O grupo BRICS, que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, passou de um mero acrônimo criado por um banco de investimento há duas décadas para uma força influente no cenário global. Recentemente, o bloco duplicou o seu tamanho, incorporando novos membros e consolidando sua posição como um actor económico significativo no mundo dominado pelos EUA.
Expansão e Novos Membros
Em 1º de Janeiro de 2024, o BRICS ampliou seu alcance passando a incluir o Irão, os Emirados Árabes Unidos, a Etiópia e o Egipto. A Arábia Saudita também foi convidada a se juntar, embora ainda esteja avaliar o convite. A Argentina, por sua vez, recusou a adesão após a posse do Presidente Javier Milei, que alinhou a política externa do País aos EUA e Israel, afastando-se de China e Brasil.
Impulso para a Expansão
A expansão do BRICS tem sido impulsionada principalmente pela China, que busca aumentar sua influência global atraindo nações tradicionalmente aliadas aos EUA. A África do Sul e a Rússia apoiaram a expansão, enquanto Índia e Brasil, inicialmente hesitantes, acabaram por concordar. Para os novos membros, a adesão ao BRICS oferece potencial acesso facilitado ao financiamento e um espaço político independente da influência de Washington.
Impacto Global de um BRICS Maior
A inclusão de grandes produtores de combustíveis fósseis pode fortalecer o bloco na busca pela desdolarização do comércio de petróleo e gás, desafiando o domínio do dólar. Analistas da Bloomberg Economics, no entanto, sugerem que a expansão é mais política do que econômica. O BRICS ampliado poderia se tornar um contrapeso ao Grupo dos Sete (G7), com Pequim tentando construir uma ordem mundial alternativa e desafiando a hegemonia dos EUA.
Conquistas do BRICS
As maiores realizações do BRICS têm sido financeiras. O grupo estabeleceu uma reserva de 100 bilhões de dólares em moeda estrangeira para emergências e fundou o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), que desde 2015 aprovou quase 33 bilhões de dólares em empréstimos para projectos de infraestrutura. Em comparação, o Banco Mundial comprometeu-se a conceder 728 bilhões de dólares no exercício de 2023.
Relações Comerciais e Desafios
Entre 2017 e 2022, o comércio entre os cinco membros iniciais do BRICS cresceu 56%, atingindo 422 bilhões de dólares. O Brasil e a Rússia, com seus recursos naturais e produtos agrícolas, são parceiros naturais da demanda chinesa. No entanto, a rivalidade geopolítica entre Índia e China limita suas relações comerciais.
Origem e Crescimento dos BRICS
O termo “BRIC” foi cunhado em 2001 pelo economista Jim O’Neill do Goldman Sachs para destacar as altas taxas de crescimento económico no Brasil, Rússia, Índia e China. As nações rapidamente adoptaram o conceito, reconhecendo que uma colaboração estreita poderia aumentar sua influência global. Em 2010, a África do Sul foi convidada a se juntar, adicionando mais um continente ao grupo.
Liderança e Dinâmica Interna
Embora a China tenha o maior PIB entre os membros do BRICS, a Índia tem servido como contrapeso, particularmente na oposição a projectos como a Iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” de Pequim. O NDB, com sede em Xangai, tem uma estrutura de governança que evita um accionista dominante, com liderança rotativa entre os países membros.
Impacto da Guerra na Ucrânia
A invasão da Ucrânia pela Rússia afectou as dinâmicas internas do BRICS. O NDB suspendeu rapidamente projectos russos e a Rússia enfrentou dificuldades em acessar dólares através do sistema compartilhado do BRICS, com os outros membros priorizando seu acesso contínuo ao sistema financeiro global baseado no dólar.
Relevância Económica e Geopolítica
Apesar dos desafios, incluindo sanções lideradas pelos EUA contra a Rússia e setores da China, o interesse nos mercados emergentes permanece. O BRICS continua a ser uma plataforma importante para a cooperação sul-sul e a busca de uma ordem mundial multipolar, oferecendo uma alternativa ao domínio ocidental pós-Guerra Fria.
Fonte: O Económico
