Quando, em 2008, o ano civil se iniciou era pouco crível que, entre outros marcos desportivos, o surgimento do projecto social-desportivo Lázio Basket pudesse ganhar uma dimensão enorme e impactar a vida de rapazes e raparigas órfãs e com dificuldades de inserção social.
Hoje, volvidos quinze anos, os mentores, quando fazem um “back at the time”, ou melhor, recuam no tempo, não somente se mostram orgulhosos por terem contribuído para reter rapazes e raparigas desfavorecidas com a prática de desporto, bem como atribuição de bolsas de estudo.
Se no campo social há um ganho pelo facto de algumas atletas que deram os primeiros passos no basquetebol, integrando o projecto no bairro do Zimpeto, terem tido bolsas e se terem formado, estando algumas delas hoje nos EUA e em Portugal, no campo desportivo, pode-se, igualmente, regozijar.
Isto porque, em Novembro deste ano, a equipa sénior feminino da Lázio ocupou o terceiro lugar na Liga Sasol, portanto, a melhor classificação de sempre nestes quinze anos de percurso no desporto nacional.
Mas mais do que reclamar feitos desportivos, projecta-se agora, e sempre olhando para o bem-estar da rapariga e conjugando desporto-escola, a expansão para outros pontos de Moçambique, com particular enfoque para Cabo Delgado. Sim, Cabo Delgado, porquanto se olha, com sentido de solidariedade, para a necessidade de dar oportunidade a rapazes e raparigas vítimas do terrorismo que perderam seus familiares.
“O nosso objectivo, este ano, era chegar ao terceiro lugar. Mas é um objectivo que resulta de um percurso que construímos juntos com o director técnico, Cleiton Chissico. Fez um trabalho extraordinário com um grupo de meninas que agora já são senhoras, atletas, e que cresceram juntos. E, depois com reforços de duas jogadoras de fora, ficamos em terceiro lugar na Liga Sasol. Ano passado, tivemos um quinto lugar. Entrámos na Liga Sasol e confirmámos a nossa presença no campeonato nacional. Este ano, o nosso objectivo passava por ficar em terceiro lugar, e, felizmente, conseguimos alcançar este objectivo. Estamos satisfeitos, porque construímos isso com desempenho, construímos com treinamento duro e, sobretudo, com uma grande motivação das nossas atletas”, começou por dizer Simone Santi, presidente da Lázio.
ACADEMIA E PAVILHÃO NA ORDEM DO DIA…
Com um total de 33 bolsas de estudo, hoje, o projecto pretende continuar a ser uma rampa para projectar jovens com talento. Talento, esse, que deve ser explorado em paralelo com a academia e valores sociais. “O projecto, na verdade, foi criado em 2008. Temos a Lázio Basket na Itália desde 2007, que é no âmbito do apoio desportivo a Lázio. A Lázio é conhecida como uma equipa de futebol, isto no âmbito da política desportiva que tem 92 disciplinas. Em Maputo, iniciámos o projecto em 2018, no Colégio Arco-Íris, com projectos basicamente sociais. A nossa ideia era integrar rapazes e raparigas dos orfanatos num trabalho em parceria com os bairros. Naquela altura, o nosso projecto estava ligado ao bairro do Zimpeto. Depois, expandimos para os bairros Mussumbuluco, Matola, Unidade 7, assim como outros, tais quais Dom Bosco. O projecto cresceu até chegarmos, hoje, aos oito centros diferentes, onde o mini-basket continua a ser um projecto essencial. Mas, depois, quando eles melhoram as suas capacidades e crescem, sobem para jogar na alta competição. Então, neste momento, temos 400 atletas. Saímos da cidade para integrar e enquadrar aqueles rapazes e raparigas dos bairros. Vamos construindo o nosso projecto passo a passo. A parte feminina cresceu muito.”
Uma das apostas para o fortalecimento do projecto foi, sem sombra de dúvidas, o trabalho desenvolvido por Cleiton Chissico, um elemento que trabalhou desde sempre na base. Continuar a trabalhar com as igrejas afigura-se como determinante para incutir valores sociais nos jovens que fazem parte do projecto.
“O nosso leque de treinadores cresceu, igualmente, uma vez que temos agora dezasseis treinadores nacionais, que trabalham sob a direcção de Cleiton Chissico. Estamos a crescer passo a passo. O projecto continua a ser de apoio ou cariz social. Continuamos a trabalhar com Dom Bosco, Igrejas e escolas. Mas, igualmente, virou um projecto com grande satisfação ao nível de alta competição e, podemos dizer, num patamar semi-profissional. A nossa grande satisfação, hoje, é contar com 33 bolas universitárias em Maputo. Temos dois atletas que já foram para os EUA com bolsas de estudo. E, recentemente, uma nossa atleta foi para Portugal com uma bolsa de estudo. Imaginas que as duas atletas que estão nos EUA não têm mãe nem pai.”
O céu é o limite. O projecto cresceu e, em consequência disso, desenham-se novos horizontes, que passam por construir uma academia e ter infra-estruturas desportivas próprias. “Vamos ter a nossa academia da Lázio. Estamos a tratar das coisas para termos o nosso campo. Já temos um espaço com a Comunidade Santo Egídio na zona do Zimpeto. Passo a passo, queremos construir a nossa casa, porque, neste momento, estamos com muitos campos onde trabalhamos e não temos casa própria. Para ter sustentabilidade de um projecto, precisamos de ter casa própria. Falamos do bairro do Zimpeto, porque é neste bairro onde tudo se iniciou. Para termos sustentabilidade, precisamos de ter casa própria”, frisou.
E destacou que os italianos, com o “Progreto Collores”, foram motivo inspirador. “Trata-se de um projecto que integra diversas nacionalidades. Chegamos a ter 1637 atletas de diferentes nacionalidades. Sabes que na Europa existe o racismo e imigrantes. Portanto, fazer jogar imigrantes, crianças de famílias que vieram das Filipinas, Nigéria, Brasil, ajuda, naquela faixa etária, porque elas se divertem e se ocupam. Este ano, entrou um patrocinador novo, que opera em Moçambique. Por acaso, estive em Dubai na semana passada, onde mantive encontro com eles. Estamos a juntar amigos e patrocinadores para fazer crescer este projecto. Temos quatro atletas que estão a estagiar connosco. Uma semana antes da fase final da Liga Sasol, uma atleta nossa informou que entrou numa grande empresa de petróleo e gás, uma multinacional. Ela era capitã da equipa, ficou com o calendário de trabalho apertado e não podia jogar”, destacou.
O projecto, sem o apoio de figuras e singulares, não teria o mesmo impacto. “Temos de agradecer a Clarisse Machanguana, que foi nossa madrinha na Itália. Temos, igualmente, que agradecer a Nica Laila Gemo, que é nossa madrinha nos EUA. Estamos a projectar trabalhar em Cabo Delgado, estamos a ver a possibilidade de iniciar actividades lá e na Beira. O nosso projecto vai para outros pontos do país. O nosso objectivo, em Cabo Delgado, passa igualmente por colocar projectos para dar mais espaço às pessoas para praticarem desporto”, finalizou.
Fonte:O País