«O nosso caminho é marcar o andebol português»

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Ricardo Costa não quer apenas «ganhar um título de vez em quando»

Sentado na sala de conferência de imprensa com o troféu de campeão à frente e com a banda sonora das celebrações a entrar no espaço, enquanto aguardava para que todas as condições estivessem reunidas para começar a falar sobre a conquista do título nacional, Ricardo Costa não evitou um desabafo embrulhado num sorriso: «Estou a perder a festa», atirou.

Mas mesmo estando a perder os festejos de algo que tanta luta deu para conquistar, o treinador do Sporting respondeu a todas as perguntas dos jornalistas. Durante quase 16 minutos, falou sobre todos os temas, desde os tempos em que foi treinar na 2.ª divisão, depois de dois anos no FC Porto, até ao facto de ter partilhado esta e as outras conquistas que já alcançou no Sporting… com os filhos.

Isto, depois de um jogo em que as emoções estiveram ao rubro do primeiro ao último minuto. Depois de uma época em que o Sporting ganhou 27 dos 28 jogos disputados no campeonato.

«Foi uma caminhada difícil da nossa equipa. Mas a haver um vencedor seríamos nós. Muita gente nos dizia que merecíamos, mas isso saberia pouco se não ganhássemos este jogo. Fomos a equipa que dominou do princípio ao fim da época. Uma equipa jovem que esteve nos últimos dois anos a competir e a perder por um. Para nós isso nunca foi trauma, mas sim uma oportunidade para nos chegarmos à frente e sabermos aquilo que tínhamos de fazer para ganhar este campeonato. Ganhámos perante uma grande equipa do FC Porto que tem dominado o andebol português nos últimos anos. Para um conjunto de jovens, ficar sempre à beira da praia é mau, mas aqui conseguimos uma grande vitória. Se tivéssemos de desenhar uma festa perfeita, ela seria assim, junto dos nossos adeptos», introduziu.

«Sinto-me muito feliz. É muito difícil ganhar. Nós ganhámos quatro títulos nestas três épocas. E lutámos de igual para igual com o FC Porto. Tenho de dar os parabéns à minha equipa: são jovens com uma ambição desmedida. Tenho a melhor equipa, tanto na competência como no lado humano. Acredito que o nosso caminho não é ganhar um título de vez em quando: é marcar o andebol português. É essa a nossa ambição e é isso que os jogadores me pedem», acrescentou.

Para conseguir devolver os leões ao título que lhe fugia desde 2018, o Sporting teve de quebrar a hegemonia do FC Porto, que podia ter conquistado o pentacampeonato em caso de vitória neste sábado no Pavilhão João Rocha.

E o clube azul e branco é um clube que diz muito ao treinador leonino, ou não tivesse ele passado ali três épocas como treinador, no início da carreira, já depois de ter representado os dragões durante oito épocas enquanto jogador.

Mas mais do que vencer diante de um clube que o levou para a ribalta, Ricardo Costa preferiu destacar o trajeto que teve de fazer depois de sair dos dragões enquanto treinador, sem ter conquistado o título nacional.

«Toda a gente sabe o meu passado no FC Porto, eu não o nego e tenho muito orgulho do que vivi. Sou dos poucos treinadores que é campeão da 2.ª divisão e agora da 1.ª. Orgulho-me muito orgulho do meu trajeto porque fui lá abaixo. Fui para a 2.ª divisão. E tenho orgulho nas vitórias e nas derrotas.  Este era um sonho, juntamente com um grupo de pessoas que me desafiou a vir para o Sporting. Eu sabia que era um enorme clube. Hoje gosto muito do Sporting e tenho de agradecer a oportunidade que me deram», sublinhou.

Já quando questionado sobre qual dos títulos lhe soube melhor, se o primeiro como jogador ao serviço do FC Porto, ou este pelo Sporting, o técnico de 47 anos confidenciou… aquele que era há muito tempo o seu sonho.

«Os dois títulos são muito especiais. O FC Porto não ganhava há 31 anos [o jejum durou entre 1968 e 1999]. E esse foi o título que marcou uma viragem de etapa no andebol. Mas o meu sonho desde os 22 anos era ser treinador. Eu não tenho saudades nenhumas de ser jogador. Tinha este sonho, preparei-me para ser treinador, porque é aquilo que mais gosto de fazer. E tenho o privilégio de estar neste clube», enalteceu ainda.

Já sobre a possibilidade de celebrar junto dos filhos, Martim e Kiko Costa, duas das principais figuras da equipa, o treinador assume ser um felizardo. Ainda que nem sempre seja fácil essa gestão.

«Tenho um amigo, que para mim é dos melhores treinadores do Mundo, o Manolo Cadenas, que diz que sou dos maiores sortudos do andebol mundial por poder desfrutar [junto dos filhos]. Todos gostamos dos nossos filhos e gostamos que eles tenham sucesso. É giro, mas não é só rosas. Há momentos difíceis. Mas eles sabem ocupar os seus lugares», defende.

O técnico fez também questão de reforçar que o Sporting não é só… os manos Costa.

«O Kiko já teve um jogo em que marcou 19 golos [contra o FC Porto] e nós não ganhámos. Hoje fez um jogo muito mau – ele sabe, não precisa que o pai lhe diga. E por isso até conseguimos responder às pessoas que dizem que esta equipa são os manos Costa. Este Sporting não são os manos Costa. É uma tremenda injustiça para os jogadores com quem os manos Costa jogam. Fico muito mais contente por termos jogado juntos, de forma coletiva, do que se o Kiko tivesse marcado 25 golos», assegurou.

De referir que o FC Porto voltou a não falar aos jornalistas após o encontro.

Fonte: A Bola

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