DG do FMI diz que a economia mundial corre o risco de sofrer de um mal-estar de baixo crescimento e de uma insatisfação crescente

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A Directora-Geral do Fundo Monetário Internacional, Kristalina Georgieva, alertou na quinta-feira, 24/10, que o mundo corre o risco de ficar atolado numa trajectória de baixo crescimento e elevada dívida, que deixará os governos com menos recursos para melhorar as oportunidades para as suas populações e enfrentar as alterações climáticas e outros desafios.

O resultado são populações cada vez mais insatisfeitas, disse Georgieva numa conferência de imprensa durante as reuniões anuais do FMI e do Banco Mundial em Washington.

As reuniões são ensombradas pela proximidade das eleições presidenciais de 5 de Novembro nos EUA, que levantam o espectro de que os americanos, atingidos pela elevada inflação durante a administração do Presidente democrata Joe Biden, poderão reconduzir o candidato republicano Donald Trump à Casa Branca, dando início a uma nova era de políticas comerciais proteccionistas e de triliões de dólares de nova dívida americana.

Segundo Georgieva, a insatisfação não é exclusiva dos Estados Unidos, apesar de a economia mundial mostrar alguma resistência face às ameaças de guerra, à fraca procura na China e aos efeitos desfasados de uma política monetária restritiva.

Para a maior parte do mundo, está à vista uma “aterragem suave”, mas as pessoas não se sentem bem com as suas perspectivas económicas”, disse Georgieva, referindo-se a um cenário em que a inflação elevada é domada sem uma recessão dolorosa ou grandes perdas de emprego. “Pergunto a toda a gente: como está a vossa economia? A resposta é boa. Como está o estado de espírito do vosso povo? A resposta não é tão boa. As famílias continuam a sofrer com os preços elevados e o crescimento global é anémico”.

Na terça-feira, 22/10, o FMI divulgou novas previsões económicas que indicam que o crescimento do PIB mundial diminuirá ligeiramente em 2029 para 3,1%, contra 3,2% este ano, muito abaixo da média de 3,8% registada entre 2000 e 2019, à medida que a actual força dos Estados Unidos se desvanece.

Ao mesmo tempo, o Monitor Fiscal do FMI mostrou que a dívida pública mundial deverá ultrapassar os US$ 100 biliões pela primeira vez este ano e continuar a aumentar, uma vez que o sentimento político favorece cada vez mais as despesas públicas e é resistente ao aumento dos impostos. Prevê também que a dívida pública em percentagem do PIB, actualmente 93%, deverá atingir 100% até 2030, ultrapassando o seu pico durante a pandemia de COVID.

“O resultado final é o seguinte: a economia mundial corre o risco de ficar presa numa trajectória de baixo crescimento e elevada dívida”, afirmou Georgieva. “Isso significa rendimentos mais baixos e menos empregos. Significa também menos receitas públicas e, por conseguinte, menos recursos para as famílias e para combater os desafios a longo prazo, como as alterações climáticas. Estes são tempos de ansiedade, tendo em conta estes problemas”.

Os chefes das finanças das principais economias do G20 expressaram separadamente o seu optimismo quanto a uma aterragem suave e apelaram à resistência ao proteccionismo.

“Observamos boas perspectivas de uma aterragem suave da economia global, embora subsistam vários desafios”, afirmaram os ministros das finanças e os governadores dos bancos centrais do G20 numa declaração conjunta emitida após uma reunião à margem das reuniões em Washington.

O comunicado não mencionou a invasão da Ucrânia pela Rússia, há muito um ponto de divisão para o G20, ou os conflitos militares de Israel com o grupo militante palestiniano Hamas em Gaza e a organização Hezbollah, apoiada pelo Irão, no Líbano.

Uma declaração separada emitida pelo Brasil, que detém actualmente a presidência do G20, afirma que os membros discordam sobre se os conflitos devem ser discutidos no seio do grupo, mas acrescenta que continuará a haver conversações entre os funcionários de nível inferior antes da cimeira dos líderes do G20 no Rio de Janeiro, em Novembro.

A trajectória da China

Georgieva afirmou que o crescimento da China poderá abrandar para “muito abaixo dos 4%”, a menos que o Governo tome medidas decisivas para mudar o seu modelo económico para a procura dos consumidores, em detrimento das exportações e do investimento na indústria transformadora.

Depois de ter mantido durante muito tempo as previsões de crescimento da China a um nível igual ou superior ao objectivo de Pequim de 5%, o FMI reduziu esta semana as perspectivas de crescimento da China para 2024 para 4,8%, com uma projecção de abrandamento para 4,5% em 2025. Em 2014, o PIB chinês cresceu a uma taxa de 7,4%.

Georgieva afirmou que são necessários mais pormenores sobre os planos de estímulo da China para avaliar se estes irão melhorar as suas perspectivas. O economista-chefe do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas, e a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, disseram na terça-feira que não viram nada de Pequim que pudesse aumentar materialmente a procura interna da China.

As reuniões do FMI e do Banco Mundial também foram marcadas por novas preocupações sobre uma escalada da guerra no Médio Oriente, que foi desencadeada há um ano pelo ataque surpresa do Hamas a Israel.

Uma escalada mais ampla do conflito poderia aumentar as repercussões nas economias da região, disse Georgieva, incluindo o Egipto, que no início deste ano obteve um aumento de 3 mil milhões de dólares no seu programa de empréstimos do FMI.

Georgieva disse que viajará para o Egipto nos próximos 10 dias para avaliar as condições económicas e possíveis alterações ao programa, no meio de uma grave queda nas receitas do país no Canal do Suez.

Jihad Azour, director do Departamento do Médio Oriente e da Ásia Central do FMI, disse num briefing que a dimensão do programa continuava a ser adequada, mas que Georgieva iria avaliar a eficácia dos programas de protecção social do país na actual conjuntura.

Fonte: O Económico

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