O desporto-rei tem capacidade incomparável de promover a igualdade
BERLIM — Já tinha estado na Alemanha, onde até tenho família, mas nunca tinha visitado Berlim, precisamente o ponto de partida desta minha estreia na cobertura de uma grande competição de seleções para A BOLA. O tempo ainda mal deu para conhecer a capital alemã, que vai acolher a final deste Campeonato da Europa, mas à medida que percorremos as suas ruas é inevitável ficarmos a pensar nas cicatrizes que o tempo deixou a cada esquina.
Os vestígios do muro da vergonha remetem-nos para um sofrimento que continua a marcar muitas pessoas, para não dizer famílias inteiras. Uma obra que não dividiu somente uma cidade e um país, foi também barreira imposta a uma visão mais global do mundo. Berlim é hoje uma cidade vanguardista, até no que diz respeito à multiculturalidade, mas ainda há marcas compreensivelmente difíceis de sarar.
O desporto possui, já se sabe, uma capacidade incomparável de ultrapassar diferenças, e a prova disso é que uma das ruas de acesso ao Estádio Olímpico de Berlim tem (há já 40 anos) o nome de Jesse Owens, o atleta dos Estados Unidos da América que envergonhou a Alemanha Nazi ao conquistar quatro medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de 1936, disputados em Berlim, na presença de Adolf Hitler. Se pensarmos que, ainda agora, no lançamento do Euro, uma televisão alemã fez uma sondagem em que perguntava se a seleção anfitriã do torneio deveria ter mais jogadores brancos, percebemos que o caminho ainda é longo. O futebol também é palco para maus exemplos, mas apresenta saldo positivo no que diz respeito a quebrar barreiras. Haverá sempre quem insista na diferença, mas o desporto-rei tem essa capacidade incomparável de promover a igualdade. Pouco importa se a ameaça dos discursos radicais já foi mais forte ou não. O que interessa é que ela existe, e deve ser combatida de forma implacável. Uma vez mais pedimos ao futebol que dê o exemplo. Todos os caminhos vão dar a Berlim, venham de onde vierem.
Fonte: A Bola