Di María estará de saída, mas o Benfica procura preservar uma espécie em extinção
Quando Ángel di María apareceu numa varanda do Estádio da Luz, a oficializar o regresso ao Benfica, mais de uma década depois da transferência para o Real Madrid, muitos adeptos terão antecipado uma pré-reforma ao argentino de 35 anos de idade. Passados mais de seis meses dessa apresentação, já é seguro dizer que o regresso do esquerdino não teve apenas um efeito emocional, teve sustento também no rendimento desportivo.
Com o golo apontado esta sexta-feira ao Boavista – ao qual ainda juntou depois uma assistência para Marcos Leonardo -, Di María até já garantiu a época mais concretizadora de águia ao peito, com 11 golos marcados, aos quais soma três assistências.
Naquele estilo esguio, que lhe valeu a alcunha de Fideo, o argentino passou a carreira toda a fugir a lesões graves, o que lhe permite chegar à beira dos 36 anos em belíssima condição física. É provável que faça menos quilómetros do que na primeira passagem pelo Benfica, mas agora corre com mais critério. E assim sobressai o requinte apurado de um pé esquerdo que passou por algumas das melhores equipas europeias e assinou algumas das páginas mais douradas da história do futebol argentino.
É quase certo que o tempo recuperará a conversa de que Di María deveria correr mais, e não apenas para a frente, mas essa perspetiva, para além de supérflua, renega a génese de um jogador que viveu sempre de desequilíbrios. É o coletivo que deve compensar de forma a que isso seja uma virtude e não um ponto fraco. O treinador do Benfica sabe-o bem, daí que a utilização de jogadores como Di María, Rafa ou mesmo o regressado David Neres tenha quase sempre um contrapeso como João Mário ou Fredrik Aursnes.
No contexto de um futebol em que a individualidade é cada vez mais ostracizada em nome do rigor tático, e no qual os jogadores são orientados para um comportamento padrão, sem espaço para a criatividade, jogadores como Di María são espécies em vias de extinção.
A má notícia é que o argentino parece decidido a deixar a Liga portuguesa no final da época, e está no seu direito, seja para fechar a carreira no país natal, provavelmente no Rosario Central, ou mesmo para ir ganhar dinheiro na hiper-mega-competitiva Liga saudita.
A boa notícia, para quem gosta de imprevisibilidade no jogo, é que o Benfica parece disposto a preservar a espécie. Benjamín Rollheiser e Gianluca Prestianni têm perfis algo distintos, mas podem ser dignos herdeiros da irreverência de Ángel di María (e de Rafa). E com a oportunidade de fazer um estágio de seis meses com o Professor Fideo.
Fonte: A Bola