Comércio global enfrenta obstáculos de Peso: Tensão geopolítica e políticas restritivas ameaçam crescimento

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O comércio global atravessa um momento de grande turbulência, marcado por desafios económicos e geopolíticos que ameaçam a recuperação económica e o crescimento sustentável de diversas regiões. A desaceleração das maiores economias, incluindo os Estados Unidos, a China e a União Europeia, aliada a tensões comerciais e conflitos armados, está a impor limites severos ao crescimento do comércio internacional. Segundo previsões da Organização Mundial do Comércio (OMC), o comércio global deverá crescer apenas 1,7% em 2024, um índice bastante inferior à média histórica, que se situava entre 3% e 4% nas últimas décadas. A diretora-geral da OMC, Ngozi Okonjo-Iweala, afirmou em entrevista à Reuters que “os desafios são inúmeros, desde as guerras comerciais e tarifas até as crises geopolíticas, e isso limita o potencial de crescimento dos países em desenvolvimento, que dependem do comércio para suas economias”. Esta declaração ressalta como as restrições e barreiras comerciais estão a dificultar o acesso aos mercados globais, impactando, sobretudo, as economias emergentes.

A guerra na Ucrânia continua a ser um dos principais factores de perturbação do comércio global, sobretudo em sectores como o de energia e de alimentos. Antes do conflito, a Ucrânia e a Rússia eram importantes fornecedores de grãos, gás natural e petróleo para a Europa e outras partes do mundo. Com a escalada do conflito, as exportações desses produtos foram gravemente afectadas. Além disso, a dependência da Europa de energia russa levou à imposição de sanções, que resultaram em escassez de energia e aumento dos preços de combustíveis e electricidade.

A restrição na oferta de gás russo, por exemplo, levou a uma crise energética na Europa, que está a enfrentar custos de produção mais elevados e a transferir esses aumentos para os consumidores. Este impacto é particularmente evidente nos sectores industriais e agrícolas, onde os custos de produção de alimentos e bens aumentaram substancialmente. Para os países que dependem de importações de alimentos e energia, o aumento dos preços eleva o custo de vida, reduz o poder de compra das famílias e impacta o consumo, gerando um efeito negativo em cadeia no crescimento económico.

As relações comerciais entre os Estados Unidos e a China, as duas maiores economias do mundo, continuam a ser um ponto de tensão no comércio global. Desde a administração de Donald Trump, os EUA implementaram tarifas sobre produtos chineses, e essas tarifas foram mantidas pelo actual governo. A China, por sua vez, também aplicou tarifas de retaliação, prejudicando vários sectores, como o agrícola, o tecnológico e o de manufactura. Essa guerra comercial limita o fluxo de mercadorias e impede a plena recuperação das cadeias de valor, que ainda se ressentem dos efeitos da pandemia de COVID-19. As empresas, em resposta a essas tensões, estão a tentar diversificar os seus fornecedores e, em alguns casos, a relocalizar a produção para reduzir a dependência da China. Esse movimento, conhecido como “nearshoring” ou “friendshoring”, embora prometa a criação de novas oportunidades em países próximos aos Estados Unidos, como o México, também representa desafios para a economia global, aumentando os custos de produção e logística.

A inflação elevada levou muitos bancos centrais, incluindo o Federal Reserve dos EUA, o Banco Central Europeu (BCE) e o Banco de Inglaterra, a adoptar políticas monetárias restritivas, elevando as taxas de juro. Embora essas medidas sejam essenciais para controlar a inflação, elas acabam por limitar o crédito e reduzir o investimento, o que impacta directamente o comércio internacional. A alta dos juros afecta, principalmente, as economias emergentes, que são forçadas a subir as suas próprias taxas para evitar a desvalorização da moeda e a fuga de capital. Além disso, a redução do crédito disponível torna o financiamento do comércio mais caro e inacessível para pequenas e médias empresas, que são fundamentais para as exportações de muitos países em desenvolvimento.

Com o aumento da incerteza geopolítica e o impacto das políticas de restrição monetária, os preços das commodities – incluindo petróleo, gás, metais e alimentos – continuam voláteis. Estas flutuações nos preços complicam o planeamento de exportadores e importadores e tornam o comércio global mais imprevisível. O preço do petróleo, por exemplo, oscila em função da produção da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e de tensões no Médio Oriente. A incerteza sobre a estabilidade política na região, principalmente em países como o Irão, contribui para aumentos nos preços globais, afectando todos os sectores dependentes de combustíveis fósseis.

As dificuldades que o comércio global enfrenta estão a reflectir-se directamente nas projecções de crescimento económico. Economistas da OCDE preveem que o PIB global cresça apenas 2,7% em 2024, em grande parte devido à desaceleração do comércio e ao impacto das políticas monetárias restritivas. Para países em desenvolvimento, que dependem das exportações de matérias-primas, a combinação de preços voláteis e dificuldades de acesso ao crédito é especialmente prejudicial. O impacto social também é significativo: a redução do comércio e o aumento dos preços das commodities afectam o poder de compra das famílias e aumentam a insegurança alimentar em regiões vulneráveis. África, em particular, sofre com o aumento dos preços dos alimentos e combustíveis, que afecta directamente o custo de vida e a estabilidade económica dos países.

