Benfica: o problema é mais profundo

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O que o FC Porto evoluiu em dois meses foi proporcional à regressão das águias. A explicação estará na diferença dos seus modelos de organização e do quão exposto é um treinador. Se este for bom, ainda vai disfarçando

Chegou ao fim a primeira metade da temporada 2024/2025 e com ela uma série de surpresas – outras nem tanto. Há 20 anos que os três grandes não mudavam em simultâneo de treinador, quando o FC Porto foi buscar Luigi del Neri para substituir José Mourinho (rumo ao Chelsea), o Benfica apostou em Giovanni Trapattoni após a saída de José António Camacho (rumo ao Real Madrid) e o Sporting deu a José Peseiro a tarefa de fazer melhor que Fernando Santos. A novidade neste ano, no entanto, foram as alterações em pleno andamento da época, primeiro com a saída de Roger Schmidt e a entrada de Bruno Lage na Luz, depois o adeus cortante de Ruben Amorim do Sporting para Manchester, uma substituição por João Pereira que se revelou um fracasso e a posterior correção com a entrada em cena de Rui Borges – os leões, tal como os azuis e brancos há 20 anos (Del Neri, Víctor Fernández e José Couceiro), a terem três treinadores na mesma temporada. Quem diria que em janeiro de 2025 Vítor Bruno seria o mais longevo dos técnicos dos três grandes?

O que a primeira volta do campeonato também nos mostrou foram sinais do que podemos esperar da segunda metade. E, mais do que isso, deu-nos uma lição: a de não tirar conclusões precipitadas. Concretamente, em relação a FC Porto e Benfica. Porque o dragão humilhado na Luz (1-4) a 10 de novembro é aquele que se vencer o jogo em atraso com o Nacional pode ficar com mais cinco pontos que as águias e liderar o campeonato. Não será por acaso: o FC Porto foi ganhando consistência na proporção das perdas do Benfica.

Muitas razões poderão explicar esta variação, mas talvez valha a pena focarmo-nos na forma como foram desenhados os dois plantéis: mesmo com enormes limitações financeiras decorrentes do legado deixado por Pinto da Costa (o FC Porto chegou a ser, numa fase avançada do defeso, o único clube que ainda não fizera qualquer contratação), André Villas-Boas conseguiu trazer jogadores para posições carenciadas (Neuhén Pérez, Tiago Djaló, Francisco Moura, Samu e Deniz Gul) e tem apostado em jovens da formação. Dos reforços, apenas o avançado sueco ainda nada mostrou, culpa de Samu, o melhor ponta de lança em Portugal a seguir a Gyokeres.

Já o Benfica, com todo o tempo do mundo para agir, foi incapaz de contratar um lateral-direito sem ser através de um empréstimo (Kaboré, um flop que entretanto já se foi embora) e nas últimas horas de mercado contratou Akturkoglu para uma posição onde já havia muitas opções. O resultado foi um plantel desequilibrado, com poucas soluções nas laterais e sete extremos (se contarmos com Beste, atualmente a jogar nesse lugar com Bruno Lage) para duas posições. Comparando o que foi feito por Zubizarreta no FC Porto e Rui Pedro Braz no Benfica chega-se à conclusão de que houve mais critério em menos tempo na Invicta.

Isso tem um custo a médio prazo: na Luz há muitos jogadores descontentes porque é impossível jogarem todos, no Dragão o único que podia ter razões para estar desmotivado (Galeno, que perdeu rios de dinheiro pela transferência gorada para a Arábia Saudita) mantém os níveis de ambição de sempre. Não por acaso num clube onde o treinador é protegido (até do ponto de vista visual) pela figura do diretor para o futebol (Jorge Costa), que começou a aparecer mais após a contestação a Vítor Bruno.

Na Luz não há uma figura semelhante (Luisão chegou a sê-lo, mas problemas de saúde levaram à sua saída), o que faz o clube depender em demasia do treinador – uma situação que tem anos. Quando ele é bom, tudo funciona – veja-se a primeira época de Roger Schmidt; mas quando começa a falhar ou, no caso de Lage, não ser o mais dotado do ponto de vista da gestão de grupo ou da comunicação, fica demasiado exposto às fragilidades.

O problema do Benfica não é técnico, é mais amplo que isso: é um modelo de organização que ficou cristalizado no tempo.

Fonte: A Bola

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