Anular Gyokeres era o que faltava ao plano montado no Dragão para a Liga e o técnico portista conseguiu-o
Se Gyokeres não marca num clássico o Sporting arrisca passar ao lado da vitória. Uma verdade de La Palisse pelo menos aplicável à época que hoje termina.
Foi assim no empate na segunda mão das meias-finais da Taça de Portugal frente ao Benfica (2-2) e hoje, na final, diante do FC Porto (1-2).
Com tremenda influência no jogo ofensivo dos leões, anular o sueco seria sempre passo decisivo para se ser bem-sucedido. Não bastava condicionar a construção ou tornar o jogo desconfortável nas segundas bolas, seria sempre preciso evitar esticões e a imposição física de Gyokeres nos duelos.
Na Liga, em pleno Dragão, Sérgio Conceição tinha montado uma estratégia que funcionou na perfeição durante 45 minutos. Precisamente, até ao nórdico entrar.
Até lá, a pressão média-alta (e não alta) deixava a bola um pouco mais à vontade nos pés dos centrais leoninos, porém encaixavam-se depois as peças de modo a evitar a progressão pelo corredor interior: formava-se um losango, com Evanilson, Pepê, Nico González e Varela, este mais recuado, a cortarem as linhas de passe dos três centrais para o duplo-pivot ou para um dos médios ofensivos, hábeis a procurar esse momento, como Pedro Gonçalves e Trincão. Os leões eram obrigados a sair pelos flancos, e aí, o risco era bem menor para quem defendia.
Esta foi a parte do plano que Conceição trouxe para o Jamor.
No Dragão, tudo mudou ao intervalo, com a entrada de Gyokeres (e de Nuno Santos à hora de jogo, hoje titular). Os leões conseguiram esticar mais o jogo, o sueco foi-se encontrando com o seu ritmo (vinha de lesão) e empatou a partida em dois minutos, já perto do fim.
O que faltara ao técnico portista tinha sido precisamente o impacto individual do goleador.
Na final deste domingo, esse impacto apresentava-se em campo desde o início. Gyokeres era ameaça ainda maior, em teoria, porque não havia Pepe.
Saindo a jogar ou num plano mais direto (enorme concentração de Zé Pedro e Otávio, mais a presença de Varela, sempre solidários uns com os outros), o conjunto de Rúben Amorim sentiu inúmeras dificuldades para criar perigo, a não ser nas jogadas de bola parada. Aí sim, Diogo Costa teve de intervir várias vezes, por vezes até perante algum desnorte dos colegas de setor.
Um canto colocou os leões na frente do marcador. Mais uma vez algo falhara no plano. Agora, os esquemas táticos defensivos. No entanto, seis minutos depois, o enorme erro de Geny deu nova hipótese aos dragões e ao plano de Sérgio.
É óbvio que a expulsão de St. Juste é decisiva.
O neerlandês, conhecido pela sua velocidade, não conseguiu controlar a profundidade perante Evanilson e deixou a sua equipa em inferioridade numérica. Amorim resolveu com Morita e o recuo de Pedro Gonçalves, mas Gyokeres ainda mais sozinho ficou.
A parte do plano de anular o sueco tinha ficado um pouco mais fácil.
O ataque posicional foi tentando atacar os espaços entre central e lateral, ou libertar sobretudo Francisco para o 1×1, mas Diogo Pinto ia resistindo, com apoio dos colegas. Gonçalo Inácio por vezes, outras Coates e Quaresma.
Até que, no prolongamento, Diogo Pinto errou.
Depois de ter hesitado logo nos primeiros minutos numa saída sobre Evanilson, desta vez foi com tudo na direção do brasileiro. Falhou o soco na bola e fez penálti.
Era a capitulação do leão. Em tarde de despedida, Taremi não vacilou e garantiu a Taça, confirmando que, mesmo depois de uma época cinzenta e bem longe dos principais rivais, o seu treinador ainda conseguiu arrancar mais uma master class tática.
Fonte: A Bola