Anders Andersson, antigo médio sueco jogou no Benfica e Belenenses está encantado com o compatriota; em declarações a A BOLA diz considerar que o avançado devia ficar mais um ano no Sporting
— Em Portugal o nome que está na berra é o de Gyokeres. Já o conhecia antes de assinar pelo Sporting?
— Sim, trabalho com o futebol [é comentador de televisão], tenho de estar atualizado e conhecer todos os bons jogadores [risos]. Estou impressionado com ele. Sinceramente, quando chegou a Portugal não tinha muita certeza de que o Gyokeres fosse fazer o que está a fazer. Ele é muito forte, rápido, também é bom a defender e no contra-ataque, ui, mas o que ele está a fazer é realmente ótimo. É, sem dúvida, um avançado simplesmente excecional.
— Ele chegou, jogou, venceu e está a alcançar números acima da média.
— Parece que o futebol português assentou que nem uma luva a Gyokeres, ele adapta-se bem, é verdade, mas estava habituado a um jogo direto para a baliza, muito por força do que era o jogo do Coventry, no Championship, mas com o que estou mais impressionado no Gyokeres é com as assistências! Não há dúvidas de que chegou na altura exata ao futebol português. O Sporting está muito forte esta temporada, enquanto FC Porto e Benfica parecem-me mais fracos comparado com anos anteriores. Afirmo que o Gyokeres tomou a decisão perfeita em aceitar a proposta que o Sporting lhe fez e desde que chegou a Portugal, já cresceu. Jogou na Championship, fez o percurso dele, mas o jogador tem de ter sempre em mente que tem capacidades para jogar ao mais alto nível e o Gyokeres está mostrar isso, os números dele esta época são realmente impressionantes.
— É um jogador que está a ser muito cobiçado por clubes de renome a nível europeu.
— Apesar de o Sporting ser um grande clube de Portugal e também na Europa, com presenças frequentes em provas europeias, é natural que outros clubes o estejam a seguir, está a dar nas vistas e isso não passa despercebido. Claro que o Gyokeres pode estar nas ligas principais, fala-se muito de Inglaterra, mas, sinceramente também o vejo a jogar em Espanha, tem um estilo de jogo em que trabalha muito para a equipa. No fundo, o Gyokeres é um jogador importante em qualquer liga do Mundo. Sou da opinião de que deveria ficar, pelo menos, mais um ano, mas com o que ele tem vindo a fazer acho difícil que o Sporting o consiga segurar por muito mais tempo. Na Suécia acontece o mesmo, os melhores jogadores vão sempre embora. Há que ver que em Portugal só existem três/quatro clubes grandes e há muitos jogos ao longo da temporada que não são assim tão competitivos, porque a qualidade das equipas é evidentemente inferior.
— Com quem Gyokeres pode ser comparado?
— Hum… Essa pergunta não é fácil [pausa longa]… Talvez se possa comparar Gyokeres a Drogba, embora demonstre mais inteligência, também é um jogador que tem muita força, habilidade no jogo aéreo e muita técnica.
— O Benfica tinha-o referenciado e há relatos de que fez inúmeras observações…
— Gyokeres no Benfica? Claro que sim, quem me dera. O Benfica teve muitos suecos e todos crescemos bem, tenho muita pena que ele não tenha ido para a Luz, por algum motivo não devem ter passado das observações. Nesse capítulo há que dar os parabéns ao Sporting pelo scouting que fez, às vezes as coisas acontecem assim, tudo tem um motivo.
— E na seleção sueca, que papel é que Gyokeres pode vir a assumir?
— A Suécia está a atravessar uma crise na seleção, não se apurou para o Europeu, nem para a Liga das Nações, mas tem três avançados que dão esperança para o futuro. Estou a falar de Alexander Isak [Newcastle], Dejan Kulusevski [Tottenham] e, claro, Gyokeres que, de certeza vai ter mais tempo de jogo e vejo-o a carregar a equipa às costas. São três avançados com muita classe. Há aqui uma grande oportunidade para Gyokeres crescer ainda mais e pode ser um grande estímulo para os restantes jogadores, ganhando simultaneamente experiência e mais sentido de responsabilidade.
— Jogou com Rúben Amorim. Adivinhava que se tornaria num treinador de sucesso?
— Como é possível [risos]? Quando jogámos juntos ele era um jovem, talentoso, certo, mas muito engraçado, parecia que não levava nada a sério, era mesmo difícil vê-lo como um futuro treinador. Quando foi campeão logo no primeiro ano de Sporting fiquei muito surpreendido. Mostrou que está muito mais maduro e não é fácil conduzir um clube como o Sporting. Vai ser um treinador de topo e, mais cedo ou mais tarde, vai dar o salto para o estrangeiro. O Sporting está a jogar muito bem, é um treinador que não tem medo de arriscar nos jovens, isso dá muito eco nos grandes clubes da Europa, faz dele um treinador destemido.
— Ainda mantém contato com os seus antigos colegas de Benfica e Belenenses?
— Com alguns, sim. Recentemente estive com o Nuno Gomes e o Simão [Sabrosa], vamos trocando mensagens sempre que possível, mas, já se sabe, cada um acaba por seguir o seu rumo. Ficam as boas memórias e muitas histórias para contar.
— O seu português está num nível muito bom. Portugal ficou-lhe no coração?
— Sim, adoro Portugal, ainda temos muito amigos aí e tentamos ir, pelo menos, uma vez por ano para matar saudades, no ano passado não conseguimos ir, vamos ver se durante o corrente ano dá para irmos. Vivemos durante dois anos em Alcântara, que saudades daquele sol maravilhoso. Agora estou farto do inverno da Suécia [risos], vivo no sul [Malmo ] e tem estado a nevar, algo que já não acontecia há vários anos.
Fonte: A Bola