Indústria da aviação enfrenta turbulências: problemas estruturais podem persistir até 2025

0
13

A indústria da aviação global continua a enfrentar desafios profundos, que especialistas estimam levar anos para serem resolvidos. Problemas com cadeias de suprimentos, manutenção de motores e atrasos nas entregas de aeronaves, principalmente da Boeing, têm pressionado companhias aéreas e fabricantes, impactando a oferta de voos e as tarifas aéreas. Recentes tragédias, como o acidente envolvendo um avião da companhia sul-coreana Jeju Air, reforçam a necessidade de intervenções urgentes e de uma revisão estrutural no sector.

A Boeing sob pressão

Os desafios da Boeing persistem após um ano marcado por questões de segurança e atrasos. Desde o incidente com um painel de porta em um Boeing 737 Max 9 em 2024, a empresa implementou mudanças significativas, incluindo maior supervisão e treinamentos obrigatórios. Contudo, Mike Boyd, da Boyd Group International, critica a empresa por uma cultura corporativa ineficiente: “Todo o conselho de diretores deveria ter sido demitido”, declarou. A Boeing enfrenta dificuldades para recuperar a confiança do mercado e pode perder terreno para a Airbus.

Além disso, problemas financeiros e trabalhistas agravam a situação da empresa. Em 2024, a Boeing enfrentou uma greve de sete semanas de seus maquinistas, encerrada apenas em Novembro, e não regista lucro anual desde 2018. Embora esforços como a expansão da produção do 787 na Carolina do Sul estejam em andamento, analistas como John Grant, da OAG, preveem melhorias tangíveis apenas após 2025.

Acidente na Coreia do Sul agrava o cenário global

O recente acidente com um Boeing 737-800 da Jeju Air, ocorrido a 29 de Dezembro de 2024, destacou mais uma vez as fragilidades na segurança e manutenção da aviação. A aeronave, que transportava 181 pessoas, saiu da pista durante a aterragem no Aeroporto Internacional de Muan, colidindo com um muro e causando uma explosão que vitimou 179 passageiros. As autoridades sul-coreanas já iniciaram uma investigação, tendo recuperado as caixas-pretas, cujos dados estão a ser analisados.

A tragédia levou o governo sul-coreano a ordenar a revisão de todos os aviões do mesmo modelo operados no país, numa tentativa de evitar acidentes semelhantes. Além disso, a Jeju Air enfrenta intenso escrutínio público e regulatório, enquanto o presidente da companhia foi impedido de deixar o país.

Este acidente, o mais mortal da história da aviação na Coreia do Sul, evidenciou as pressões enfrentadas pela indústria e sublinhou a importância de normas mais rígidas de segurança e manutenção, especialmente num período de dificuldades estruturais.

Manutenção e motores: um ecossistema em crise

Os problemas na aviação vão além da Boeing e da recente tragédia sul-coreana. Fabricantes de motores como Pratt & Whitney e Rolls-Royce enfrentam desafios significativos relacionados à manutenção e fiabilidade de suas peças. Brendan Sobie, da Sobie Aviation, destacou que companhias aéreas, incluindo a Hawaiian Airlines e a Spirit Airlines, foram obrigadas a suspender operações de parte de suas frotas devido à falta de motores. A Wizz Air, por exemplo, retirou 40 aviões de operação na União Europeia.

Embora Sobie aponte que a Pratt & Whitney já passou pelo seu pior período, ele adverte que a solução completa desses problemas levará anos. A falta de peças e motores afecta directamente a oferta de voos, o que, segundo Scott Keyes, fundador do site Going, deve aumentar as tarifas aéreas em 2025.

Impacto nos viajantes e no mercado

A escassez de aeronaves e motores está reduzindo a capacidade das companhias aéreas, dificultando a disponibilidade de passagens a preços acessíveis. “Se está à procura de tarifas realmente mais baratas, nem mesmo o Sr. O’Leary da Ryanair pode prometer isso”, afirmou Boyd. As tarifas estão a normalizar-se em níveis superiores aos pré-Covid, mas ainda abaixo dos picos de 2022, segundo Sobie.

Perspectivas e soluções

Especialistas apontam que, para superar as dificuldades, será necessário um esforço coordenado de fabricantes, reguladores e companhias aéreas. A Boeing, em particular, precisa restaurar a confiança dos clientes e optimizar os seus processos internos para não perder relevância no mercado para a Airbus.

Enquanto isso, tragédias como a da Jeju Air servem de alerta para a necessidade de reforçar as normas de segurança e de estabelecer um ambiente de negócios mais robusto. Os viajantes devem preparar-se para um mercado aéreo mais restrito, com tarifas mais altas e menor disponibilidade de voos, pelo menos até que os problemas estruturais sejam resolvidos, possivelmente após 2025.

Fonte: O Económico

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor, digite seu nome aqui
Por favor digite seu comentário!