Euro à beira da paridade com o Dólar: Um reflexo da crise na Europa e da força do Dólar

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O euro, que tem sido historicamente mais valorizado do que o dólar desde o seu lançamento em 1999, aproxima-se novamente da paridade com a moeda norte-americana. Esta tendência ocorre pela primeira vez desde 2022, quando a invasão da Ucrânia pela Rússia provocou uma crise energética na Europa e aumentou o receio de uma recessão.

Razões para a queda do Euro

A fragilidade do euro está a ser impulsionada por vários factores. A economia europeia permanece vulnerável, com taxas de juro persistentemente baixas em comparação com outras economias desenvolvidas. Esta situação reduz a atractividade dos activos denominados em euros, diminuindo a procura pela moeda.

Além disso, a incerteza política em países como França e Alemanha dificulta a implementação de reformas estruturais, comprometendo o crescimento económico da União Europeia (UE). A ameaça de tarifas comerciais adicionais por parte dos Estados Unidos, liderados pelo Presidente eleito Donald Trump, também contribui para o pessimismo. Os EUA são um mercado-chave para exportações europeias, e restrições adicionais poderiam impactar gravemente sectores como o automóvel, produtos químicos e bens de luxo.

A fraqueza do euro é agravada pela força do dólar, que tem beneficiado de políticas económicas agressivas nos EUA, incluindo promessas de estímulos fiscais e redução de regulamentações. O índice do dólar, que mede o desempenho da moeda americana em relação a outras seis moedas importantes, registou um aumento de mais de 7% em 2024, o maior desde 2015.

Probabilidade de paridade e impactos no mercado

Pelo menos dez grandes bancos globais preveem que o euro poderá cair abaixo do limiar de 1:1 em relação ao dólar em 2025. No entanto, a incerteza sobre a implementação das políticas de Trump e possíveis estímulos na Europa geram opiniões divergentes sobre a velocidade e magnitude dessa queda.

Atingir a paridade seria um marco significativo, tanto psicologicamente quanto nos mercados financeiros, onde bilhões de euros em contratos e opções estão ligados a esse patamar. Para os investidores, a paridade reforça as preocupações sobre a estabilidade da moeda única, e partidos populistas, como o AfD na Alemanha, já começaram a defender campanhas pela saída da UE e do euro.

Efeitos económicos de um euro mais fraco

Uma moeda mais fraca poderia beneficiar as exportações europeias ao torná-las mais competitivas no mercado global. Contudo, o impacto positivo pode ser limitado caso os EUA avancem com tarifas sobre bens importados da Europa. Além disso, a desvalorização do euro aumenta os custos das importações, incluindo matérias-primas, pressionando a inflação. Para o Banco Central Europeu (BCE), que luta para controlar os preços no pós-pandemia, esta situação é motivo de preocupação.

Por outro lado, o sector do turismo europeu poderá beneficiar, com um influxo de visitantes dos EUA atraídos por um euro mais acessível.

Poderá o BCE intervir?

Embora o BCE considere os movimentos cambiais na formulação das suas políticas, a intervenção directa para sustentar o euro é rara. A última acção coordenada nesse sentido ocorreu em 2000, quando o banco procurou dar suporte à moeda. Assim, o BCE deverá manter o foco nas suas ferramentas convencionais, como ajustes nas taxas de juro, para responder aos desafios actuais.

Com a aproximação da paridade, o futuro do euro permanece incerto, dependente das dinâmicas globais e da capacidade da Europa em fortalecer a sua economia e manter a coesão política.

Fonte: O Económico

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