A mania de começar a construir pelo telhado

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Neste País iniciam-se os projetos pelo fim em vez de sustentados pela base

Quem me conhece, sabe que uma das máximas que sigo diariamente é que «não se começa a construir a casa pelo telhado». Mas neste País, em muitas áreas, é exatamente isso que acontece, iniciam-se os projetos pelo fim em vez de sustentados pela base.

Quem me conhece, sabe bem que desde sempre defendi, e já o escrevi neste espaço, que enquanto não chegar a profissionalização à Liga de Futebol Feminino não conseguiremos olhar a fundo para os problemas e dificuldades que os clubes e a própria competição enfrentam.

Vem isto a propósito do incidente divulgado aquando da deslocação da equipa do Sporting à Madeira, para jogar com o Marítimo. O episódio revelado nas redes sociais pelas jogadoras do Sporting relativamente às péssimas condições do balneário que encontraram, é exemplo do que digo. Para os responsáveis federativos, é mais importante ter VAR e dizer que somos a primeira liga a ter VAR do que proporcionar condições dignas às jogadoras. Como por exemplo um balneário com água quente, com portas e janelas, com espaço para se equiparem. E, já agora, limpo, sem insetos e sem estar degradado. É o mínimo.

Infelizmente há muito boa gente que continua a não pensar assim. Que uma equipa de uma I Liga feminina pode trabalhar em condições que já nem as equipas dos distritais admitem. Só com a profissionalização da liga conseguiremos impor regras obrigatórias para que as equipas cumpram para participar. E é tão simples quanto isto: se não cumprem, não podem participar. Uma equipa A feminina, que joga na divisão máxima de futebol, tem de ser tratada com o mesmo respeito e as mesmas condições que os homens de uma equipa A masculina. Mas continuamos a dar condições inapropriadas e lamentáveis às nossas jogadoras. É por isso que, no mês em que se celebra o Dia do Trabalhador e também o Dia da Mulher, nunca é demais apelar e lutar pela igualdade de condições de trabalho das jogadoras. Existe uma desigualdade a nível de condições de trabalho muito grande, como se percebeu pelo péssimo exemplo que vimos do balneário do Marítimo, que – infelizmente – não é caso único. Esse foi tornado público porque as jogadoras tiveram a coragem, e bem, de o revelar, mas há muitos outros, noutros clubes, que não são dignos de primeira divisão. Não há é coragem de o denunciar. O que é pena.

PS – Mónica Jorge, diretora executiva da FPF para o futebol feminino, disse ontem no podcast Admira-te: «Estamos no caminho certo da evolução para o perfume do futebol [feminino] português ser dos melhores a nível internacional». Sobre a profissionalização da Liga, zero, nem uma palavra. O que também é pena.

Fonte: A Bola

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