Jim Ratcliffe venceu na disputa pelos 25% do Manchester United contra o xeque Sheik Jassim Bin Hamad Al-Thani, membro da família real do Catar. A Premier League oficializou, em um comunicado publicado na tarde desta terça-feira, que o fundador e diretor geral da INEOS adquiriu um quarto da propriedade dos ‘red devils’ e que investirá cerca de 280 milhões de euros em breve, indicando que se aproxima um mercado de transferências intenso em Old Trafford.
Sua candidatura prevalece, mesmo não sendo a favorita inicialmente. Se o fez, é fruto de uma insistência que tem sido evidente na imprensa britânica não apenas nos últimos meses, mas sim, nos últimos anos. Quando Todd Boehly adquiriu o Chelsea, ele o fez antecipando as intenções de Ratcliffe, que estava ansioso para adquirir um dos clubes de elite ingleses que ele tanto admirava quando jovem. Como fã declarado do time que agora é dirigido por Erik ten Hag, esse movimento se encaixava em seus planos para satisfazer sua ambição e o desejo que o acompanha desde a infância.
Os fãs do “Teatro dos Sonhos” têm motivos para ficarem animados com a janela de transferências daqui a quatro meses, mas o exemplo do clube ‘blue’ é claro: não será suficiente investir de forma faraônica em contratações de três dígitos. A chave do sucesso estará em apoiar uma estrutura diretiva sólida, que tenha clareza sobre sua direção e que incentive o crescimento do talento dentro da entidade. Veja a confiança do Liverpool em Jürgen Klopp ao longo desses anos ou a confiança do Arsenal em Mikel Arteta e as alegrias que isso trouxe.
A aquisição de Ratcliffe representa, também, mais um passo adiante no modelo de multipropriedade no mundo do futebol, que há algum tempo tem influenciado clubes de ponta nas grandes ligas, sendo gerenciado por grandes proprietários que controlam os destinos de alguns clubes destacados e, ao mesmo tempo, de outros menos proeminentes. O City Football Group, por exemplo, administra o Manchester City, o Girona e o Troyes, entre outros, e priorizou que os celestes sejam sua principal equipe. O alvirrubros, sua aposta para o futuro, e os branco-azuis, uma espécie de campo de testes com jogadores que apenas passaram brevemente por suas fileiras. Como resultado, o projeto flerta com o rebaixamento para a Terceira Divisão Francesa.
Com o investimento recém confirmado no Manchester United, não apenas se estabelecem laços com o Nice – da Ligue 1 – ou o Lausanne-Sport – da Liga Suíça -, outros expoentes do portfólio esportivo da INEOS, mas também com esportes distantes da bola. O novo magnata de Old Trafford já tem uma presença robusta no mundo do ciclismo com a INEOS Grenadier; na Copa América de Vela, com a equipe britânica INEOS, ou na Fórmula 1, com a escuderia Mercedes AMG, que geralmente é uma concorrente ao Campeonato de Construtores.
Não seria surpreendente que, em algum momento, haja dinâmicas que conectem essas disciplinas sob o guarda-chuva do empresário, cujas estratégias estão longe de serem casuais. A Copa América de Vela mencionada anteriormente, por exemplo, é um destino atrativo para os aerodinamicistas, peças-chave nos projetos dos carros de Fórmula 1. Adrian Newey, um dos melhores de todos os tempos, de fato, incluiu em sua renovação de 2014 com a Red Bull uma incursão no mundo dos catamarãs. Para isso, ele se aliou ao velejador Ben Ainslie, um dos mais destacados do circuito. Agora, Ainslie faz parte da INEOS. Se Newey quisesse repetir aquela aventura, teria que conversar com a concorrência, com a Mercedes. Aqui, reside um exemplo dessa posição de poder que Ratcliffe desfruta ao diversificar seu dinheiro e que dificilmente teria sido por mera coincidência.
Aplicando isso ao mundo do futebol, os ‘red devils’ não demorarão a trocar informações de ‘scouting’ e até mesmo jogadores, com o Nice ou o Lausanne-Sport. O leitor pode pensar que este último é um destino pouco exigente, mas, afinal, todo talento futuro precisa de minutos para progredir e, quando surgir uma nova pérola em Old Trafford ao longo dos próximos anos, terá um aliado na França e outro na Suíça prontos para lhe dar confiança.
Fonte: Besoccer