Diniz se emociona após saída do Fluminense: ‘Dias bem difíceis’ | OneFootball

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Depois da demissão do Fluminense, o técnico Fernando Diniz concedeu entrevista coletiva no hotel onde mora na Barra da Tijuca. Emocionado em diversos trechos da entrevista, o treinador comentou sua a saída do Tricolor e destacou que não se sente traído por ser demitido após renovação há mais de um mês.

– Essa entrevista vai ser um pouco difícil para mim como nunca aconteceu na minha carreira. Sou tranquilo para dar entrevista, mas… (longa pausa e se emociona) Eu estou muito mexido ainda com minha saída do Fluminense, por todo que representou o Fluminense na minha carreira e tudo o que a gente viveu aqui. Então de uma maneira bem breve, é uma entrevista principalmente para me despedir da torcida. Já me despedi dos jogadores, dos funcionários do CT e da diretoria, queria também me despedir da torcida e de vocês, jornalistas, de uma maneira bonita como foi a nossa relação o tempo todo em que estive aqui. Em alguns momentos pode ser que seja difícil. Estão sendo dias bem difíceis para digerir e certamente vai passar e ficar todo mundo bem.

– O Fluminense foi um grande presente na minha vida. Essa minha volta em 2022, a gente conseguiu juntos uma coisa muito importante para o clube, torcida e para mim. Foi um casamento. Se não foi perfeito, foi quase. Sempre tive conexão grande com o clube e torcida. Isso ninguém tira. Mesmo que tenha um movimento de baixa. Fica eternizado. Fica meu agradecimento. A gente conseguiu chegar onde o Fluminense merecia. De maneira especial, o título da Libertadores, a maneira como foi conquistado, um time que precisava disso, com um orçamento limitado para brigar por um título. Foi um feito histórico. A Glória eterna, como tem a alcunha, mas a maneira como foi construído fica mais eternizado. O Fluminense chegou onde eu gostaria e merecia.

Cobiçado por outros clubes no mercado e especulado no Athletico-PR e Corinthians, o técnico Fernando Diniz disse que não pretende iniciar um novo trabalho por agora. Mas não descartou voltar a trabalhar ainda em 2024.

– Eu não pretendo trabalhar imediatamente, mas não sei se vou trabalhar esse ano. Eu preciso descansar um pouco. Estou muito mexido com o que aconteceu. É um sentimento grande de gratidão, pelo Fluminense. E um sentimento grande de tristeza, não queria que terminasse assim. Muita emoção vivida para mim e minha família. Vai ficar marcado, sou assim. Quis muito estar aqui de volta e tenho certeza que deu certo (se emociona). Peço desculpa pelo momento que a gente está passando de não conseguir vencer mas nunca faltou entrega e coragem para conseguir. O futebol para mim nunca foi mecânico, apartado da vida, do sofrimento, do choro e da alegria. Vou continuar assim, não vou me dobrar ao sistema. Sofri muito para ser quem eu sou. O sistema do futebol faz mal a muita gente. A minha vida no futebol é para deixar algo firme para que o sistema seja menos cruel.

Na atual passagem, Diniz acumula, 72 vitórias, 29 empates e 39 derrotas, totalizando um aproveitamento de 58,8%, além dos títulos da Libertadores da América em 2023, da Recopa Sul-Americana em 2024 e do Campeonato Carioca em 2022 e 2023.

– As grandes vitórias, vou citar um jogador. O futebol como meio de transformação. Posso falar do Arias. Era um menino com potencial imenso e cheio de dúvida sobre o próprio talento e sobre quem ele era. A vida da gente meio que vai se confundindo com o futebol. Em 2022, tive muitos embates com ele. Alguns oportunistas vão julgar como desrespeito. Tive embates para poder germinar. Não aparece na televisão, tem muitas conversas de carinho para ajudar. A fala dele em 2022, ele falou depois da oração: “tenho que agradecer esse cara, olho no espelho e tenho orgulho de quem eu vejo”. Esses títulos que vocês não veem ou reconhecem é minha maior função. Isso modificou a vida dele, a maneira como encara o mundo. Ele é uma pessoa inteira, bonita, e se vê capaz de jogar em qualquer lugar. Quando você tem pessoas assim, os títulos vão vir. Posso falar de muitos jogadores.