Para enfrentar esses desafios, instituições como a OMC têm defendido a cooperação multilateral e a redução das barreiras comerciais. A Directora-Geral da OMC, Ngozi Okonjo-Iweala, enfatiza a necessidade de “encontrar um equilíbrio entre a segurança nacional e a liberalização do comércio” para evitar que as barreiras comerciais continuem a limitar o crescimento. Além disso, países estão a explorar novas parcerias e blocos comerciais, como a Parceria Regional Económica Abrangente (RCEP) na Ásia, que inclui China, Japão e Austrália. Este tipo de acordo pode servir de modelo para outras regiões, facilitando o comércio e reduzindo os custos para exportadores e importadores.

A médio e longo prazo, espera-se que a recuperação do comércio global dependa de uma maior estabilidade geopolítica e de políticas que incentivem a integração económica e a inovação. Contudo, enquanto as tensões comerciais e os conflitos persistirem, o comércio global deverá continuar a enfrentar um caminho difícil, com impactos significativos no crescimento económico e nas condições de vida em todo o mundo.

Impacto da Nova Administração dos EUA

A reeleição de Donald Trump nos EUA deverá ter impactos significativos sobre o comércio global, reforçando o protecionismo e ampliando as tensões com a China e o Irão, além de adoptar uma postura ambiental mais permissiva. Com uma abordagem protecionista, Trump deverá continuar a impor tarifas sobre produtos chineses, ampliando a guerra comercial e aumentando os custos de produção para as empresas americanas que dependem de insumos chineses. Este cenário poderá criar uma segmentação ainda maior do comércio global, forçando empresas e países a alinhar-se a blocos económicos rivais. A nova administração também planeia incentivar políticas de “nearshoring” e “reshoring” para reduzir a dependência da China, o que poderá elevar os custos de produção e impactar os consumidores americanos.

O sector energético também deverá sentir os efeitos da política externa dos EUA. Trump deverá reforçar sanções ao Irão, com potencial para aumentar os preços do petróleo, devido à redução da oferta global, o que geraria pressão inflacionária a nível global. Esse cenário afectará especialmente as nações que dependem de importações de petróleo, aumentando o custo de vida e criando desafios adicionais para a estabilidade económica.

A postura ambiental mais permissiva de Trump poderá enfraquecer os esforços globais no combate às mudanças climáticas, o que poderá provocar tensões diplomáticas, especialmente com a União Europeia. Caso os EUA flexibilizem as regulamentações ambientais e se distanciem de acordos como o Acordo de Paris, poderão enfrentar sanções ambientais e restrições de parceiros comerciais preocupados com práticas de sustentabilidade.

A abordagem agressiva e protecionista da nova administração americana poderá, assim, criar volatilidade nos mercados financeiros globais. O investimento estrangeiro nos EUA poderá ser afectado, especialmente se as políticas de imigração se tornarem mais rígidas, prejudicando sectores como o de tecnologia e agricultura, que dependem de mão-de-obra estrangeira. Os impactos potenciais das políticas americanas de proteccionismo e sanções económicas poderão dificultar a recuperação económica global, limitando o crescimento e aumentando as incertezas para os investidores e parceiros comerciais dos EUA.

Impacto no crescimentoeEconómico e no comércio Global

As dificuldades que o comércio global enfrenta estão a reflectir-se directamente nas projecções de crescimento económico. Economistas da OCDE preveem que o PIB global cresça apenas 2,7% em 2024, em grande parte devido à desaceleração do comércio e ao impacto das políticas monetárias restritivas. Para países em desenvolvimento, que dependem das exportações de matérias-primas, a combinação de preços voláteis e dificuldades de acesso ao crédito é especialmente prejudicial. O impacto social também é significativo: a redução do comércio e o aumento dos preços das commodities afectam o poder de compra das famílias e aumentam a insegurança alimentar em regiões vulneráveis. A África, em particular, sofre com o aumento dos preços dos alimentos e combustíveis, que afecta directamente o custo de vida e a estabilidade económica dos países.

Soluções e Perspectivas para o Futuro

Para enfrentar esses desafios, instituições como a OMC têm defendido a cooperação multilateral e a redução das barreiras comerciais. A Directora-Geral da OMC, Ngozi Okonjo-Iweala, enfatiza a necessidade de “encontrar um equilíbrio entre a segurança nacional e a liberalização do comércio” para evitar que as barreiras comerciais continuem a limitar o crescimento. Além disso, países estão a explorar novas parcerias e blocos comerciais, como a Parceria Regional Económica Abrangente (RCEP) na Ásia, que inclui China, Japão e Austrália. Este tipo de acordo pode servir de modelo para outras regiões, facilitando o comércio e reduzindo os custos para exportadores e importadores.

A médio e longo prazo, espera-se que a recuperação do comércio global dependa de uma maior estabilidade geopolítica e de políticas que incentivem a integração económica e a inovação. Contudo, enquanto as tensões comerciais e os conflitos persistirem, o comércio global deverá continuar a enfrentar um caminho difícil, com impactos significativos no crescimento económico e nas condições de vida em todo o mundo.

Fonte: O Económico

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