No próximo dia 24 deste mês de Agosto, Venâncio Calisto vai estrear “O casal Palavrakis”, no Teatro Avenida. Na Cidade de Maputo, o espectáculo teatral será apresentado até dia 31 de deste mês. Já em Setembro, entre 20 e 25, o espectáculo será apresentado na Beira. De 26 a 27 de Setembro, o espectáculo será visto no Chimoio e, finalmente, entre 1 e 9 de Novembro será apresentado em Cabo Verde.“O casal Palavrakis” é um drama da autora espanhola Angélica Liddell, que conta a turbulenta vida conjugal de Elsa e Matteo. Os dois foram vítimas de maus-tratos, na infância, e vivem um em função do outro, principalmente depois que tiveram a filha assassinada. O mundo é cruel. O trauma é do tamanho do abismo que se repete.“Em ‘O casal Palavrakis’ nos deparamos com o quotidiano de Elsa e Mateo Palavrakis, que nos chega por via de uma narrativa fragmentada que avança e recua no tempo. Uma voz em off, um narrador como um deus tece e destece a trajectória do jovem casal, que, enquanto tenta vencer um concurso de dança, precisa lidar com a responsabilidade do nascimento de sua primeira filha”, lê-se na nota de imprensa, na qual se destaca, igualmente, que “Pouco a pouco, o público é introduzido numa atmosfera de violência e de pesadelo, em que já não se pode mais fugir”.No espectáculo “O casal Palavrakis”, Venâncio Calisto desafia-se a estabelecer uma narrativa que dialoga com a realidade moçambicana actual e as questões universais presentes num drama contemporâneo e cuja força reside na denúncia da condição humana. “Em termos formais, estamos diante de uma releitura de “O casal Palavrakis”, num exercício de dramaturgia experimental, cuja escrita resulta do trabalho cénico, os actores e o encenador/dramaturgo no contacto com o palco buscam um discurso que seja a ponte entre o texto original e a multiplicidade de interpretações que a sua realização hoje em Moçambique implicam, o que resulta na versão “O casal Palavrakis ou os leprosos”, lê-se na nota de imprensa.Referindo-se ao contexto de produçao, Venâncio Calisto avança que, “Em 2017, por intermédio de António Cabrita, na época meu professor de Dramaturgia, na ECA, e grande agitador da poesia que me impelia a responder com o engenho do belo à nossa precariedade social e humana, li, pela primeira vez, Angélica Liddell. A sua Trilogia do Infinito era precisamente a tradução perfeita da nossa aterradora condição existencial. O mundo sombrio e caótico habitado pelos seus personagens correspondia à nossa desolação diária. A dramaturgia da Angélica Liddell chegou-me como soco inesperado, fiquei num estado de espanto, do qual nunca mais me recuperei e ainda bem, e isso serviu-me de impulso para a levar aos palcos de Maputo e Beira, uma parte da obra desta grande voz do teatro contemporâneo. Para essa primeira emprestada cénica de Angélica Liddell, em Moçambique, escolhemos ‘O casal Palavrakis’ , na época interpretado por Assucena Daniel e Sidónio Mondlane”, disse o encenador, acrescentando: “Hoje, passados sete anos, e quase cinco da minha errância por outros mares, regresso a este lugar de partida. ‘O casal Palavrakis’ volta a acontecer em Maputo, desta vez com outros protagonistas, mas com a força do espanto inicial”.A propósito de protagonistas, a interpretação do espectáculo foi confiada a Lizha Fox e Adelium Castelo, com cenografia de Coisas de Madeira e Tal, apoio a figurinos de Henriqueta Macuácua e criação de luz de Phaira Balói.De acordo com a mesma nota de imprensa, a criação do espectáculo “O casal Palavrakis” marca a estreia em Moçambique do Movimento de Teatro da Experimentação dos Sentidos (TES), um colectivo artístico multidisciplinar que surge em resposta à problemática da fome num mundo em constante convalescença. Criado em 2020, no auge da pandemia da COVID-19, por um colectivo de artistas multidisciplinares e oriundo de diferentes países da CPLP. SOBRE O ENCENADOR Venâncio Calisto nasceu a 08 de Julho de 1993. É actor, encenador e dramaturgo. Formou-se em Teatro pela Escola de Comunicação e Artes, da Universidade Eduardo Mondlane, e é mestre em Teatro, especialidade em Teatro e Comunidade, pela Escola Superior de Teatro e Cinema, Instituto Politécnico de Lisboa.Com um percurso teatral que passa por Moçambique, Brasil, Itália, França e Portugal, dedica-se à encenação e à escrita para a cena enraizada no teatro experimental e na criação colectiva. É fundador e director artístico do Movimento de Teatro da Experimentação dos Sentidos. Colaborou com o Teatro Nacional Dona Maria II, na criação da peça Viagem Por Mim Terra, no âmbito da Odisseia Nacional (2023). Foi assistente de encenação do espectáculo “As areias do Imperador”, de Mia Couto, com encenação de Victor de Oliveira (2023). Estagiou no Teatro de Odéon em Paris e no Festival d’Avignon, como assistente de encenação em La Cerisaie de Anton Tchekov, uma encenação de Tiago Rodrigues (2021).Publicou os seguintes livros: |Teatro| – “Nas Traseiras do Horizonte” (Edição de autor, 2023), “Dentro do estômago do mundo|dentro do vazio, para ser mais exacto” (Edições Húmus, 2022); “O alguidar que chora ou a história das pedras que falam” (edição de autor, 2020, Húmus, 2021, Exclamação, 2023 e Cavalo do Mar, 2023), |Literatura Infantojuvenil| – “O embondeiro e a cobiça do senhor Hiena” (Fundza, 2021); “A aldeia dos Cajueiros mágicos, O Artesão e os macacos malabaristas e O Cão, a Lebre e o Pássaro” (colecção Ler para Começar da AIDGLOBAL, 2022).Participou nas antologias: “Contos e crónicas para ler em casa – Volume I” (Literatas, 2020) e “Idai – marcas em verso e prosa” (Gala Gala Edições, 2020). Em 2018, foi distinguido com o Prémio de Artes e Cultura da Mozal, na Categoria de Teatro, e ficou em Primeiro Lugar no concurso de poesia Ponte Maputo-Ka Tembe, promovido pelo Centro Cultural Moçambicano Alemão (CCMA). Actualmente é professor de Dramaturgia na Escola de Comunicação e Artes da Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo.
Fonte:O País