TotalEnergies prioriza Índia enquanto gás do Rovuma permanece em compasso de espera

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A multinacional francesa TotalEnergies está a reposicionar os seus investimentos estratégicos, com foco na Índia, numa altura em que o projecto Mozambique LNG, na bacia do Rovuma, continua paralisado devido a questões de segurança. Enquanto a Índia se torna uma prioridade para a transição energética global, o desenvolvimento do projecto de gás natural em Moçambique, um dos maiores e mais ambiciosos do continente africano, permanece em suspenso. Esta situação de incerteza no país não só atrasa o potencial energético de Moçambique, como também afecta directamente os interesses de grandes investidores, incluindo a Índia, que possui uma presença significativa no projecto.

Investimentos estratégicos na Índia: uma aposta no futuro energético

Em entrevista à Energy Connects, o presidente e CEO da TotalEnergies, Patrick Pouyanné, destacou que a Índia é o mercado ideal para implementar a estratégia da empresa voltada para a transição energética. A TotalEnergies está a investir em infra-estruturas de gás natural e em projectos de energias renováveis, alinhando-se aos ambiciosos objectivos da Índia de aumentar a sua capacidade de energia renovável para 500 GW até 2030 e a quota de gás natural no seu cabaz energético de 6% para 15%. Pouyanné afirmou: “Neste momento estamos empenhados em apoiar a mudança da Índia, investindo em infra-estruturas de gás natural e em projectos de energias renováveis, garantindo um fornecimento de energia fiável e sustentável para o futuro”.

A Índia, com a sua crescente procura de energia devido ao rápido crescimento económico e populacional, é vista como um mercado estratégico para a TotalEnergies. O país está a construir uma infra-estrutura energética diversificada, com investimentos em energia solar e eólica, além de buscar aumentar a eficiência energética e expandir o acesso ao GPL (Gás de Petróleo Liquefeito) para cozinhar de forma limpa, beneficiando 100 milhões de pessoas em África e na Índia até 2030.

A escolha da Índia como foco principal não é apenas uma decisão estratégica no contexto da transição energética global, mas também uma medida para garantir o futuro crescimento da TotalEnergies, ao captar o crescimento exponencial do mercado de GNL, bem posicionado dentro da cadeia de valor do gás natural, particularmente na importação e distribuição de GNL.

O impacto da suspensão do Mozambique LNG

Enquanto a TotalEnergies busca expandir a sua presença na Índia, o projecto Mozambique LNG permanece paralisado, com os planos de produção de 12,88 milhões de toneladas de GNL por ano ainda em suspenso. Este projecto, liderado pela TotalEnergies na Área 1 da bacia do Rovuma, foi interrompido após um ataque terrorista em Março de 2021, no distrito de Palma, em Cabo Delgado, que resultou na invocação da cláusula de força maior. A paralisação nas operações da base logística de Afungi afectou profundamente o progresso do projecto, com consequências não só para Moçambique, mas também para os investidores internacionais, entre os quais a Índia.

A empresa estatal indiana ONGC Videsh, que detém 16% de participação neste projecto, juntamente com a Bharat Petroleum e a Oil India Limited, possui um total de 30% da participação do consórcio. A paralisia do projecto tem impacto directo nos planos de segurança energética da Índia, que tem confiado no GNL moçambicano como parte da sua estratégia de diversificação de fontes de energia. A continuidade do projecto Mozambique LNG é crucial não só para o desenvolvimento de Moçambique, mas também para garantir a capacidade de fornecimento de GNL para mercados como o da Índia.

A interdependência de projectos na bacia do Rovuma

A interdependência entre o Mozambique LNG e outros projectos de gás na bacia do Rovuma, como o Rovuma LNG da ExxonMobil, demonstra a complexidade da situação. Segundo o ex-embaixador italiano em Moçambique, Gianni Bardini, o progresso do Rovuma LNG depende directamente da resolução das questões de segurança associadas ao Mozambique LNG. Bardini explicou que, “seria difícil para uma empresa internacional realizar grandes investimentos enquanto outra empresa importante achar que as condições de segurança ainda não estão criadas”.

A ligação entre esses dois projectos onshore não se limita ao valor económico global, mas também à confiança mútua entre as partes envolvidas. A TotalEnergies, por ser a principal operadora do projecto Mozambique LNG, tem um papel crucial na estabilização da região para garantir que os projectos de gás natural possam avançar, não apenas para o benefício de Moçambique, mas também para os mercados consumidores internacionais, como a Índia.

A Índia e o gás natural: um pilar essencial para o crescimento energético

A crescente presença da Índia na indústria de GNL global destaca o papel da nação como um actor-chave no abastecimento energético mundial. A Índia tem vindo a expandir a sua capacidade de importação de GNL, com investimentos substanciais em terminais de regaseificação e na construção de infra-estruturas necessárias para aumentar a sua participação no mercado global de gás natural. Com uma população em rápido crescimento e uma economia em expansão, a Índia vê o gás natural como uma alternativa mais limpa ao carvão, alinhando-se com a transição energética global.

Neste contexto, o gás da bacia do Rovuma, com as suas vastas reservas, continua a ser um activo estratégico não só para Moçambique, mas também para países como a Índia, que necessitam de fontes alternativas e mais limpas de energia. No entanto, a continuidade das operações em Moçambique depende não só do investimento financeiro, mas também da criação de um ambiente seguro e estável para os projectos de longo prazo.

Moçambique, Índia e a rota para a transição energética

O redirecionamento estratégico da TotalEnergies para a Índia, enquanto o Mozambique LNG permanece suspenso, evidencia o delicado equilíbrio entre segurança, estabilidade e investimentos em energia. Para Moçambique, o regresso das grandes multinacionais de energia à bacia do Rovuma é essencial não só para o desenvolvimento económico local, mas também para garantir o seu papel como fornecedor-chave de gás natural.

Com a Índia a desempenhar um papel crescente no mercado global de GNL, a cooperação bilateral e a resolução dos desafios de segurança em Moçambique são mais importantes do que nunca. A criação de um ambiente seguro e estável pode desbloquear o potencial de Moçambique como um hub energético global, impulsionando o crescimento sustentável e promovendo uma transição energética que beneficie tanto Moçambique como os seus parceiros internacionais, como a Índia.

Fonte: O Económico

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