Benfica: um dilema simples

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RUI COSTA ama o Benfica e não começou mal o mandato como presidente. Estou à-vontade para o dizer: antes da sua eleição escrevi que os benfiquistas estariam a desvalorizar o futuro do clube em nome do sonho de elevar a presidente o poster que, anos antes, tinham pendurado na porta do quarto. Mas Rui Costa sabe de futebol e foi campeão nacional.

Desde então, duas coisas importantes estão a acontecer.

A primeira, natural, é a dimensão do Sport Lisboa e Benfica. O clube fatura mais de 66 milhões de euros por ano sem vendas de jogadores. É uma empresa grande, intensa, que exige uma gestão profissional e capaz. Sabe-se que um dos principais problemas que explica os frágeis resultados das empresas portuguesas é a gestão: quando ganham dimensão, chegam desafios para os quais o conhecimento do meio, a intuição e o saber fazer já não são suficientes. A comparação com este Benfica é evidente: Rui Costa sabe de futebol, não de gestão.

O segundo problema decorre deste: os empresários que melhor contornam este difícil desafio são aqueles que chamam para o seu lado gestores profissionais. Rui Costa ainda chamou Luís Mendes, para as contas, e Lourenço Pereira Coelho, para o futebol, mas deixou na administração da SAD do Benfica muitos resquícios de bolor do Vieirismo. Neste último ano este bolor conquistou as paredes e os fóruns de decisão, aproveitando-se da incapacidade de decisão enquanto gestor que, já ninguém esconde, caracteriza o próprio Rui Costa.

Atrás dele, Nuno Costa, inefável chefe de gabinete que trabalhou com Isaltino na Câmara de Oeiras, controla o que o presidente sabe e não sabe. Rui Pedro Braz, responsável pelas contratações, diz a tudo que sim e vai gerindo a sua vida por aquilo que consegue publicar nos jornais, que fingem não saber que o treinador Roger Schmidt não lhe dirige sequer a palavra. Jaime Antunes, que gere com mestria a liturgia de conselhos de administração, sempre preparado para quaisquer cenários.

No meio disto, Rui Costa: o que não decide, não antecipa e não se convence que a dimensão do Benfica exige outro tipo de gestores. Isto é tanto mais evidente quanto os nossos rivais desportivos parecem não hesitar nesse caminho: o Sporting de Varandas é um músculo de gestão competente, Villas-Boas parece querer implantar no FCPorto o mesmo princípio.

Os Benfiquistas que estarão na Assembleia Geral de sábado, e todos os benfiquistas que amam este clube, precisam de se convencer que os desafios do futuro vão ser maiores, não menores.

Um clube da dimensão do Benfica só terá sucesso se liderar a transformação do futebol português num dos mais competitivos e sustentáveis da Europa. Essa liderança (como é óbvio para um bom gestor profissional) só será possível se o Benfica assumir a rédea de discussões chave, de que é bom exemplo a centralização dos direitos televisivos em Portugal. O Benfica tem de ser a chama do futebol português, não uma fagulha.

E isso, esse futuro, joga-se na qualidade dos seus corpos sociais. É um dilema, mas é um dilema simples que os sócios sabem como resolver.

Sócio 5000 do Benfica, gestor

Fonte: A Bola

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