A Era do Petróleo chegou ao fim? Estaremos prestes a entrar em uma nova era Energética?

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O mundo está à beira de uma transformação profunda no sector energético. Estamos a deixar para trás a Era do Petróleo e a avançar rapidamente em direcção à Era da Electricidade, segundo o mais recente relatório da Agência Internacional de Energia (AIE). Esta transição global não só remodelará a forma como consumimos energia, mas também trará mudanças significativas na estrutura dos mercados globais, nos preços dos combustíveis e no combate às alterações climáticas. Mas até que ponto esta mudança é realista, e quais os factores que poderão acelerar ou retardar este futuro energético promissor?

A Transição Energética: Mudança Irreversível ou ajuste Temporário?

De acordo com o relatório da AIE, a procura global por combustíveis fósseis atingirá o seu pico antes do final desta década. Isso representaria um ponto de inflexão histórico: após mais de um século de domínio do petróleo, carvão e gás natural, estas fontes de energia estariam a caminho de perder relevância a favor da electricidade gerada por fontes renováveis. Este crescimento vertiginoso da electrificação é particularmente visível na China, que lidera o mundo na adopção de energias renováveis e veículos eléctricos.

Contudo, a transição não será imediata nem isenta de desafios. Embora o consumo de electricidade esteja a crescer seis vezes mais rapidamente do que a procura total de energia, impulsionado em grande parte por economias emergentes, o sector de combustíveis fósseis continua a expandir a sua capacidade de produção. Novos projectos de Gás Natural Liquefeito (GNL) estão programados para entrar no mercado até 2030, e países como os Estados Unidos, Brasil, Canadá e Guiana continuam a aumentar a produção de petróleo. Isto cria uma contradição estrutural: um excesso de oferta de combustíveis fósseis num momento em que a procura por electricidade está a crescer, mas ainda não substitui completamente estas fontes de energia.

 O Impacto no Mercado Global de Energia: Preços em Queda?

Com este cenário dual – de aumento da oferta de petróleo e gás e de avanço da electrificação – a AIE prevê uma pressão descendente nos preços de energia. Se não houver grandes conflitos geopolíticos, a abundância de combustíveis fósseis poderá manter o preço do petróleo numa faixa entre 75 e 80 dólares por barril até ao final da década. Esta seria uma recuperação notável de um período recente de alta nos preços, desencadeado pela invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022, que levou a uma crise energética global e aumentou a inflação em vários países.

Mas até que ponto esta previsão é sustentável? Embora os preços estejam em queda, o relatório da AIE adverte que esses níveis dependem de uma série de factores, como a capacidade da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) de gerir a produção e as decisões políticas das grandes economias mundiais. O relatório destaca que a OPEP, liderada pela Arábia Saudita, continua a restringir a produção de petróleo, mantendo uma reserva recorde de 6 milhões de barris por dia, com o potencial de chegar a 8 milhões até 2030.

O que parece certo, no entanto, é que o mercado de energia está a tornar-se mais orientado para os consumidores, especialmente em regiões onde as energias renováveis estão a criar um excedente de oferta. Países como a Espanha já enfrentam momentos de preços negativos no mercado de electricidade, devido à sobrecarga de energia solar fotovoltaica, uma tendência que deverá expandir-se à medida que mais países adoptam estas tecnologias.

O Papel Central da China e a Electrificação Global

A China desempenha um papel fundamental nesta transformação. O País não só lidera a adopção de energias renováveis, como também está à frente na transição para veículos eléctricos. A previsão da AIE de que 50% das vendas de carros novos no mundo serão de veículos eléctricos até 2030 está ancorada na rápida electrificação da economia chinesa. Este movimento, impulsionado por grandes investimentos governamentais e pela necessidade de reduzir a dependência de combustíveis fósseis, está a servir de modelo para outras nações em desenvolvimento que desejam modernizar as suas infraestruturas energéticas.

Mas a ascensão da electrificação vai além do sector automóvel. A procura por electricidade está a crescer em todos os sectores, desde a indústria até à tecnologia residencial. Isto levanta uma questão crucial: como é que os países, especialmente as economias emergentes, poderão atender a esta crescente procura por electricidade de forma sustentável e fiável? A resposta, segundo o relatório da AIE, está em aumentar os investimentos em infra-estruturas de rede eléctrica e em energias renováveis, como solar e eólica, que já estão a começar a dominar a geração de electricidade em várias partes do mundo.

Combustíveis fósseis e o risco de um futuro irreversível

Embora o relatório da AIE pinte um quadro optimista de um futuro mais electrificado e com preços de energia mais baixos, há uma incerteza significativa sobre o futuro dos combustíveis fósseis. Algumas das maiores empresas petrolíferas do mundo, como a britânica BP, parecem ter recuado das suas metas ambiciosas de redução de emissões e voltado a sua atenção para os negócios tradicionais de petróleo e gás.

Além disso, projecções de grandes players financeiros, como o Goldman Sachs, indicam que a procura por petróleo poderá continuar a crescer até 2034, em contraste com a previsão da AIE de que o consumo de combustíveis fósseis estagnará já na próxima década. Esta divergência levanta questões sobre o ritmo e a extensão da transição energética global. Será que o mundo está realmente pronto para deixar de lado o petróleo e o gás num futuro tão próximo, ou estamos a subestimar o papel contínuo dos combustíveis fósseis na economia global?

O Desafio Climático: Consequências da inacção

Além das questões económicas, a transição para a Era da Electricidade tem profundas implicações ambientais. Embora a AIE preveja que as emissões globais de dióxido de carbono estejam prestes a atingir o seu pico, o mundo ainda não está no caminho certo para cumprir as metas climáticas do Acordo de Paris. As temperaturas globais poderão aumentar até 2,4 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais até ao final do século, superando o limite de 1,5 graus estabelecido como meta para evitar os piores impactos das alterações climáticas.

O ano de 2023 já registou recordes de temperatura, com eventos climáticos extremos em várias partes do mundo, desde ondas de calor na Índia até inundações devastadoras na África e incêndios florestais na Amazónia e na Grécia. Estes eventos sublinham a urgência de uma transição energética mais rápida e eficaz. No entanto, o relatório da AIE alerta que os custos da inacção climática estão a aumentar, à medida que as emissões se acumulam na atmosfera e o clima extremo se torna cada vez mais imprevisível.

Estamos prontos para a Nova Era Energética?

O mundo está, de facto, à beira de uma grande transformação energética. A Era da Electricidade promete um futuro de energia mais limpa, mais acessível e com menor impacto ambiental. Mas a transição não será linear nem isenta de desafios. O excesso de oferta de combustíveis fósseis, as incertezas geopolíticas e os desafios económicos e climáticos colocam obstáculos consideráveis à implementação de um sistema energético verdadeiramente sustentável.

O ritmo e o sucesso desta transição dependerão de uma combinação de factores: políticas governamentais eficazes, cooperação internacional, inovação tecnológica e uma mudança cultural em direcção a fontes de energia mais limpas. À medida que entramos na segunda metade desta década, as decisões tomadas hoje determinarão se o mundo está realmente pronto para abraçar a Era da Electricidade ou se continuaremos a depender dos combustíveis fósseis por muito mais tempo.

Fonte: O Económico

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