Não é de estranhar que alguém propunha em breve o fim da tecnologia e o regresso ao ‘olho nu’ do árbitro. Que crime seria
O próximo Campeonato da Europa, que decorrerá entre junho e julho próximos, contará com a presença de dezanove árbitros principais (dezoito europeus mais um argentino indicado no âmbito da cooperação UEFA/CONMEBOL), quarenta árbitros assistentes, vinte videoárbitros e doze árbitros de apoio (atuarão como 4A ou árbitros assistentes de reserva).
Árbitros e VAR participaram recentemente num workshop de quatro dias em Frankfurt, onde receberam algumas indicações técnicas do Comité de Arbitragem.
As novidades passam pela maior prevalência da autoridade do árbitro, com a intervenção do VAR a reduzir-se apenas ao erro muito claro e evidente que não tenha sido detetado nas quatro linhas. Toda e qualquer situação protocolar que sugira dúvida ou mais do que uma interpretação, deverá ser avaliada apenas por quem no terreno de jogo. Esse afunilamento na ação do videoárbitro está em linha com o que já acontece a nível das competições de clubes, onde a linha de intervenção é muito menor do que a que demonstrada em algumas ligas nacionais (inclusivamente na nossa).
Também foi tornada pública a decisão de impedir que qualquer jogador aborde o árbitro para questioná-lo sobre situações de jogo, sobretudo de forma menos respeitosa. Quem o fizer será de imediato advertido (cartão amarelo). Não é possível que os árbitros tenham tranquilidade para desempenhar a sua função se forem sistematicamente rodeados por jogadores. Essa prerrogativa ficará apenas para o capitão de equipa, se atuar de modo e em tom adequados. O Comité de Arbitragem, que já deu a mesma indicação aos selecionadores que marcarão presença na Alemanha, pretende assim reduzir a pressão exercida sobre a autoridade máxima em campo, embora entenda que faz sentido o árbitro explicar (não confundir com justificar) as suas decisões ao representante da equipa. Caso o capitão seja um guarda-redes, deve ser indicado outro jogador que possa desempenhar o seu papel nos lances que aconteçam no meio-campo adversário.
Gianni Infantino, presidente da FIFA, veio a público pronunciar-se sobre o futuro da videoarbitragem no futebol. As declarações aconteceram no âmbito do 74.º Congresso daquele organismo, realizado em Banguecoque, Tailândia. Infantino referiu que pretende melhorar e fazer evoluir a ferramenta, acrescentando que foi criada uma tecnologia mais simples, com menos câmaras e de maior acessibilidade para todos. O sistema, que designou como Football Video Suport, é algo muito parecido ao que o Olho de Falcão faz no ténis: cada treinador poderá solicitar intervenção do VAR em duas ocasiões e os próprios jogadores poderão pedir ao seu técnico que solicite essa revisão. Se ela resultar em alteração da decisão inicial, a equipa manterá as duas oportunidades.
Esta é uma mudança total de paradigma em relação ao que existe, inclusivamente no que diz respeito à presença de videoárbitros e de todo um sistema de apoio existente para cada jogo.
Enquanto meio mundo discute qual a melhor forma de fazer evoluir o atual protocolo (maior intervenção a outras situações de jogo ou restrição apenas aos erros tecnologicamente comprováveis), o presidente da FIFA sugere agora uma transformação radical no uso da tecnologia.
A questão aqui não é a de criticar a legitimidade da ideia – na prática, pode até vir a provar-se como o melhor modelo a seguir -, mas apenas este vai e vem de experiências no futebol, com a implementação de esquemas caros, morosos e que requereram enorme investimento a nível tecnológico, humano e até emocional, para depois sugerir-se o regresso a um modelo low cost, que existe há quase duas décadas no desporto de alta competição.
No meio de alguma contestação ao instrumento (na Suécia e Inglaterra, por exemplo), não é de estranhar que alguém propunha em breve o fim da tecnologia e o regresso ao olho nu do árbitro. Que crime seria…
Fonte: A Bola