Na lenda de Robin Hood, ou Robin dos Bosques, o Xerife de Nottingham é o vilão, o «mau da fita», o tirano, o antagonista do herói do povo que rouba aos ricos para dar aos pobres.
Na história do Nottingham Forest, Brian Clough é a lenda, o homem extrovertido, egocêntrico ou até arrogante, capaz de levar o clube da segunda divisão à conquista do título inglês e de duas Taças dos Campeões Europeus. Nunca mais houve tempos assim!
Mas o adepto sonha sempre. E sonha mais quando uma equipa modesta se agigante e fecha o ano na segunda posição da Premier League.
O Forest tem apenas o décimo quarto orçamento da liga inglesa. Baixou a folha salarial em dez milhões de libras da época passada para a atual, depois de ter tido problemas com as regras de rendimentos e sustentabilidade (e de ter perdido quatro pontos por causa disso).
E, no entanto, o Forest vai em cinco vitórias seguidas, bate o pé a qualquer adversário e caminha num trilho que o pode levar à Liga dos Campeões da UEFA na próxima época.
Na temporada passada somou nove vitória e acabou no 16º lugar; esta época já soma onze triunfos no campeonato.
Nuno Espírito Santo não é Brian Clough, mas está a fazer um trabalho notável.
NES também não é Mourinho (nem Ruben Amorim, só para o colocar entre – até em termos geracionais – os dois maiores fenómenos de popularidade de treinadores portugueses em Inglaterra) mas tem carisma e identidade próprios.
Nuno é bom treinador. Muito bom treinador. Pode ter chegado demasiado cedo ao FC Porto (e pode não ter boa imprensa, desde logo, por alguns momentos dessa época) mas tem feito um percurso brilhante.
No Wolverhampton foi «quase Clough», voando desde a segunda divisão até à Liga Europa. Sim, falhou no Tottenham (mas quem não?) e talvez pudesse ter feito mais na Arábia Saudita.
Com o regresso a Inglaterra, contudo, voltámos a ver a melhor versão de Nuno Espírito Santo. Discretamente, sem alaridos, construiu uma equipa operária e eficaz, fazendo evoluir jogadores medianos.
Chris Wood parece muito melhor do que alguma vez foi, Elanga é um quebra-cabeças com objetividade e não apenas detalhes de habilidade, Hudson-Odoi ainda está a tempo de fazer alguma coisa especial na carreira, Gibbs-White – lançado por Nuno nos Wolves – parece finalmente ter a maturidade para enquadrar o talento. Isto, para mencionar apenas os homens de ataque. Mas há mais (e a base do sucesso da equipa está na sua consistência) e até Ola Aina parece, agora, saber para onde correr dentro de campo, depois de tantas épocas onde reclamava uma bússola!
Nuno é o novo chefe do Forest, o «anti-xerife de Nottingham», que ganha aos ricos com orçamento de «pobre» (à dimensão da Premier League, claro…) e dá esperança ao povo.
A época vai a meio, ainda muita coisa pode acontecer, ninguém sabe como vai acabar o Forest, mas o ano de 2024 de NES merece ser destacado. E que 2025 lhe continue a sorrir.
Já agora: dia 6 há um Wolverhampton-Nottingham Forest. Dois (bons) treinadores portugueses frente a frente.
Vítor Pereira, que ainda não perdeu (!) a tentar salvar os Wolves. E NES a regressar ao local onde até lhe deram um doutoramento «honoris causa» pelo bom trabalho realizado. É daqueles jogos que não se podem mesmo perder.
Fonte: Mais Futebol