A guerra no Sudão transformou a capital, Cartum, em uma cidade fantasma, em contraste com o local cheio de vida e movimento que havia antes. Estas foram as palavras do fotojornalista sudanês Ala Kheir para descrever o que vivenciou quando o conflito eclodiu, em abril de 2023.
Em entrevista para a ONU News, ele afirmou que ficou preso na cidade, que esteve no centro dos confrontos naquele momento, antes de conseguir viajar pelo país com sua câmera para documentar os impactos da guerra na população.
Ruas cheias de cadáveres
Kheir relatou que quando o tiroteio começou em Cartum, não imaginou que a situação pudesse evoluir para uma guerra desta magnitude. Durante os primeiros dias de turbulência, ele sentiu que tudo terminaria em poucas horas, “depois as horas transformaram-se em dias, depois em semanas”.
Quando conseguiu sair da cidade, o local estava “completamente vazio, com as ruas cheias de cadáveres”. O fotojornalista afirmou que ao longo de sua vida documentou muitos deslocamentos e guerras no Sudão, mas o que viu em Cartum nos primeiros dias do confronto é difícil de “esquecer ou superar”.
Kheir disse que foi como se estivesse assistindo a um filme sobre a Segunda Guerra Mundial, com a diferença de que “fazia parte dele”.
Quando conseguiu sair de Cartum, o fotógrafo viajou pelo país com sua câmera, apesar dos riscos, para conhecer “as histórias e sentimentos das pessoas”. Ele disse que isso o ajuda a criar a imagem adequada antes de fotografá-las.
Segundo Kheir, muitas vezes é difícil ouvir o sofrimento que as pessoas passaram, “especialmente mulheres e meninas que sofreram muito, pois foram vítimas de assédio e sofreram de medo”.
Destruição e perda
Nesse processo, ele afirmou que foi capaz de ter uma ideia do sofrimento que essas pessoas passam e dos desafios que enfrentam e usou a imagem “para refletir este sofrimento para o mundo”.
Para Kheir a escala do desastre que os sudaneses estão vivendo é muito maior do que aquilo que tem sido relatado pelos meios de comunicação. De acordo com ele, cada lado tenta eliminar o outro e “o cidadão é quem paga o preço da grande destruição e perda”.
O fotojornalista sudanês, do estado de Darfur do Sul, compartilhou que começou a fotografar como hobby, mas esse interesse rapidamente se transformou em um “vício”. Desde abril de 2023, ele continuou a transmitir para o mundo, através das suas lentes, os detalhes dos acontecimentos que se desenrolaram no seu país.
Nos últimos anos, Khair trabalhou com diversas agências da ONU, incluindo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários, Ocha, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Pnud, o Fundo de População das Nações Unidas, Unfpa, o Programa Mundial de Alimentos, PMA, e a Agência da ONU para os Refugiados, Acnur.
Fonte: ONU