Tadej Pogacar é assim tão fora de série?

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Domínio esmagador do esloveno no Giro já era previsível. Líder da equipa UAE Emirates não competiu com os melhores. O que esperar dele e da concorrência no Tour? O maior rival, Vingegaard, está em dúvida, mas Evenepoel e Roglic são certos

Tadej Pogacar foi vencedor previsto da Volta a Itália. A superioridade com que o fez também não causa espanto. Corresponde à diferença de rendimento – que Geraint Thomas, terceiro classificado, a mais de dez minutos de distância, denominou de talento físico – entre o esloveno, um dos dois melhores em provas por etapas, estatuto partilhado com Jonas Vingegaard, e os adversários que enfrentou nesta edição do Giro. Diferença que se torna abismal após três semanas de competição numa grande volta.

Na volta italiana, foram seis vitórias em etapas, 20 dias (de 21 totais, excetuando os dois de descanso) a envergar a camisola rosa, símbolo da liderança da classificação geral, que conquistou com 9.56 minutos sobre o segundo posicionado, o colombiano Daniel Martinez, estreante em pódio nas três grandes. Pogacar teve apenas um desaire, se é que se tal pode considerar assim ter sido vencido, em sprint, pelo equatoriano Jhonatan Narváez (INEOS Grenadiers) pelo triunfo na primeira etapa. Caso contrário, Pogacar teria feito todo o Giro com a maglia rosa.

Obviamente, estamos na presença de um corredor fora-de-série. Mas já não se pode afirmar que as exibições e os resultados esmagadores de Pogacar nesta Volta a Itália não estão alcance de nenhum outro do pelotão mundial. Desde logo, a Jonas Vingegaard. O dinamarquês bateu-o inapelavelmente nas duas últimas Voltas a França – com 2.43 minutos de vantagem em 2022 e 7.29 minutos em 2023 -, ainda que, nesta última, o esloveno tenha atenuante de ter tido a preparação prejudicada por fratura de um pulso.

No Giro de 2024, Pogacar esteve numa categoria à parte. Só foi submetido (ou submeteu-se) a competitividade máxima em três etapas. Para vencer o primeiro contrarrelógio em Perugia, empenhando-se a fundo na subida para a meta para recuperar o atraso com que chegou a esse setor final e ainda vencer. Depois, na etapa rainha, com chegada em alto a Livigno, onde atacou a 14 quilómetros da chegada para conseguir alcançar o fugitivo Nairo Quintana, igualmente a tempo de triunfar. E finalmente, no segundo contrarrelógio, em que, todavia, acabou por der superado pelo especialista Filippo Ganna. Nas outras quatro etapas que conquistou, Pogacar fê-lo sem necessidade aparente de pedalar… a fundo.    

De resto, o diretor da UAE Emirates, Mauro Gianetti, confirmou essa perceção, afirmando, nos últimos dias do Giro, que ainda não se tinha visto o melhor de Tadej Pogacar. Declaração que poderá ter muito de tática, tendo a destinatária a concorrência do esloveno… no Tour. Em que, aí sim, se espera mais forte. Incomparavelmente. Desde logo, reforce-se, de Jonas Vingegaard, ainda que o líder da Visma-Lease a Bike não esteja confirmado à partida de Florença, devido à grave queda sofrida a 4 de abril na Volta ao País Basco, em que sofreu várias fraturas e um pneumotórax.

Após as duas derrotas consecutivas no Tour, os diretores desportivos da equipa UAE Emirates decidiram que até um superatleta como Pogacar precisava de ganhos marginais para vencer Vingegaard. Gianetti revelou ao Het Nieuwsblad que o esloveno passou a trabalhar com uma nova nutricionista espanhola, que lhe otimizou a dieta a alimentar, em que tudo o que o corredor ingere é antes pesado.

Além disso, foram feitos diversos ajustes na posição na bicicleta com base em medições científicas. O quadro tem uma medida abaixo, as manivelas dos pedais foram encurtadas, de 172,5 mm em 2022, para atuais 165 mm, menos 5 mm comparativamente ao que Pogacar utilizava na temporada transata. Com isso, o esloveno tem uma cadência de pedalada mais rápida e permite uma posição mais avançada na bicicleta, mais eficaz na aerodinâmica.

Pogacar espera igualar o feito de Marco Pantani este verão. O malogrado trepador italiano foi o último a conquistar a dupla vitória Giro/Tour, em 1998, e esloveno partirá mais motivado do que nunca. Era sua pretensão não se esforçar demasiado na última semana da competição e a superioridade esmagadora do seu talento físico permitiu-lhe cumprir essa premissa. E também garantiu o desejo proclamado de sair da volta italiana plena forma física e mental. Só energia positiva para o Tour.

No entanto, novos e mais poderosos adversários, com Remco Evenepoel e Primoz Roglic confirmados à cabeça, aguardam-no na Grande Départ da corrida francesa, na capital do Renascimento, a 29 de junho, onde se poderá aguardar também a presença de Jonas Vingegaard, ainda que a um nível de forma imprevisível. Portanto, considerar que este Giro é um indicador determinante de que Tadej Pogacar será vencedor, também antecipado, do Tour, é conclusão precipitada.

Fonte: A Bola

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