A nomeação de Raúl Domingos, antigo negociador chefe do AGP pela Renamo, como Embaixador extraordinário e Plenipotenciário de Moçambique na Santa Sé, está a ser assumida nos corredores diplomáticos, como um dos exemplos mais elucidativos do processo de reconciliação entre os moçambicanos.
Segundo relato do próprio, a sua curta experiência como embaixador já lhe permitiu perceber que a trajectória e práticas do processo de paz e reconciliação em Moçambique é rara em África, onde muitas vezes é difícil afastar o espectro da desconfiança entre os intervenientes.
Intervindo há momentos no painel sobre experiências de Moçambique na construção da paz, Raul Domingos partilhou a sua experiência pessoal como interveniente na negociação do AGP, tendo se referido ao elemento “confiança entre as partes” como determinante para o sucesso de qualquer processo de paz e reconciliação.
Na sua intervenção, o embaixador Raul Domingos referiu-se a pormenores sobre a trajectória do processo negocial, iniciado em 1990 e só concluído dois anos depois com a assinatura do AGP, recordando episódios envolvendo os diversos actores cuja intervenção permitiu o alcance do acordo entre o Governo e a Renamo.
Segundo contou, depois de as duas partes terem alcançado um consenso de base sobre os pontos a discutir na mesa de negociações, seguiu-se uma discussão em torno do palco das discussões, tendo sido consideradas opções como Harare, no Zimbabwe. Nairobi, no Quénia, e Blantyre, no Malawi.
“Este é um dos pontos que, na minha experiência, é crucial, e que foi crucial para o sucesso no processo moçambicano. É preciso encontrar um espaço onde todas as partes se sintam à vontade. O Governo propunha Harare, a Renamo, o Quénia, mas tudo veio a acontecer em Roma, na Itália…”, explicou Raul Domingos.
Fonte:Jornal Notícias