Os vastos depósitos de minerais de África, essenciais para a transição energética global, como o cobalto, o cobre e o lítio, podem alimentar um futuro energético sustentável, afirmou a Secretária-Geral do Comércio e Desenvolvimento da ONU, Rebeca Grynspan.
Rebeca Grynspan falou durante um evento realizado em Adis Abeba, na Etiópia, e online, no dia passado dia 4 de Junho, como parte das comemorações do 60º aniversário da organização.
O evento subordinado ao tema “Maximizar o potencial de África: Aproveitar a procura de minerais essenciais para impulsionar o crescimento inclusivo e o desenvolvimento sustentável” explorou formas de optimizar os benefícios de desenvolvimento destes minerais.
“Cobalto, manganês, grafite e lítio não são apenas elementos da tabela periódica”, disse Grynspan. “Eles podem ser os alicerces de uma nova era – fornecendo energia às nossas casas, conduzindo os nossos veículos e conectando o nosso mundo. Catalisar uma revolução verde que possa tirar milhões de pessoas da pobreza e criar um mundo mais justo.”
Mas para concretizar esta visão, disse Grynspan, o mundo deve libertar-se do passado e rejeitar o modelo extractivo que manteve as nações ricas em recursos dependentes e pobres.
“Em vez disso, devemos abraçar um novo paradigma que priorize a adição de valor interno, promova a integração regional e empodere as comunidades locais”, acrescentou.
Agregação de valor e justiça são fundamentais
O Vice-Secretário Executivo da Comissão Económica das Nações Unidas para África, Antonio Pedro, disse que acrescentar valor aos minerais críticos em África poderia tornar o continente um centro competitivo para a industrialização verde.
“Imaginem o potencial se os minerais africanos forem processados em baterias africanas, instaladas em carros africanos que circulam por todo o continente e pelo mundo”, disse ele.
“Isto aceleraria a implantação de energias renováveis e a electrificação dos sistemas de transporte no continente, criaria empregos dignos e tornaria África num centro competitivo para a industrialização verde”, acrescentou Pedro.
Ele também apelou à justiça e à igualdade na forma como os minerais são aproveitados na transição energética global e no impulso ao desenvolvimento sustentável, observando que um boom mineiro que não traz benefícios para todos na sociedade, “nos deixará de volta à estaca zero”.
Por sua vez, a Vice-Presidente da Comissão da União Africana, Monique Nsanzabaganwa, sublinhou que o aproveitamento de minerais críticos para o desenvolvimento sustentável em África exigiria uma abordagem diferente e estratégica à formulação de políticas para posicionar o continente como um novo pólo de crescimento global.
“Além da combinação correta de políticas, também requer estruturas e sistemas internacionais justos, especialmente em termos de regulamentos e regras”, disse ela.
Nsanzabaganwa advertiu que algumas regras actuais e aquelas em elaboração ameaçam afectar os esforços dos países africanos para aumentar e melhorar a beneficiação e a agregação de valor no continente.
“Não faria sentido não confiar nos nossos sistemas de certificação continentais e, em vez disso, condicionar os minerais de África a irem para outro sistema de certificação apenas para voltarem para nós para agregação de valor ou comércio entre nós”, disse ela.
Um novo curso de desenvolvimento
O evento reuniu líderes, diplomatas, especialistas e principais partes interessadas para traçar um novo rumo de desenvolvimento em África, explorando formas de aproveitar melhor a riqueza mineral crítica do continente.
África alberga reservas consideráveis dos minerais críticos de transição energética do mundo: 55% de cobalto, 47,65% de manganês, 21,6% de grafite natural, 5,9% de cobre, 5,6% de níquel, 1% de lítio e 0,6% de ferro minério globalmente.
Mas o continente ainda não aproveitou plenamente as oportunidades apresentadas pelas suas dotações de recursos naturais. As estimativas mostram que os países africanos geram apenas cerca de 40% das receitas que poderiam potencialmente arrecadar a partir destes recursos.
No meio das actuais crises globais, do espaço fiscal limitado, do crescimento lento e da dívida elevada, os países africanos precisam de maximizar os benefícios financeiros e de desenvolvimento destes recursos.
Os participantes discutiram formas de melhorar a mobilização de receitas e a administração fiscal, impulsionar a integração da cadeia de valor regional e aumentar o investimento em infra-estruturas, competências e inovação para apoiar a industrialização baseada em minerais no continente, promovendo simultaneamente a acção climática.
O evento preparou o terreno para novas discussões programadas para ocorrer durante o Fórum de Líderes Globais, de 12 a 14 de Junho, em Genebra, para marcar o 60º aniversário da ONU sobre Comércio e Desenvolvimento.
Fonte: O Económico