‘Mercado de Valores’ Os desafios de AVB

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Os adeptos, sobretudo das gerações mais novas, estão muito mais atentos e exigentes a tudo o que rodeia a gestão das instituições

O último fim de semana ficou marcado pelos resultados das eleições mais concorridas de sempre do FC Porto. A adesão foi enorme, num momento em que o clube atravessa dificuldades a vários níveis. Podemos retirar algumas notas do dia 27 de abril. A primeira foi a forma cívica como as eleições decorreram, com tranquilidade, responsabilidade e respeito. A segunda foi a expressividade do resultado final. André Villas-Boas (AVB) colocou um ponto final num ciclo de 42 anos com o apoio de 80% dos sócios presentes.

Fica o aviso para aqueles que pensam que as eleições se ganham com um histórico de títulos ou com renovações/promessas de última hora. Os adeptos, sobretudo as gerações mais novas, estão muito mais atentas e exigentes a tudo o que rodeia a gestão das instituições. AVB, pela sua personalidade, organização e pela forma séria como apresentou o seu projeto, ganhou um voto de confiança dos adeptos. O mais difícil vem a seguir…

Por muito que nos tenham querido passar a mensagem de que o FC Porto estava dividido ou que AVB teria sido responsável por fragmentar e criar instabilidade no universo portista, a realidade é que as eleições nos transmitiram uma ideia completamente diferente. O desejo de mudança foi bem evidente e ficou refletido nos resultados finais. Contudo, apesar do resultado expressivo, ainda existem muitos anticorpos que terão de ser ultrapassados.

André Villas-Boas é inteligente, sabe comunicar e (aparentemente) rodeou-se de uma equipa com pessoas competentes, em cada uma das áreas de ação. Por muito que esteja magoado e até melindrado com os ataques pessoais que lhe foram feitos durante a campanha, não só por Jorge Nuno Pinto da Costa, mas também por Vítor Baía, entre outros, AVB sabe que, por muito que lhe custe, nesta fase terá de deixar as questões pessoais para trás e colocar o clube acima de tudo.

O melhor exemplo foi o simbolismo do abraço a Pinto da Costa no jogo de voleibol feminino. A comunicação tem uma importância cada vez maior na gestão das SAD. Este abraço reforça e simboliza a noção de união que é fundamental para que o FC Porto consiga ultrapassar as dificuldades que está a passar.

Financeiramente, o clube azul e branco está a atravessar uma fase muito complicada que é o reflexo de anos e anos de uma gestão descuidada, irresponsável e pouco profissional. É por aqui que passa o maior desafio do presidente recém-eleito e da sua equipa. A exigência e expectativa dos adeptos em torno de AVB é enorme. Independentemente das dificuldades financeiras crescentes, os sócios estão habituados a ganhar títulos.

Nem todos têm a noção de que implementar mudanças numa organização demora o seu tempo, sendo que no futebol o tempo está, muitas vezes, interligado ao sucesso desportivo. Assim, o maior desafio que AVB e restante equipa terão pela frente é conseguir conciliar resultados desportivos com a imprescindível reestruturação financeira. Para tal, é importante ter um caminho bem definido. Por aqui se percebe a urgência que AVB tem demonstrado em tomar conta dos destinos do clube/SAD. É fundamental para a sua equipa de gestão começar a perceber a verdadeira realidade financeira do FC Porto. Em simultâneo, a nova época está à porta e há muito trabalho a fazer.

Para uma fase posterior deverá ficar a reorganização dos quadros internos, que será fundamental para tornar o clube mais moderno e mais capaz no trajeto de modernização e dinamização que se pretende. Pela urgência e falta de tempo para decisões fundamentais, o mais importante é que tanto AVB como a sua equipa, nas diferentes áreas, consigam passar uma mensagem de credibilidade para credores, fornecedores e para o mercado desportivo. Este poderá ser o caminho que lhes vai permitir criar condições para, desportivamente, enfrentar a próxima época de uma forma competitiva e com ADN Porto.

Num momento determinante para o futebol português, será interessante perceber qual o posicionamento que AVB terá. Pela sua experiência, e por ter mundo, será que vai ter uma abordagem diferente relativamente ao futebol português? A cooperação entre todos os clubes é fundamental para que a Liga possa evoluir.

Contudo, essa cooperação não pode ficar só nas palavras, mas também nos atos. Será que quando estiver pressionado desportivamente vai adotar a estratégia que muitos utilizam e que passa por encontrar um inimigo ou culpado externo?

Por outro lado, relativamente ao tema da centralização dos direitos de TV, será que AVB vai ter uma postura diferente de todos os outros? Será que vai exigir saber qual a evolução e em que estado se encontram as negociações promovidas pela Liga de Clubes? Será que AVB irá ficar satisfeito por, como disse o vice-presidente do Benfica, a Liga ter dado passos interessantes na definição de um produto e na definição de um modelo de comercialização? Quero acreditar que AVB terá uma postura diferente e irá exigir conhecer os avanços que foram dados no sentido de confirmar aquilo que Pedro Proença garantiu, ou seja, que nenhum clube irá ficar prejudicado relativamente à sua situação atual.

Neste sentido, a entrevista dada recentemente por Jorge Pavão de Sousa – diretor geral da DAZN – é um alerta importante para todos aqueles que lideram clubes e que não se preocupam em questionar e perceber o que está a ser feito para potenciar os direitos de TV, nomeadamente a internacionalização.

Ao longo da campanha falou-se regularmente da gratidão que os adeptos portistas deveriam ter pelo seu presidente das últimas décadas. É verdade que Jorge Nuno Pinto da Costa foi essencial para tornar o FC Porto num clube com uma dimensão (dentro do campo) internacional. Também é verdade que está associado a muitas coisas negativas e nefastas que aconteceram no desporto nacional, como por exemplo o Apito Dourado. Em Portugal temos a tendência de endeusar pessoas que se destacam em determinados períodos, mas não olhamos para o resto. Ricardo Salgado, por exemplo, era considerado o mestre financeiro em Portugal!

O que pretendo explicar é que a gratidão ou respeito pelo trabalho de determinada pessoa nunca podem fazer com que a nossa exigência diminua. O trabalho realizado no passado não nos pode impedir de raciocinar, colocar em causa, criticar e estar atentos a tudo o que é feito no presente.

No caso dos adeptos do FC Porto, parece-me que durante muitos anos fecharam os olhos, baixaram a guarda e que, em 2024, despertaram de um sono profundo, com a noção de que a gratidão, o respeito e o reconhecimento pelo trajeto do seu presidente de sempre, os impediram de perceber a dura realidade que o clube vive atualmente.

Paulo Fonseca Está a fazer um grande trabalho no Lille. Apresenta um bom futebol, uma boa organização, valoriza jogadores e valoriza a competição. Foi eliminado nas quartos de final da Liga Conferência pelo (forte) Aston Villa. Está nomeado para melhor treinador da liga francesa.

Vizela Não basta ter um investidor para que as coisas corram bem. A despromoção é o reflexo de uma época mal preparada, com decisões questionáveis que não tiveram em conta a cultura desportiva do Vizela.

Fonte: A Bola

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