam em fase de planeamento ou construção, reflectindo o desafio de alinhar a política com a prática.

Impacto das Políticas de Emissões de Metano no Sector de Carvão

Uma área que vem recebendo atenção crescente é a redução das emissões de metano das minas de carvão, uma fonte significativa de emissões de gases de efeito estufa. O metano, embora tenha um tempo de vida atmosférico mais curto que o dióxido de carbono, tem um potencial de aquecimento global 80 vezes maior em um período de 20 anos. As políticas globais para reduzir essas emissões começam a ter impacto em empresas de mineração.

Na Austrália, por exemplo, a Glencore e a Yancoal desistiram de um projecto massivo de expansão de uma mina de carvão depois que as autoridades estaduais expressaram preocupações sobre as emissões de metano. Este caso reflecte uma tendência crescente: os governos estão cada vez mais preocupados com o impacto ambiental das operações de mineração de carvão, especialmente no que diz respeito às emissões de metano, que têm sido negligenciadas por muito tempo.

A União Europeia também está a avançar com políticas agressivas para combater o metano. Um relatório recente da Roménia destaca que a nova regulamentação de metano da UE vai forçar mudanças drásticas na indústria de carvão do País, incluindo uma melhor gestão das minas de carvão abandonadas, que são uma fonte constante de emissões fugitivas de metano. Este esforço, alinhado com a meta de redução de emissões da UE, representa um desafio significativo para os países que ainda dependem fortemente do carvão.

A Realidade dos Desafios para a Transição Energética

Embora o crescimento das energias renováveis e o declínio da geração a carvão sejam passos encorajadores, a realidade do cenário energético global é complexa. A transição para um futuro de Emissões Líquidas Zero até 2050 não será um caminho linear. O aumento inesperado da demanda por electricidade, especialmente em países em desenvolvimento, combinado com a lentidão na redução do uso do carvão, mostra que os esforços actuais podem não ser suficientes para alcançar os objectivos globais.

Adicionalmente, as políticas para reduzir as emissões de metano no sector de carvão representam um desafio único. Embora o foco histórico tenha sido nas emissões de CO, o metano tem surgido como um problema crítico que precisa ser abordado com urgência. Se políticas como as que estão a ser implementadas na Austrália e na UE forem ampliadas para outras regiões, é possível que o impacto positivo na redução de emissões seja significativo.

O caminho para a descarbonização é complexo e multifacetado, exigindo uma acção global coordenada. Embora haja motivos para optimismo, como o crescimento rápido das energias renováveis no Sul Global e as políticas emergentes para lidar com as emissões de metano, os desafios de reduzir a dependência do carvão e de gerenciar a crescente demanda por eletricidade permanecem no centro da discussão.

A transição energética não é apenas uma questão de tecnologia, mas também de políticas, financiamento e, sobretudo, de vontade política. O progresso observado até agora é promissor, mas, como a IEA destaca, ainda há um longo caminho pela frente para garantir que a transição seja feita a tempo de mitigar os piores efeitos das mudanças climáticas.

Fonte: O Económico

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