– Tanta gente para agradecer. Esse momento no Fluminense eu fiz um trabalho das coisas que mais acredito. Foi um trabalho de inúmeras mãos. Foi uma conquista da comunidade do Fluminense. Diretoria, funcionários, todos eles. O cara que arruma o campo, pessoas que recebem a gente no CT, staff permanente, meus companheiros da comissão, jogadores e torcedores. Existia uma conexão poderosa para que coisas lindas pudessem se tornar realidade. Todos participaram ativamente, com uma fatia grande de participação. Todos participaram de maneira ativa para conquistar o que conquistou – destacou.

– O Fluminense tem muita sorte de ter o presidente que tem com todos os alcances e limitações. É um excelente presidente. O que fez com o Angioni, Fred, Montenegro, Penha. Quando pregou o clube em 2019, ninguém queria jogar no Fluminense. Ele reconstruiu e virou um clube mais sólido e responsável. É uma coisa pragmática. Teve uma evolução muito grande. É um clube harmonioso.

– Os resultados determinam muitas análises. Pessoalmente não vou mudar. Todo mundo quer resultado grande, para mim, me interessa o caminho e construção para o resultado grande. Os títulos iam chegar, mas não muda minha análise. Quando você consolida com títulos que marcam. Principalmente a Libertadores e não só. Recopa, a goleada sobre o Flamengo no domingo de Páscoa. Quem estava lá nunca vai esquecer. Foi o primeiro (título) num grande clube. Marca muito e ratifica o que acredito. Vitórias e derrotas não determinam as pessoas. Quem vence para mim são as pessoas que trabalham muito, sonham, vão atrás, ajudam o outro. E quem ganha, muitas vezes não é assim, e para mim não faz sentido. Só conseguimos vencer porque o elemento da taça não foi o mais importante, mas a maneira de construir as relações humanas. Foi um momento de consolidação do que acredito.

– Os jogadores são os que mais sofrem. Vai passando o tempo, você ganha maturidade e suporta um pouco melhor. O sistema trata jogadores de 16, 17, 18 como se fossem capazes de suportar avalanche de superficialidade. Entram como bode expiatório de uma sociedade que quer extravasar e encontrar culpados para viver melhor. Os jogadores não são treinados para suportar, tampouco vêm de famílias estruturadas para ajudá-los.

– Fiquei triste, não esperava (a saída). Era um trabalho difícil de renovação. Fui julgado por seis jogos. Mas tinha muita confiança. Teve momentos de resultados ruins, mas sabia que ia trazer frutos bons, é uma convicção e era compartilhada internamente. A chance de dar certo era inexorável. A Seleção sempre morou em mim. Se um dia tiver que voltar, vai ser natural. Não foi obsessão, nunca tive plano de carreira. Se um dia for para estar lá, vai acontecer.

– Não acho que vai afetar. Não vou estar lá, mas vou estar na torcida. O Marcão é um grande parceiro, tem capacidade para assumir, todo mundo vai ajudar. O time está muito treinado. Minha crença é que com trabalho ia conseguir superar. Acho que o Fluminense vai fazer uma temporada boa. As relações são fortes não só com o jogador. O Fluminense ganhou por uma série de coisas. Os funcionários foram demais comigo. Do marketing, comunicação, da limpeza, posso chamar pelo nome. O Vagner, Dona Vera, Pedrão, Magrinho da manutenção. A gente senta para tomar café junto. Isso é uma força do Fluminense e ela está lá. Eu tenho esse jeito que fez crescer o movimento. Eles têm o vínculo comigo mas está lá entre eles e vai continuar.

– Eu sou frio para ver o que está acontecendo. Imagina o Fluminense com o orçamento que tem – deve estar entre oitavo e décimo segundo em termos de orçamento de folha – a gente fica em terceiro em 2022 e ganhar a Libertadores em 2023, o sonho do clube, momento catártico. Um dos principais problemas é ganhar algo significativo que dá uma catarse geral para todo mundo. Torcida, jogador, funcionário, dirigente. O jogo do Inter para mim foi a final da Libertadores. Foi o mais emblemático. No vestiário teve tanta energia que não sei se a final fosse próxima, não sei se a gente ia se recompor para fazer a final. Teve um mês para se recompor e chegar bem para a final. Ano passado a gente estava tão focado, era tanta obsessão pela Libertadores, que a gente não conseguia se conectar para jogar no Brasileiro, parecia que a gente jogava um time no Brasileiro e na Libertadores.

Fonte: OneFootball

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