Mercado de Trabalho em Moçambique: Como absorver o crescente número de jovens à procura de emprego?

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O mercado de trabalho em Moçambique enfrenta uma série de desafios para absorver a crescente população jovem que, a cada ano, busca por emprego formal. Em entrevista ao programa “Semanário Económico”, Vicente Sitoe, Director Exectivo e Partner da SDO Moçambique, firma especialista em recursos humanos, analisou os factores que dificultam a criação de oportunidades de trabalho, destacando a inadequação dos currículos universitários às necessidades do mercado, a falta de estímulo ao empreendedorismo e as dificuldades para a sustentabilidade de novas empresas. 

“Hoje, Moçambique está a formar jovens para áreas que, embora tenham sido úteis no passado, já não reflectem as actuais exigências do mercado”, afirmou Sitoe. Segundo ele, a estrutura do sistema de ensino e formação técnica ainda não está alinhada com a realidade económica de África, e muito menos com as necessidades de uma economia global cada vez mais orientada para as tecnologias e inovação. “Precisamos de reformular os currículos para responder ao cenário actual e criar cursos focados nas novas oportunidades do mercado”, defendeu o especialista.

Desafios actuais para a oferta de emprego para jovens

Moçambique, como muitos países africanos, enfrenta o que o Banco Mundial (BM) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) descrevem como uma “crise de emprego jovem”. Com uma taxa de crescimento populacional de cerca de 2,9% ao ano, o País continua a ver uma crescente demanda por empregos formais, especialmente entre os jovens. Estima-se que aproximadamente 66% da população moçambicana tem menos de 25 anos, e cerca de 40% dos jovens entre 15 e 24 anos estão desempregados ou subempregados. 

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) destaca que a informalidade na África Subsahariana representa mais de 85% dos empregos, o que limita o acesso dos jovens ao emprego formal e reduz a sua capacidade de garantir segurança social e benefícios laborais. As recomendações da OIT para lidar com essa questão incluem políticas de apoio à formalização do emprego e ao fortalecimento do sector privado, além de incentivos para a criação de empregos de qualidade.

Vicente Sitoe aponta que, para enfrentar esses desafios, o País precisa adoptar estratégias que abram espaço para sectores emergentes, que ofereçam empregos de qualidade e sustentáveis. “O sector agrícola ainda é o maior empregador, mas para absorver mais jovens, ele precisa ser modernizado e adaptado às novas tecnologias”, observou. Esse ponto é reforçado pelo Banco Africano de Desenvolvimento (AfDB), que sugere uma modernização do sector agrícola em África, com maior investimento em tecnologias de produtividade, como a agricultura inteligente, para criar mais empregos e aumentar os rendimentos.

Abordagens e recomendações de organizações internacionais

As recomendações de organismos internacionais para melhorar a empregabilidade dos jovens africanos incluem não só a reforma do sistema de ensino, mas também políticas de incentivo ao empreendedorismo e a criação de um ambiente de negócios mais favorável. O FMI recomenda que os países africanos promovam a diversificação económica, reduzindo a dependência do sector informal e de sectores tradicionais, como a agricultura de subsistência. Segundo o FMI, a diversificação para áreas como a tecnologia e o turismo pode criar mais empregos e estimular o crescimento económico sustentável.

O Banco Mundial, por sua vez, recomenda que o desenvolvimento do capital humano seja uma prioridade. Em África, muitos jovens ainda não têm acesso a uma formação de qualidade que os prepare para o mercado de trabalho. A instituição sugere investimentos estratégicos na educação primária, secundária e, especialmente, na formação técnica e profissional, para que os jovens adquiram as competências necessárias para competir em sectores em crescimento, como as indústrias criativas, tecnologias de informação e comunicação (TIC) e energias renováveis.

A OIT também propõe que os países africanos adoptem programas de apoio ao emprego juvenil, incluindo incentivos fiscais para as empresas que contratem jovens sem experiência. “Precisamos de políticas de incentivo para que os empregadores vejam valor na contratação de jovens e os apoiem no desenvolvimento das suas carreiras”, enfatizou Sitoe, alinhando-se às recomendações da organização.

Perspectiva para África: Desafios específicos e realidade económica e demográfica

A realidade económica e demográfica africana torna esses desafios ainda mais complexos. África Subsaariana enfrenta uma combinação de rápido crescimento populacional e uma elevada taxa de desemprego juvenil, o que significa que, para cada novo jovem que entra no mercado de trabalho, as economias locais precisam criar novos postos de trabalho, o que raramente acontece no sector formal. Com o sector informal a absorver a maioria dos trabalhadores, há uma grande necessidade de formalização e desenvolvimento de políticas inclusivas que tornem o emprego formal mais acessível.

Outro desafio é a vulnerabilidade económica da região. Com economias dependentes de sectores como a agricultura e exportações de recursos naturais, os países africanos estão expostos a variações de preços e crises económicas globais. Organizações como o AfDB defendem que a diversificação económica é essencial para reduzir essa vulnerabilidade e melhorar as perspectivas de emprego para os jovens africanos. 

Sectores com potencial de crescimento e criação de emprego

O AfDB e o FMI apontam que sectores como a tecnologia, energias renováveis e agricultura moderna têm um grande potencial para criar empregos em África. O Banco Mundial recomenda o investimento em tecnologia e digitalização, que podem abrir novas oportunidades de trabalho. A pandemia acelerou o crescimento do sector de TIC em África, e há um crescente interesse na expansão de startups tecnológicas que geram inovação e empregos. Sitoe reforça que “os jovens devem ser preparados para esses sectores emergentes, e isso começa com a reformulação dos currículos e a integração de competências tecnológicas nas escolas e universidades”.

Além disso, Vicente Sitoe propõe a criação de centros de emprego dentro das universidades, facilitando a transição dos estudantes para o mercado de trabalho e proporcionando programas de estágio. Essa recomendação encontra apoio na OIT, que também destaca a importância dos estágios como forma de preparar os jovens para o mercado de trabalho e ajudá-los a desenvolver competências práticas.

O caminho para um Mercado de Trabalho Inclusivo e Sustentável

Moçambique, assim como muitos países africanos, enfrenta o desafio de criar um mercado de trabalho inclusivo e capaz de absorver a sua grande população jovem. Vicente Sitoe acredita que, com o alinhamento das políticas nacionais às recomendações de organizações internacionais e o investimento em educação e empreendedorismo, Moçambique poderá aproveitar o seu dividendo demográfico e promover o crescimento económico sustentável.

“A juventude moçambicana representa o futuro do país, e para que eles possam contribuir para o desenvolvimento nacional, precisamos investir nas suas competências, criar um ambiente favorável ao empreendedorismo e desenvolver sectores que gerem empregos de qualidade”, concluiu Sitoe. 

Essas abordagens propõem um caminho para Moçambique e África alcançarem uma economia mais inclusiva, que aproveite o potencial dos jovens e transforme o sector informal num contributo positivo para o desenvolvimento e estabilidade económica da região.

Fonte: O Económico

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